Volto a abordar aqui, nesta conversa semanal com vocês, um tema que me é muito caro e muito me preocupa: a requalificação do hipercentro de Belo Horizonte, onde nasci, cresci e moro. Em 27 de março, a prefeitura da capital anunciou uma série de medidas para recuperar a área. A principal delas é a retirada, em 60 dias, de mais de 640 ambulantes que ocupam as calçadas e cruzamentos em diversos pontos da região.
Entretanto, alguns dias após o anúncio, o Ministério Público negociou com a administração municipal a ampliação do prazo de retirada dos ambulantes para 90 dias, além de apresentar uma série de sugestões destinadas a garantir que os vendedores sejam realocados e tenham seus direitos respeitados. Com isso, a prefeitura ganhou um mês a mais para cumprir a promessa feita aos moradores da capital.
Mas, mesmo com a dilatação do prazo, que se encerra dia 27, creio que a PBH terá muita dificuldade em cumprir a meta, e não será por falta de empenho ou de capacidade do corpo técnico encarregado de retirar e realocar os ambulantes. Já manifestei em várias ocasiões o respeito que tenho pela secretária municipal de Serviços Urbanos, Maria Fernandes Caldas, extremamente competente e conhecedora profunda dos problemas do hipercentro.
Porém, a questão dos ambulantes é bem mais complexa do que aparenta à primeira vista. Não se trata apenas de conseguir trabalho para as pessoas que hoje comercializam os mais diversos produtos nas ruas do Centro. Há toda uma rede de ilegalidade que sustenta esse tipo de atividade e explora a força de trabalho dos vendedores. Em muitos casos, são mercadorias ilegais, falsificadas, contrabandeadas ou de origem duvidosa, de venda proibida.
Tomemos como exemplos cigarros contrabandeados, perfumes, óculos e outros objetos falsificados que podemos encontrar à venda em qualquer esquina do hipercentro. São produtos ilegais que chegam à capital em grandes carregamentos e são distribuídos por quadrilhas organizadas. Há inúmeras salas, galpões e lojas fechadas que servem de depósito para a armazenagem dessas mercadorias. Existe toda uma engrenagem criminosa que coordena essas atividades e usa pessoas desempregadas para a venda no varejo.
A meu ver, atacar apenas o elo final dessa corrente, que é a retirada dos ambulantes das ruas, não surtirá o efeito desejado. Seria mais eficaz uma atuação conjunta da PBH, Guarda Municipal, Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal para desarticular as operações dessas quadrilhas, com planejamento minucioso e ações encadeadas, para que o problema seja definitivamente erradicado. Sem isso, os ambulantes que forem retirados das ruas logo serão substituídos por outros, pois a mão de obra ociosa é abundante no país em crise, e as organizações que exploram esse exército de desempregados sabem tirar proveito dessa triste realidade.