Cuidar da saúde mental pode ser tão decisivo para o desempenho do atleta quanto os treinos na modalidade a ser disputada
Laboratório de Psicologia do Esporte atende hoje atletas de modalidades distintas para o acompanhamento psicológico
Cuidar da saúde mental pode ser tão decisivo para o desempenho do atleta quanto os treinos na modalidade a ser disputada. Quem não se lembra das ginastas Simone Biles e Rebeca Andrade, que se destacaram nas Olimpíadas de Tóquio em 2020? A primeira, por desistir da final geral da ginástica artística e priorizar a própria saúde mental. A segunda, pelo alto controle emocional desenvolvido frente à competição. Exemplos como esses mostram o peso que a chamada psicologia do esporte tem, podendo ser uma aliada para quem busca um lugar no pódio.
Varley Costa, doutor em Psicologia do Esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor associado do Departamento de Esportes, na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da universidade e coordenador do Laboratório de Psicologia do Esporte (Lapes), desenvolve, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), pesquisas e trabalhos na área a fim de compreender e expandir o conhecimento sobre o fator psicológico nesse grupo.
Segundo Varley Costa, atletas de alto rendimento, participantes de competições de elite, como é o caso das Olimpíadas, necessitam de quatro pilares para sustentar a performance esportiva: treinamento técnico, tático, físico e psicológico. A demanda psicológica, diante de parâmetros exigentes e altas expectativas sobre um atleta olímpico ao representar o país natal nos jogos, pode impactar o desempenho no torneio.
Neste sentido, a psicologia do esporte, com técnicas cientificamente validadas, age de forma crucial na vida dos competidores. “Adotamos técnicas de relaxamento, concentração, mentalização, foco, autocontrole, gestão do estresse, ansiedade, medo, nervosismo, entre outras, de acordo com a modalidade que ele compete”, explica o pesquisador.
Há um nível de exigência muito alto para entregar um atendimento personalizado ao atleta, o que exige do profissional entender também do esporte praticado pelo paciente.
Conforme a modalidade esportiva, e até dentro da mesma equipe, as competências psicológicas de cada jogador podem ser diferentes, o que torna o suporte ainda mais específico. “Normalmente, dividimos o atendimento psicológico em três áreas. A parte emocional, relacionada ao estresse, a ansiedade, depressão, medo, raiva, entre outros. Aspectos cognitivos como atenção, percepção, antecipação, tomada de decisão (o que o atleta vai fazer no jogo) e aspectos comportamentais como competitividade, agressividade, liderança. (...) Porém, como cada modalidade esportiva tem necessidades psicológicas diferentes, a função dos atletas também tende a diferenciar a demanda psicológica sobre eles. Como exemplo, as exigências psicológicas de um líbero no voleibol são totalmente distintas em relação a um levantador”, explica o pesquisador.
Cuidar da saúde mental exige tempo e dedicação. “A preparação psicológica é como a preparação física, você não vai à academia hoje e volta daqui um mês esperando ter algum ganho. Você tem que ir todo dia, se você quiser melhorar seus níveis de força, seus níveis de velocidade, sua capacidade aeróbia. Então, na preparação psicológica o atleta vem, aprende, testa, treina, volta, às vezes faz pequenos ajustes nas suas técnicas psicológicas, retorna e treina até automatizar e ele conseguir entrar em uma partida importante e conseguir performar com excelência do ponto de vista psicológico”, explica.
“A Olimpíada é um momento de muito estresse em que podem ocorrer picos de estresse agudo. O atleta se prepara por quatro anos para que em 19 dias de jogos - e que na verdade, dependendo de cada modalidade, podem ser cinco, quatro ou um dia de competição - tudo se defina”, explica Varley Costa.
Em Olímpiadas, os comitês de cada país disponibilizam psicólogos do esporte durante os anos de preparação, no momento dos jogos e após a competição para cuidar da saúde mental dos atletas, tentando minimizar riscos de crises psicológicas e otimizar níveis de performance.
Para a competição de 2024, o Comitê Olímpico Brasileiro aumentou de quatro profissionais em 2020 para 10 o número de psicólogos e psiquiatras do esporte para atender os atletas durante as competições. (Com informações de Bárbara Teixeira, na página da Fapemig)
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