MÊS DE COMBATE À OBESIDADE

Quando a cirurgia bariátrica é indicada?

Além da perda de peso, operação traz ganho na saúde mental e pode levar à remissão de doenças, mas só deve ser feita quando os outros métodos contra a obesidade não tiverem dado resultado satisfatório

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 10/03/2025 às 07:00.

Se bem indicada, a cirurgia bariátrica traz ganhos que vão além do manequim enxuto. Uso de técnicas cada vez mais avançadas e menos invasivas impacta positivamente na saúde mental do paciente, e estudos apontam que pode levar à remissão de doenças associadas à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono. 

O quadro faz com que o recurso tenda a ser cada vez mais utilizado, sobretudo diante do aumento da população obesa. Dados do Novo Atlas Mundial da Obesidade 2024, divulgado pela Federação Mundial de Obesidade (WOF), destacam que o número de adultos vivendo com obesidade pode saltar de 810 milhões, em 2020, para 1,53 bilhão, em 2035.

No Brasil, a situação é alarmante em crianças e adultos: 16% das crianças e 56% dos adultos estão acima do peso e o crescimento anual do Índice de Massa Corporal (IMC) preocupa especialistas.  

Os tratamentos da obesidade, geralmente, são farmacológicos e possuem uma abordagem terapêutica individualizada. Essa conduta inicia-se na prevenção secundária para impedir a progressão da doença para um estágio mais grave e prevenir complicações. Entretanto, em alguns casos, intervenções mais invasivas podem ser necessárias, como a cirurgia bariátrica.

A bariátrica é um procedimento indicado quando outros métodos de perda de peso, como dietas, exercícios e o tratamento farmacológico não trouxeram resultados satisfatórios. Para que a cirurgia seja recomendada, dois fatores devem ser criteriosamente avaliados: Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40; ou IMC acima de 35, associado a comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono e outras condições relacionadas à obesidade. Todos os protocolos de indicação e técnica são baseados em premissas científicas. 

O tratamento é multidisciplinar - envolve cirurgiões, endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, da preparação pré-operatória até o acompanhamento pós-cirúrgico - e a cirurgia bariátrica tem se consolidado como uma opção essencial nos casos de obesidade sem resposta ao tratamento clínico.

De acordo com Marcus Martins, coordenador de Cirurgia do Mater Dei da Região Metropolitana de Belo Horizonte e coordenador da Cirurgia Bariátrica há 26 anos, trata-se de um procedimento minimamente invasivo, que pode ser realizado por via laparoscópica ou robótica. 

“A evolução tecnológica, aliada à capacitação contínua da equipe, garante que a recuperação seja mais rápida. Os grampeadores utilizados são extremamente seguros e permitem que o paciente passe da dieta líquida para a normal em até 21 dias”, explica.

O médico destaca que a cirurgia transforma a vida das pessoas tanto no aspecto físico quanto mental. “Menos de 10% dos casos têm recidiva, desde que sejam bem operados e os pacientes façam o acompanhamento adequado. A obesidade precisa ser cuidada e tratada ao longo da vida”, diz.

Benefícios para a saúde

Depois de dietas, reeducação alimentar, exercícios físicos e intervenção farmacológica, a cirurgia bariátrica foi recomendada a Raianny Caroline Silva, de Contagem, pela equipe médica de cirurgia bariátrica da Rede Mater Dei.

Ela chegou a pesar 93 quilos, afetando a saúde tanto física quanto mental. “Eu não nasci gordinha e não era uma adolescente gorda. Entrei em depressão e por uns três anos sofri muito com a minha condição. Estava com diabetes, perda de sono, pressão alta e gordura no fígado. O processo para realização do procedimento exige dedicação, disciplina e mudanças de hábito, mas todo o esforço valeu a pena. Há 8 meses minha vida mudou. Hoje tenho disciplina, aprendi a correr e voltei a ser uma mulher cheia de energia e brilho. Chegar aos 30 anos com saúde foi a minha melhor conquista”, conta. 

A cirurgia bariátrica também colabora na melhoria da qualidade de vida dos pacientes– que se sentem mais dispostos, com maior mobilidade e autoestima, além de terem uma redução significativa no risco de doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto.

Estudos mostram ainda que a cirurgia pode levar à remissão de doenças associadas à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono. Em muitos casos, pacientes que dependiam de medicamentos para controlar essas condições conseguem reduzir ou até suspender o uso.   

Considerada uma doença crônica, a obesidade é causada por fatores biológicos, históricos, ecológicos, econômicos, sociais, culturais e políticos. Por esse motivo, instituiu-se no Brasil o Dia Mundial de Combate à Obesidade (4 de março) - data para enfatizar a importância das campanhas e de políticas públicas que promovam a saúde e o bem-estar, combatendo uma das maiores epidemias do século XXI.

De acordo com o médico Marcus Martins, a sociedade precisa ser mais bem orientada e o poder público deve propor novas estratégias para enfrentar essa epidemia: “a taxa mundial de obesidade infantil é 5,6%, ou seja, as crianças brasileiras são três vezes mais obesas do que no resto do mundo. Tanto nas crianças quanto nos adultos, observamos uma epidemia de má alimentação e isso é gravíssimo”.

Para prevenir e controlar a obesidade, é imprescindível avançar com a educação nutricional dos brasileiros, aumentando o acesso a alimentos nutritivos, incentivando a prática de atividades físicas, regulando a comercialização de alimentos ultraprocessados e criando campanhas que reforcem que a obesidade é uma doença crônica que exige tratamento contínuo. 

A obesidade compromete os rins, o fígado, levando à cirrose a longo prazo, além de ocasionar a hipertensão, diabetes e insuficiência renal. Quando o assunto é saúde mental, também é uma grande vilã: “os casos de depressão, cada vez mais comuns, fazem com que as pessoas se enclausurem em casa e isso vira um ciclo vicioso. O único prazer que elas passam a ter é o de comer, que somado ao baixo gasto energético, colabora para o aumento de peso e de doenças”, garante Marcus Martins. 

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