Os rebeldes avançavam neste sábado na Síria, em uma tentativa de conquistar bases aéreas do regime de Bashar al-Assad para privar o governo de sua principal arma no conflito, na véspera de uma importante reunião da oposição no Qatar. Após a condenação internacional de vídeos que mostram rebeldes matando soldados a sangue, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) postou novas imagens, rodadas segundo a organização em outras regiões do país, que mostram defensores do regime do presidente Bashar al Assad executando prisioneiros rebeldes e mutilando seus corpos.
Este sábado, os insurgentes controlaram durante algumas horas uma base da defesa antiaérea e executaram um ataque contra o aeroporto militar de Taftanaz, na região de Idleb (noroeste). Também assumiram o controle do depósito de armas da base de Duila, mas não levaram os mísseis, muito pesados, e foram obrigados a abandonar o local quando a aviação bombardeou a área, segundo vídeos exibidos pelos militantes.
Outras brigadas da oposição armada atacaram o aeroporto militar de Taftanaz, segundo vídeos divulgados pelos insurgentes. A rebelião também ganhou espaço em Duma, perto de Damasco, ao assumir o controle de três importantes edifícios do exército, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Para Thomas Pierret, especialista em Síria da Universidade de Edimburgo, "os avanços dos rebeldes no norte parecem irreversíveis".
"Desde a tomada da cidade estratégica de Maaret al Numan há três semanas, o regime não faz mais do que perder terreno na região e as forças que o regime mantém no norte se dedicam por completo à defesa de Aleppo", a grande metrópole cenário de intensos combates desde julho.
No entanto, segundo o especialista, os avanços dos rebeldes em Duma são mais frágeis.
"É uma demonstração de força dos rebeldes, que retomam a iniciativa, e seus avanços destacam também a falta de efetivos do exército, incapaz de manter suas posições em médio prazo. Mas o regime mantém em Damasco tropas leais suficientes, bem treinadas e bem equipadas para realizar contraofensivas devastadoras", avaliou Pierret.
Este sábado, pelo menos 116 pessoas morreram no país em episódios de violência, sendo 21 soldados mortos em combate, segundo um balanço provisório do OSDH, radicado no Reino Unido, e que coleta dados de uma ampla rede de militantes e fontes médicas. A organização contabiliza mais de 36.000 mortos desde março de 2011, quando começou a revolta popular que se tornou luta armada contra a repressão do regime de Bashar al Assad.
Apesar dos avanços da rebelião no campo de batalha, a oposição continua desorganizada. No domingo começa em Doha uma conferência decisiva que reunirá a principal coalizão no exílio, o Conselho Nacional Sírio (CNS), e outros opositores, com a mediação da Liga Árabe. Segundo informações não confirmadas, a conferência pode anunciar a formação de um governo no exílio dirigido por um veterano da oposição, Riad Seif.
Em Amã, Jordânia, 20 figuras importantes da oposição síria, incluindo Seif, representantes curdos, dos partidos de esquerda, da Irmandade Muçulmana e dos ulemás, descartaram a possibilidade de diálogo com o regime sem a saída do presidente Bashar al-Assad e reafirmaram a vontade de unir a oposição, segundo um comunicado. Em Damasco, o jornal governamental As Saura afirma que não existirá uma negociação com o CNS, que define como um grupo de mercenários. Na véspera da reunião de Doha, o governo dos Estados Unidos tentou acalmar os ânimos ao negar que deseje impor suas posições ao CNS, como denunciou a oposição depois das declarações da secretaria de Estado Hillary Clinton pedindo que a oposição represente "todos os sírios".
Depois do escândalo provocado pelo vídeo de rebeldes torturando soldados, o OSDH divulgou neste sábado vídeos de combatentes partidários do regime de Assad executando prisioneiros rebeldes com armas automáticas e depois cortando as orelhas das vítimas. Um primeiro vídeo, que segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, foi filmado em julho na região de Latakia (noroeste), mostra um homem com uniforme militar exibindo uma orelha e uma faca enquanto ri para a câmera.
Um pouco mais longe, sete corpos mutilados aparecem no chão. Aparentemente estão mortos. Em meio a um grupo de homens com trajes militares, um deles se aproxima dos corpos e corta uma orelha com uma faca.
Outro vídeo, com data de fevereiro e filmado em Deraa (sul), mostra indivíduos, alguns com roupas civis e outros com uniforme militar, atirando com armas automáticas contra homens apresentados como rebeldes.