Ruralistas cobram mais assistência dos governos federal e estadual

Jornal O Norte
16/11/2007 às 18:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:23

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Mais de 100 mil reses já morreram na região, segundo informações da  Sociedade Rural de Montes Claros. O principio motivo segundo a entidade é a seca que arrasa o Norte de Minas. Balanço divulgado pela Emater afirma que, em Montes Claros e em seus distritos, uma média de cinco mil reses teriam morrido de fome e por fraqueza, em decorrência da má alimentação nos campos.

Conforme o técnico em agropecuária da Emater, Ubaldo Ferreira Gonçalves a previsão de chuvas reais só deve acontecer nas próximas semanas. Nos últimos dias, a metereologia havia mencionado probabilidades de chover pelo menos 6mm ou algo aproximado a essa média, mas a probabilidade foi menor que 50%, diz Ubaldo.

Como a seca começou mais cedo esse ano na região, em meados de junho, alguns produtores com medo de faltar alimento para o rebanho agora no final do ano, quando a situação da falta de chuvas é mais intensa, diminuíram a quantidade de cana na suplementação alimentar, e por conta disso muitos animais morreram. Outros animais, segundo o agrônomo, morreram porque as pastagens estão pobres em nutrientes e quase 80% dos produtores não têm mais cana para alimentar seu rebanho. Precisam comprar em outras regiões e a preços exorbitantes, segundo ele.

A produção de leite consequentemente caiu significativamente com as vacas magras, muitas estão morrendo por fraqueza óssea ou por causa da pouca proteína encontrada nos pastos. O produtor que tem mais condições de arcar com alimentação a base de sais minerais e suplementação alimentar em geral, tem conseguido manter o gado no pasto, mesmo com a falta de chuvas. No caso da produção de cana-de-açúcar, Ubaldo explica que o canavial cresceu muito pouco e a quantidade de massa por metro quadrado foi pífia.

A produção de gado de leite em 2006 teve queda significativa, aproximando-se dos 30% , em conseqüência da redução da capacidade das pastagens. A esperança dos agricultores é que esse ano seja diferente.

A Sociedade Rural entende que é preciso que tanto o governo federal como o estadual tomem conhecimento da situação de gravidade que a seca impôs aos norte-mineiros e, portanto, encaminhou ofício aos ministros da Agricultura, Reinholds Stephannes; da Integração Nacional, Gedel Vieira Lima e a Walfrido dos Mares Guia, da Coordenação Política, e ao secretário da Agricultura de Minas Gerais, Gilman Viana, solicitando apoio dos governos para ajudar a minimizar os graves problemas que a seca tem causado à região norte-mineira.

- A situação do Norte de Minas piora a cada dia, e precisamos de uma ação urgente dos governos para que não só os produtores rurais, mas os demais segmentos da população que estão sofrendo diretamente os problemas da estiagem, tenham algum apoio para superar este momento de dificuldade – afirmou.

Ele entende que diante do agravamento da falta de chuvas e de água para abastecimento das comunidades rurais, o Norte de Minas já começa a enfrentar uma situação de calamidade. Isto porque em outubro quando tradicionalmente a região tem uma média histórica de 600 milímetros de chuvas, não foi registrado nenhuma ocorrência pluviométrica na região. Já a primeira quinzena de novembro está sendo encerrada, sem que a situação esteja se revertendo, com a intensificação do período chuvoso.

O gado está se alimentando com uréia e capim seco, e quando as chuvas voltarem a cair a palha existente nos pastos vai apodrecer e, com isso, não haverá mais alimentos.

- Os produtores rurais têm feito sua parte ao adotar técnicas de convivência com a seca, numa região semi-árida. Entretanto, preços baixos nas últimas safras e endividamento elevado diminuíram a capacidade dos produtores realizarem novos investimentos, sobretudo na ampliação de suas reservas para a seca, destaca trecho retirado do ofício encaminhado pela Sociedade Rural às autoridades.

REIVINDICAÇÕES

Há tempos os ruralistas vêm reclamando das dívidas rurais e do prazo em quitá-las.  No documento encaminhado, eles aproveitaram para voltar a falar do assunto, alegando não ter condições de pagar as dívidas que ainda vão vencer em 2009, devido aos baixos negócios fechados nesse tempo de estiagem.

Outra reivindicação, apresentada aos governos, é a abertura de uma linha de crédito especial para que os agropecuaristas tenham condições de comprar rações concentradas e volumosas, alugar pastos e deslocar os rebanhos para outras regiões do país e manter o custeio das atividades. Para a liberação dessa linha de financiamento, a Sociedade Rural propõe ao governo a fixação de uma taxa de juros de 3% ao ano e prazo de cinco anos para amortização.

Além de solicitar aos governos a decretação de estado de calamidade em todos os municípios norte-mineiros, a Sociedade Rural, a Amams- Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene e a Associação comercial e industrial de Montes Claros ressaltam que o custo da energia elétrica está inviabilizando a irrigação de lavouras na região. Lembram que dos 80 mil hectares irrigados até 1994, apenas 25 mil hectares ainda estão sendo mantidos em operação.

- Para a reversão desse quadro torna-se imprescindível que aos sábados, domingos e feriados nacionais, o preço da tarifa de energia diurna seja reduzido para o equivalente ao valor fixado para o período noturno, possibilitando a sobrevivência do setor agrícola e o retorno da operação em 20 mil hectares de áreas antes irrigadas – destaca também o documento enviado.

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