Produção de leite e carne apresenta queda de 33% e 26% respectivamente, com a lavoura ficando com a maior parte, segundo Emater

Jornal O Norte
17/02/2006 às 10:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:29

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Situação séria e exorbitante. É assim que a Emater define a temporada do veranico na região, segundo o técnico em agropecuária José Arcanjo Marques. O veranico, estação seca dentro de uma estação chuvosa, com temperaturas altas e baixa umidade relativa do ar, deste ano foi um dos mais longos desde os anos de 1994/1995, conforme a Emater. Esse dado tem causado perdas significativas para os produtores da região.

Um levantamento da atual situação da seca realizada em 86 municípios do Norte de Minas revela que, até o período da seca compreendido entre junho e novembro, muitos animais podem morrer por falta de alimento e muitas lavouras podem não vingar. Graças aos pequenos índices pluviométricos na região, 408 milímetros registrados até o final de janeiro deste ano, a agropecuária poderá ser afetada. A média pluviométrica da região é de 650 milímetros, o que significa uma redução de 250 mm nessa temporada.

O técnico lembra que, em algumas regiões, a chuva deu seu ar da graça ainda em dezembro.

QUEDA DA PRODUÇÃO

Nesse mesmo relatório da Emater foi constatado que a estiagem provocou a queda da produção tanto na agricultura quanto na pecuária. As lavouras de arroz, feijão, milho, sorgo granífero e algodão tiveram acentuada perda, o equivalente a média de 74% da produção. A produção de leite e carne também foi afetada. Como não chove na região há cerca de 50 dias, a capacidade de suporte das pastagens também está baixa. A produção de leite e carne apresenta quedas de 33% e 26%, respectivamente.

O aconselhável, na visão de Arcanjo, é que os produtores da pecuária façam uma reserva de alimentos, a exemplo da silagem, para que os animais não morram de fome nem sede; apesar de a reserva de água no solo está diminuindo.  

O tempo requer paciência, já que o produtor tem que esperar as chuvas para que as plantas voltem a crescer.

- Estamos em época de engorda do gado e em dois meses entramos no tempo de safra do boi gordo, mas, até mesmo os produtores estão cientes de que se agora a situação está difícil, o que dizer quando chegar o tempo da seca de verdade...

Outra opção, na opinião de Arcanjo, é que os pecuaristas comecem a fazer a retirada de animais da propriedade. Ele acrescenta:

- Se um produtor tem, hoje, 100 animais em sua propriedade, dada a situação atual, o aconselhável é que ele venda alguns, mesmo porque já estamos entrando no mês de março e os pastos estão desgastados e, sem chuva, a situação complica ainda mais. O ideal é que, nesse exemplo, o proprietário tenha em média 60 animais, para que todos não morram de fome, mesmo que apresentem perda de peso.

IMPACTO NA ECONOMIA

A Emater conta que a estiagem está causando um impacto significativo na economia do Norte de Minas e que, até o período da seca, é bom que chova, senão o cenário da agropecuária estará ainda mais complicado.

Para o professor da disciplina de Forragicultura e Pastagens do curso de Agronomia da Unimontes, Virgílio Mesquita Gomes, a pastagem está carente de nutrientes. O pasto precisa que o solo tenha água e, nesse momento, esse recurso da natureza está muito baixo. A saída para manter a boa alimentação do gado seria a silagem baseada de cana com uréia e nas propriedades que têm produção de tomate ou de outros alimentos, pode-se fazer a polpa. Tudo para que o animal não fique desnutrido.

O veterinário Denis Lúcio Cardoso comenta que o que pode ser visto é a infestação de pragas no campo, especialmente nos pastos.

- Os pastos estão com a cor amarelada, indicando que estão carentes de nutrientes e precisando urgentemente de chuva – diz.

Denis diz ainda que a desnutrição e doenças como a brucelose e a febre aftosa são as principais causas de mortandade de gado e os produtores devem se ater às medidas de precaução.

SURPRESA

O Norte de Minas tem hoje um plantel de 2.270 milhões de cabeças de gado.

O professor garante que há muito a região não enfrentava um período tão longo de estiagem, o que pegou muita gente de surpresa. O ideal é que o produtor utilize alimentação alternativa, como o uso de sal proteinado à base de farelo de sorgo, caroço de algodão no cocho.

Outra solução é para quem tem uma área de reserva nativa na propriedade. Virgílio assinala que as reservas ambientais das propriedades da região são ricas em leguminosas nativas, oportunidade em que o gado pode ficar à solta no pasto.

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