Reassentados de Irapé vão cultivar plantas medicinais

Jornal O Norte
29/05/2008 às 11:33.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:33

Agricultores familiares atingidos pela hidrelétrica de Irapé, no Vale Jequitinhonha, descobriram no cultivo de plantas medicinais, uma saída para cuidar da saúde de membros de suas comunidades. Também passaram a vislumbrar uma fonte de renda futura, com a comercialização das ervas para laboratórios fitoterápicos. O projeto Capacitação em produção e uso de plantas medicinais, está sendo executado pelo Instituto de Ciências Agrárias da UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais em parceria com a Emater/MG- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais. Nessa primeira etapa, extensionistas e alunos de graduação e pós-graduação de Agronomia e Zootecnia realizam visitas a 12 comunidades da região.

Segundo o gestor do projeto de Reassentamento da Usina de Irapé, da Emater-MG, João Carlos Guimarães, a proposta é que até a conclusão do projeto, em outubro de 2009, sejam implantados hortos medicinais pelas associações representativas dos agricultores. - Espera-se que ao final sejam construídos 24 hortos medicinais e se avance na comercialização das ervas, diz. De acordo o gestor, a capacitação vai servir de projeto piloto ampliado, aproveitando-se de um costume local dos moradores que sempre plantaram ervas para consumo próprio. Os reassentados vão ampliar o conhecimento que já tinham, reconhecendo e reproduzindo inclusive outras plantas medicinais, além de disseminar esse novo saber para demais agricultores interessados- frisa João Carlos.

Segundo o extensionista de Capelinha, Carlos Alberto Osório Martins, integrante da equipe da Emater-MG, que presta assistência direta aos reassentados de Irapé, o incentivo à plantação de ervas medicinais surgiu a partir da experiência de 15 jovens da Fazenda São Bartolomeu, no município de Itamarandiba.

- Esses jovens já plantavam hortelã, guaco, maracujá passiflora, babosa e outras ervas em uma pequena área, totalizando 32 espécies. O pessoal tem tradição. Os mais antigos costumavam ter uma farmácia caseira- revela Carlos Alberto.

O coordenador do Projeto na UFMG, o professor e vice-diretor do Instituto de Ciências Agrárias, Ernane Ronie Martins, diz que a idéia do curso de capacitação é treinar dois agricultores de cada comunidade para que eles se tornem multiplicadores do conhecimento em seu ambiente. O curso será ministrado por professores da UFMG, UFOP, Unimontes e outras instituições educacionais parceiras, na UFMG, em Montes Claros, nos meses de agosto e novembro deste ano e em março de 2009. A capacitação será ministrada em três módulos de 40 horas. O projeto terá o apoio de dois bolsistas do CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Técnologico e 12 dos cursos de graduação em Agronomia e Zootecnia, contemplados com bolsas do PET- Programa de Educação Tutorial. Os estudantes vão atuar na pesquisa das plantas cultivadas pelas comunidades e na produção de mudas e implantação dos hortos.

UM POUCO DE HISTÓRIA

De nome oficial Hidrelétrica Presidente Juscelino Kubitschek, a barragem de Irapé, situada no Vale do Jequitinhonha, entre os municípios de Grão Mogol e Berilo, pertence a Cemig- Companhia Energética de Minas Gerais. Ela começou a ser construída em abril de 2002, sendo inaugurada em junho de 2006. Mais de 630 famílias de pequenos produtores rurais, desalojadas pela construção do reservatório de água, aceitaram ser reassentadas em fazendas de municípios da região. Um dos termos de acordo firmado entre o Ministério Público, Governo do Estado e Comissão de Atingidos, prevê que a Emater-MG garanta assistência técnica e extensão rural aos atingidos por um período mínimo de oito anos. Para tanto, a empresa pública de extensão rural disponibiliza oito equipes de técnicos. São atendidas em torno de 80 a 90 famílias por equipe. O trabalho da Emater-MG começou em 2003 e vai até setembro de 2010.

As 637 famílias reassentadas estão organizadas em 28 associações e distribuídas em 17 municípios, nas duas margens do lago formado pela barragem da Usina de Irapé. O processo de atendimento dos assentados culminou no PDRs- Plano de Desenvolvimento Sustentável dos Reassentamentos. O Plano foi desenvolvido de forma participativa pelas equipes da Emater-MG e as famílias nas localidades de origem, por meio do conhecimento da realidade, reuniões para discussões de projetos futuros de interesses do grupo, levantamento de dados socioeconômicos e culturais. O objetivo é garantir a preservação da identidade, respeitando suas formas de vida, cultura, tradições, história individual e coletiva das famílias.

Assim, o curso de capacitação na produção sustentável e uso de plantas medicinais e aromáticas em Irapé, nasce da perspectiva de qualificação dos trabalhos de saúde e meio ambiente, a partir da integração de conhecimentos tradicionais e científicos. Cada agricultor treinado vai receber um kit com equipamentos e produtos para a fabricação de fitoterápicos, além da incumbência de repassar os conhecimentos aos interessados, segundo o professor Ernane, da UFMG.

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