Rosetta e Philae viram heróis interplanetários para atrair o público

AFP
Publicado em 20/11/2014 às 08:24.Atualizado em 18/11/2021 às 05:05.

"Pouso! Este é o meu novo endereço". Para despertar o interesse do público, a Agência Espacial Europeia (ESA) virou uma hábil comunicadora, ao dar a palavra a seus dois aventureiros espaciais, Rosetta e Philae, transformando seu périplo científico em uma saga interplanetária.

A "bela adormecida" saiu da hibernação, anunciou em janeiro passado a ESA, em um comunicado de imprensa, quando a Rosetta retomou contato com a Terra após um sonho de 31 meses.

"Olá, mundo!", tuitou a sonda europeia (@ESA_Rosetta), ao estrear como personalidade das redes sociais.

A história tinha sido lançada e o tom, marcado: o ano de 2014 seria de Rosetta, rico em acontecimentos e emoções.

O público se apegou a estes dois heróis do espaço, Rosetta, a sonda mãe, e Philae, seu pequeno robô, partiu corajosamente para a conquista de um território inexplorado, a superfície de um cometa.

"São máquinas, mas são expressão da inteligência, daquilo que há de mais avançado e audacioso do ser humano", avaliou o astronauta francês Jean-François Clervoy, em entrevista por telefone à AFP.

Por causa da distância que os separa da Terra, os aparelhos espaciais têm um tipo de "autonomia", facilitando sua personificação. E a ESA soube tirar proveito disso.

"Rosetta marca uma transição" na estratégia de comunicação da Agência Espacial Europeia, "com a vontade de fazer o público participar", explicou recentemente à AFP Fernando Doblas, chefe do departamento de comunicação da ESA.

"Vivemos em um mundo onde as pessoas não querem mais receber informação de forma passiva. É preciso ser um ator da informação", destacou, acrescentando que a ESA "compreendeu perfeitamente a importância das redes sociais".

Desde janeiro, a ESA soube manter a atenção do público, ao organizar concursos ou postar tuítes diversos, mas também permitindo acessar imagens inéditas e informações científicas em tempo real.

- 'Zzzzz' -

De 9 a 14 de novembro, as palavras Rosetta e Philae produziram 600.000 tuítes, segundo estatísticas do site Topsy.

"Pouso! Este é o meu novo endereço: 67P", tuitou em 14 idiomas o robozinho Philae (@Philae2014), confirmando a chegada ao seu destino.

Ao longo de todo o dia, os comunicadores da ESA puseram em cena, no Twitter, o diálogo entre Rosetta e Philae, apostando na personificação e garantindo ao público acesso à informação em tempo real.

"Sinto frio desde que você me deixou, mas estou em melhor posição para te olhar. Mande um postal!", pediu a sonda Rosetta após a separação de Philae.

"Finalmente! Posso esticar minhas pernas depois de mais de dez anos. O trem de pouso foi ativado!", anunciou o robô.

Após o pouso, a saga continuou, e a ESA manteve em vigília os admiradores de Philae, descrevendo em detalhes seu lento adormecimento, à medida que sua bateria se esgotava.

"Agora, perco minha energia bem rapidamente", "tanto trabalho estressante. Estou cansado"... O último tweet terminou com um "Zzzzz".

A façanha gerou uma cobertura midiática muito importante, com cerca de 380 meios de comunicação representados no Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC) em Darmstadt (Alemanha).

"A ESA começa a ser levada em conta e pode se sentir orgulhosa porque os projetos europeus não deixam nada a desejar às grandes missões americanas", comentou Jean-François Clervoy.

Interrogado sobre o impacto que poderia ter o sucesso da dupla Rosetta/Philae na conferência ministerial da ESA, prevista para 2 de dezembro, em Luxemburgo, decisiva para o futuro espacial da Europa, o astronauta respondeu: "não sou um especialista em geopolítica espacial, mas o que é certo é que vai contribuir para o espírito positivo dos participantes".

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