Comprometimento no tratamento de diabetes garante eficácia

Iêva Tatiana* - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
30/03/2015 às 07:50.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:26

(Reprodução)

SÃO PAULO – A falta de diálogo claro entre médicos e pacientes com diabetes, principalmente do tipo 2 (o mais comum, cerca de 90% dos diabéticos), pode tornar-se uma complicação a mais, resultando na ineficácia do tratamento e na não-compreensão da gravidade da doença.

A constatação foi feita pela pesquisa IntroDia, realizada pela Federação Internacional de Diabetes, em parceria com as empresas farmacêuticas Boehringer Ingelheim e Eli Lilly, e apresentada neste mês, em São Paulo.

No Brasil, os 116 profissionais ouvidos concluíram que 94% da aceitação e da adesão dos pacientes dependem do fornecimento de informações adequadas no momento do diagnóstico.

“O diabetes tipo 2 é uma jornada longa para os médicos e para os pacientes, porque é uma doença crônica que precisa ser controlada. Desde o início, temos que atingir a meta de manter a glicemia normal. Para isso, contamos com a terapia farmacológica, mas também existe outra parte muito importante do tratamento, que é a não-medicamentosa”, afirma a chefe de assuntos médicos da Boehringer Ingelheim, Thais Melo.

Equilíbrio

Segundo ela, é aí que entram a alimentação balanceada, a prática de exercícios e a boa relação entre médicos e pacientes, conforme apontado pela pesquisa.

“A IntroDia vem justamente para tentar trazer um acordo nesse outro lado do tratamento, é uma ferramenta de auxílio. O objetivo final é ajudar a melhorar a comunicação, e, consequentemente, a adesão dos pacientes e os resultados alcançados por eles”, explica Thais, lembrando que, atualmente, a maior parte dos diabéticos não segue as orientações dos profissionais da saúde.

A dona de casa Palmira Borges, de 70 anos, engrossa essa estatística. “No começo, mesmo alertada pelo médico sobre o perigo, de vez em quando comia um pedaço de pudim de leite ou de chocolate escondido. Mas, depois, acabava passando mal. Aprendi na marra que não dá para fazer estripulias”, diz.

Confiança

A empatia entre médicos e pacientes é outro fator determinante para a eficácia do controle do diabetes. Embora seja ignorado, na maioria das vezes, esse item já foi oficialmente associado ao sucesso do tratamento.

“Temos estudos comprovando que quando os médicos têm pontuação maior na escala (de empatia), os pacientes de que eles cuidam apresentam menores níveis de hemoglobina glicada (exame de sangue que mede o nível médio de glicose durante dois ou três meses) e de colesterol”, conclui a representante da Boehringer.

Harmonia

Depois de aprender a lição, Palmira, que já é dependente de insulina – aplicada pelo marido diariamente –, passou a seguir as recomendações e conseguiu, enfim, conviver com o diabetes de forma menos conflituosa, apesar das limitações impostas pela doença.

“Minhas pernas incham constantemente e o médico já me disse que não posso tomar qualquer remédio. Mas, com cautela, dá para viver bem”.

 

 

 

60% dos brasileiros correm risco de desenvolver o diabetes; ausência de sintomas gera diagnósticos tardios da doença

O Diabetes Mellitus é uma das doenças com maior incidência no Brasil – 12 milhões de pessoas afetadas – e uma das mais difíceis de ser diagnosticada, por ser pouco sintomática no estágio inicial.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), metade dos portadores do tipo 2 desconhece o próprio quadro. A situação é ainda mais alarmante considerando outro dado: seis em cada dez brasileiros têm risco de desenvolver a doença, segundo a SBD.

“Cerca de 50% dos diabéticos brasileiros não são diagnosticados, porque, no começo, a doença não dói, não tem sintomas. Para quem não tem acesso a planos de saúde, não faz check up, isso é muito comum. É como ter um carro e nunca levá-lo para a revisão. Mais cedo ou mais tarde, ele tende a ter problemas”, afirma o endocrinologista João Paulo Iazigi.

Complicações

Segundo ele, evitar as temíveis complicações do diabetes é o desafio maior, nesses casos. Para os diabéticos, o risco de desenvolver problemas cardíacos e sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) é ainda mais acentuado.

“As maiores causas de morte desses pacientes são, justamente, infarto e AVC. Além disso, pode haver perda de visão, insuficiência renal e amputação de membros, sobretudo, os inferiores. Antigamente, cerca de 20 a 30 anos atrás, essa era quase uma sentença: ficar cego, ir para a hemodiálise e perder os pés”, diz Iazigi. Ele lembra que, no caso dos homens, na lista ainda pode ser acrescentada impotência sexual.

A doença

O diabetes, hoje, afeta quase 400 milhões de pessoas em todo o mundo. A estimativa é a de que, até 2035, este número salte para 600 milhões. O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de países com mais portadores da doença.

Trata-se de um distúrbio metabólico que envolve a alteração do metabolismo de glicose, principalmente, e de proteína e gordura. O que caracteriza a doença é a falta (absoluta ou relativa) de insulina ou defeitos na ação dela.

Alguns fatores contribuem para a ocorrência do diabetes, como obesidade, hereditariedade, sedentarismo, hipertensão, altos níveis de colesterol e triglicérides, medicamentos (à base de cortisona, por exemplo), idade superior a 40 anos (no caso do tipo 2) e estresse.

Uma das diferenças entre o diabetes tipo 1 e o tipo 2 é o tratamento

Normalmente, no segundo caso, é indicada a administração de medicamentos orais para o controle glicêmico, enquanto no primeiro, em 100% das vezes, o paciente precisa da aplicação de insulina. A idade é outro diferencial. O tipo 1, que acomete cerca de 5% dos diabéticos, manifesta-se em jovens – já foi chamado, inclusive, de diabetes juvenil –; já o tipo 2 aparece após os 40 anos.

A manifestação do diabetes tipo 2 é lenta e provoca poucos ou nenhum sintoma, o que dificulta, muitas vezes, o diagnóstico precoce. “O tipo 1, não. Se a criança tiver a doença, em dois ou três dias ela estará no médico, porque o quadro não é compatível com a vida infantil e o paciente começa a emagrecer rapidamente”, afirma o endocrinologista João Paulo Iazigi.

Medicamento chega ao mercado e promete redução de glicose

Neste mês, os laboratórios Boehringer Ingelheim e Eli Lilly, que formaram a aliança Boehringer-Lilly, lançaram no mercado um novo medicamento para pacientes com o tipo 2. Chamado de Jardiance, o remédio propõe a redução de 78 gramas diários de glicose, em média, o equivalente a seis colheres de sopa de açúcar ou 312 calorias.

O Jardiance inibe a SGLT2, proteína transportadora que atua na reabsorção da glicose filtrada pelos rins, impedindo que ela seja eliminada na urina. Bloqueando essa reabsorção, a empagliflozina (substância ativa do medicamento) elimina o excesso de açúcar que seria reabsorvido pelo rim.

Colaborou Janaína Oliveira
* A repórter viajou a convite da aliança Boehringer-Lilly
 

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