Produtores rurais correm atrás do prejuízo acumulando outras atividades

Jornal O Norte
21/02/2008 às 17:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:25

Valéria Esteves


Repórter

Nesse tempo em que o campo enfrenta dificuldades com a seca e situações adversas como a dificuldade de acesso ao crédito as perdas são intensas. Segundo seu Antônio Lobato, de Grota do Sal, distrito de Montalvânia tudo o que ele plantou na última safra perdeu. Sobraram apenas as dívidas. E por falar em dívidas o Cepea- Centro de estudos avançados em economia aplicada, da Esalq/USP - Escola superior de agricultura Luiz de Queiroz revelou que nos últimos dez anos os produtores brasileiros deixaram de ganhar R$ 1 trilhão, devido à queda real nos preços das commodities agrícolas.

Cálculo dos preços agrícolas deflacionados pelo IGP - Índice Geral de Preços medido pela Fundação Getúlio Vargas aponta uma queda real de 40% nos últimos dez anos.

A queda nos preços agrícolas favoreceu os consumidores, que ganharam com isso, afirmou Geraldo Barros, coordenador geral do Cepea em nota publicada pelo Valor econômico. Ele observa que, no ano passado, essa transferência de ganhos para outros elos da cadeia (atacadistas, varejistas e consumidor final) foi de R$ 150 bilhões.

Para Barros, a redução de ganhos no campo foi maior no Brasil que em outros países, devido a fatores locais. Um deles é o fato de o índice de crescimento do consumo ter sido inferior à queda nos preços - o valor dos produtos recuou e não houve compensação em volume de vendas.

- O mercado interno fraco motivou o aumento das exportações, que também tiveram seus preços prejudicados pela valorização do real, disse Barros.

Marcos Sawaya Jank, presidente do Ícone - Instituto de estudos do comércio e negociações internacionais acrescentou que o superávit da balança comercial agrícola brasileira é alto (de US$ 25 bilhões) e que esse saldo funciona como fator de valorização do real sobre o dólar. Ainda mais nesse momento em que a economia norte americana está em crise.

- O real valorizado é uma situação sine qua non. Não vai mudar. É preciso pensar estratégias que tornem a cadeia mais competitiva dentro do cenário atual, diz.

Especialistas dizem que em vários territórios do Brasil a agricultura, tanto quanto a pecuária ficaram prejudicadas. Na região Nordeste e Norte de Minas esse exemplo é bem claro, onde nesse momento os produtores padecem com a seca verde, (tempo das águas, com resquício das perdas do período de estiagem). 

Atrás do prejuízo

Apesar das perdas os pequenos agricultores, mais afetados com as perdas na lavoura estão se desdobrando para continuar sustentando a família. A história de seu Antônio é boa de ser contada. Ele comerciante, produtor rural e agora inventou até de ser taxista em Grota do Sal. É uma história de crescimento gradativo, onde a demanda por sobrevivência, nesse caso relativa à agricultura familiar, uma mercearia e mesmo o taxi apareceram como necessidade da comunidade que tem cerca de 30 famílias.

- O Táxi é o negócio mais novo que tenho porque os aposentados e alguns doentes precisavam ir pra cidade consultar e tratar de outros assuntos. Mas comprei o carro com a venda de 12 novilhas que comprei com o financiamento do Banco do Nordeste. Primeiro, peguei R$ 1.500 investi na mercearia; sendo que do lucro da produção de milho, feijão e outros também aproveitei para colocar nesse negócio meu. Pois quitei esse, e tomei mais R$ 1 mil e juntei com um lucro mensal de R$ 600 que tiro da mercearia para comprar as novilhas que, depois de 1 ano e 600 meses vendi ao preço de R$ 5 mil. E agora sou dono de um carro que virou táxi, e vou tomar mais empréstimo para ajudar meus negócios crescerem. Lá em Grota do Sal todo mundo tem hoje uma vaquinha comprada com o dinheiro do Banco, conta.

Investimentos

O presidente do ícone disse ao Valor que o aumento de investimentos governamentais no que classifica como bens públicos, ações que beneficiam toda a cadeia produtiva, como gastos com defesa sanitária, pesquisa e desenvolvimento e extensão rural.

Ele também sugere que seja feito um monitoramento do uso de verbas públicas nos programas voltados ao setor agrícola e mudança no foco de gastos, com redirecionamento dos desembolsos para cadeias específicas que demandam recursos, como a fruticultura do Vale do São Francisco.

Defende, ainda, uma posição mais agressiva nas negociações internacionais, o desenvolvimento de sistemas de rastreabilidade e certificação e respeito às leis de proteção de contratos e direitos de propriedade. Para os produtores ele sugere a adoção de mecanismos de gestão de risco seguro rural e operações de hedge cambial.

Félix Schouchana, diretor de derivativos agropecuários da BM&F-Bolsa de Mercadorias e Futuros sugere uma flexibilização na liberação de recursos pelos bancos para estimular as operações de hegde, como o oferecimento de juros mais baixos a produtores que adotem mecanismos de gestão de risco de preço e seguro rural. Feliz que já esteve em Montes Claros falando sobre investimentos no meio rural, durante realização do I Agrinvest e já alertava os produtores quanto a observar as cotações da balança comercial e quanto a alta constante dos juros. (Com informações do valor econômico)

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