Ruy Muniz: - Se o prefeito não faz nada pelo povo, nós vamos fazer

Jornal O Norte
23/04/2007 às 09:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:02

Proposta pelo deputado estadual Ruy Muniz – PD, a audiência pública presidida pela Comissão de Direitos Humanos da assembléia legislativa de Minas Gerais, que ele integra, debateu e listou, última sexta-feira, em evento que teve lugar na câmara municipal de Montes Claros, uma série de medidas a serem tomadas para o combate à violência e à criminalidade na cidade, priorizando soluções especiais para o Bairro Cidade Cristo Rei, conhecido como Feijão Semeado, onde a ação de bandidos envolvidos com o tráfico de drogas já causou, somente neste ano, oito assassinatos, levando a comunidade a viver momentos de verdadeiro terror e que se repetem no dia-a-dia de forma banalizada.




Ruy Muniz afirma que os deputados buscarão ajuda do estado para solucionar problema que é de responsabilidade do governo municipal (foto: Wilson Medeiros)

Para o deputado, a principal medida para conter a marginalidade no local, que ganha repercussão em todas as regiões de Montes Claros é tratar o assunto com seriedade e competência, o que não estaria sendo feito pelo prefeito Athos Avelino – PPS.

- Por isso, nós, deputados, resolvemos socorrer a população indefesa de Montes Claros iniciando um processo que denomino como programa afirmativo, em especial para os moradores do Cristo Rei – frisou o parlamentar, em entrevista concedida a Eduardo Brasil.

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Como iniciar efetivamente uma mudança no cenário caótico do bairro Cidade Cristo Rei?

A principal proposta tem de ser a inclusão social das pessoas. Porque, se as pessoas não têm emprego, educação acessível, uma moradia digna, um mínimo de qualidade de vida, elas acabam sendo vencidas e passam a ter grandes chances de ingressar na marginalidade. Aí, pessoas inocentes, de boa fé, terminam se tornando traficantes, assaltantes, homicidas. Então, precisamos de um desenvolvimento econômico compatível para conter essa situação caótica. Temos de empreender esforços para que Montes Claros receba novas empresas. O poder público municipal, por sua vez, precisa fazer valer os recursos que arrecada com os impostos que a população paga, na melhoria de vida de todos, sobretudo dos que vivem em ambientes sem infra-estrutura. Na falta de uma ação séria, contundente, para evitar danos maiores, é que hoje temos o Bairro Cidade Cristo Rei amargando os índices de violência e criminalidade que assustam a todos nós. E não é somente naquele bairro que esse flagelo social ocorre. Em vários outros bairros, de moradores ricos ou pobres, a violência e a criminalidade se repetem e às vezes com o mesmo ímpeto.

Há, de fato, solução imediata para que o bairro sobreviva aos problemas que enfrenta e que se tornam cada dia mais graves?

Sim, embora a situação seja grave, aguda. O caso dos moradores do Cristo Rei é extremamente preocupante. São quase três mil pessoas amontoadas em um espaço mínimo, sem nenhuma presença do governo municipal, vivendo sem nenhuma infra-estrutura, sem expectativas de trabalho, de geração de renda. Isso resulta na marginalidade. Veja bem que somente neste ano, nos últimos três meses, oito pessoas foram assassinadas no Bairro Cidade Cristo Rei. É uma violência que salta aos olhos e não podemos permanecer como a administração municipal, inertes, diante de um problema tão acentuado.

O município não faz a sua parte?

A verdade é que se Montes Claros tivesse um prefeito sério, capaz - e quando digo capaz, incluo ainda a capacidade de participar de debates, como esses que realizamos, e dos quais ele fugiu, se limitando a mandar representantes, se tivéssemos um prefeito atuante esse quadro desolador não existiria naquela importante região da cidade. O prefeito nada fez por aquela comunidade. Não urbanizou o local, não ofereceu nenhuma oportunidade de geração de emprego e renda aos moradores e simplesmente tratou de ficar de costas para os seus problemas.

Seria uma alternativa esvaziar o número de casas no Bairro Cidade Cristo Rei?

Sim, algumas famílias poderiam sair de lá, recebendo novas casas em outras regiões da cidade. Isso esvaziaria o local, acabando com o amontoado de moradias, abrindo espaço para sua urbanização, construção de prédios, escolas, casas comerciais. Se lá existem 200 casas, que 50 delas sejam desocupadas e que seus proprietários recebam outras moradias em áreas diferentes. O Bairro Cidade Cristo Rei precisa de um programa afirmativo. É um bairro discriminado, a partir da vulgar mudança de seu nome para Feijão Semeado. Os moradores, de forma geral, são vítimas de discriminação, de preconceito: ah, é do Feijão Semeado? Então é bandido! É isso que ouvimos dizer e isso não é verdade. A maioria das pessoas é trabalhadora, honrada, a maioria delas. E é nessas pessoas que o prefeito deixou de investir. Temos agora de fazer, com urgência, o que ele não fez.

Por exemplo...

Oferecer cursos profissionalizantes, escolas, emprego para essas pessoas. Urbanização. Nesse sentido vamos apelar ao Estado, buscar esses recursos junto ao governador Aécio Neves, cuja administração tem feito muito por Montes Claros, sobretudo na questão de segurança pública. Mas, ressalto que essa não é uma responsabilidade direta do governo estadual e, sim, do governo municipal de Montes Claros, que arrecada mais de quatrocentos milhões de reais por ano, de impostos, e não inclui no orçamento municipal nenhuma obra social que ajude à comunidade do Bairro Cidade Cristo Rei. Se o prefeito não faz nada pelo povo, nós, deputados, faremos, porque não podemos repetir a irresponsabilidade a que assistimos por parte do governo municipal. Penso que com a audiência pública demonstramos nosso desprendimento político nesse sentido, ainda que o executivo não tenha feito o mesmo, o que já era esperado. Se ele nada fez nesses dois anos e três meses pelo nosso povo, pelo nosso município, é mesmo custoso acreditar que ele fará algo de tal grandeza neste resto de mandato que tem.

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