A gente até já considerou isso em outras crônicas. E, num momento onde o mundo é dominado pelo ódio e pela opressão etnico-racial das classes tidas como menores, vemos mais uma vez o assunto ser trazido à tona nos meios de comunicação.
Em 2014, o Grêmio porto-alegrense teve um episódio que envolveu o goleiro Aranha, da Ponte Preta, e a torcida gaúcha. O fato culminou com a punição da jovem torcedora que, em rede nacional, por meio de leitura labial, chamava o goleiro do time paulista de “Macaco”.
Em meio ao “fuzuê” formado após o incidente, voltam as redes sociais outro episódio envolvido novamente a torcida gremista onde uma montagem de foto mostra duas torcedoras negras do Bahia e quatro ou cinco torcedoras brancas do time de Porto Alegre em outra foto com a legenda: “Ainda tem gente que acha que time é tudo igual”.
O periódico “Observatório Racial do Futebol” explica que é sabido por todos que o “racismo acompanha o futebol brasileiro desde seu início. Jogadores negros não eram admitidos em muitos clubes, por conta do caráter aristocrático do esporte nos anos que sucederam sua chegada ao país. “Há imprecisão sobre qual foi o primeiro clube brasileiro a admitir negros em seu plantel. O fato é que Bangu e Ponte Preta podem ter sido os primeiros a contarem com negros, mas foi o Vasco da Gama o protagonista na inclusão do negro no futebol, entre os anos de 1923 e 1924. Seu time contava com 12 atletas negros, e conquistou o título carioca em 1923, o que gerou insatisfação pelos demais clubes tradicionais, como América, Botafogo, Flamengo e Fluminense, que formaram uma liga alternativa, exigindo que o Vasco expulsasse seus atletas negros para que pudesse ser a ela admitido. O Cruzmaltino não cedeu, e acabou por entrar na nova liga com todos os atletas negros que quisesse”.
Refaço as mesmas reflexões feitas na “Sapatada” há dois anos, no caso Grêmio-Ponte Preta: nos perguntamos por quê, numa sociedade que teoricamente condena o racismo, as pessoas não se sentem constrangidas por nenhum momento em manifestar seu preconceito?
Por quê isso? Por que tantas pessoas que se dizem cristãs, defensoras da paz e do amor, que na sua base familiar-religiosa aprenderam que todas as raças e suas variedades vieram de um único ser, de um único homem, por que estas mesmas pessoas quando vão aos estádios, esquecem toda a sua origem e, sem o menor pudor, entoam cânticos e xingam e esbravejam com toda a sua força, que este ou aquele é “preto” ou “macaco”?
A resposta, parece ser algo que transcende o espírito humano e parte para o campo das forças ocultas existentes no universo. Apenas esta seria a explicação plausível para tanta barbárie quando se fala tanto em paz.