Produtores voltam a protestar contra o governo: tem quem ainda não se satisfez com o pacote de R$ 50 bilhões em financiamento

Jornal O Norte
01/06/2006 às 11:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:36

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Não satisfeitos com os pacotes e com o adiamento das dívidas com bancos, produtores rurais dizem que em alguns estados, como no Paraná, o prazo para quitação das dívidas foi de 04 anos, considerado pequeno; mesmo porque ainda continuam devendo, e muito, para os fornecedores de insumos.

Tanto no Mato Grosso do Sul, onde as rodovias voltaram a ser fechadas pelos produtores, quanto no Paraná, onde a agricultura é o carro-chefe da produção, os protestos já se manifestam nas BRs. Os produtores afirmam que não estão inadimplentes apenas com o sistema bancário, mas também com fornecedores de insumos. Eles aguardavam uma linha facilitada de financiamento para esse fim.

De acordo com a Faep - Federação da agricultura do estado do Paraná, naquele estado há pelo menos 80 mil produtores rurais com esse problema. Mas não há unanimidade sobre a forma de pressão a ser utilizada. Alguns entendem que o fechamento de rodovias e de ferrovias, que foi estendido por cerca de 15 dias, não surtiu os efeitos desejados e precisa ser trocado por medidas mais radicais que atinjam diretamente o governo. A decisão sobre a nova forma de pressão, que conte com o apoio da maioria dos sindicatos rurais e que tenha repercussão em outros estados, ficou de ser tomada na reunião que aconteceu ontem.

O presidente da Sociedade rural de Montes Claros, Alexandre Vianna, diz que protestos não devem se estender à região pelo fato de o pacote do governo ter atendido às reivindicações dos pecuaristas. Diz ainda que os protestos voltaram a acontecer nos outros estados devido ao setor da agricultura, que sofreu mais perdas.

Quando da realização de protesto no Norte de Minas, o presidente do Sindicato rural de Montes Claros, Júlio Pereira, lembrava que, paralelamente aos problemas econômicos e financeiros que vêm afetando a produção agrícola do país nos últimos anos, as questões ambientais impõem aos agropecuaristas diversas limitações para um melhor aproveitamento das áreas que poderiam se tornar produtivas.

- Não somos contra o cumprimento da legislação ambiental, mas é necessário que sejam encontradas soluções adequadas para que os produtores rurais tenham condições de manter suas atividades no campo, sejam em pequenas, médias ou grandes propriedades. Se isto não acontecer, a tendência será haver uma redução cada vez mais acentuada da produção agrícola, o que resultará na demissão de trabalhadores, a redução da oferta de alimentos para a população e o agravamento da situação econômica e social do país.

De acordo com o presidente da Sociedade rural de Montes Claros, o governo federal não estava sendo sensível à causa dos produtores que estão endividados com os bancos do Nordeste e do Brasil. Todas as dívidas foram corrigidas pela TJLP - Taxa de juros a longo prazo e se aproximam de R$ 20 bilhões.

O plano anunciado na semana passada pelo governo prevê R$ 50 bilhões em financiamento para a agricultura. Na safra passada, foram R$ 44,35 bilhões. O plano incluiu medidas para reduzir os custos de produção, mas não foi considerado suficiente pelos agricultores.

Enquanto isso, líderes das entidades representativas do setor devem continuar a discussão política em Brasília. O presidente da Ocepar - Organização das cooperativas do Paraná, João Paulo Koslowski, anunciou que participou de reuniões na quarta-feira para tentar ampliar as medidas já anunciadas.

Entre os objetivos da entidade está a inclusão de culturas não contempladas na prorrogação de custeio, como feijão e mandioca, além da pecuária; o aumento no prazo de recomposição das dívidas para 10 anos, com taxa de juros de 3% ao ano; e criação de linha de crédito a taxa de juros de 8,75% ao ano para prorrogação de dívidas não contempladas pelas medidas, oriundas da compra de insumos.

EM MOC

Quando da realização dos protestos em Montes Claros, Alexandre Vianna ainda lembrava que a manutenção da produção agrícola nacional, bem como dos empregos no campo, está se tornando inviável devido ao crescente endividamento dos produtores rurais. Isto porque enquanto os custos de produção aumentam gradativamente, a remuneração da atividade está caindo, sobretudo em virtude da redução do valor do dólar em relação à moeda brasileira, o que afeta diretamente as exportações.

Além disso, disse, as péssimas condições das estradas dificultam o escoamento da produção agrícola e aumentam os custos para os produtores rurais com a elevação do preço do frete.

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