Se o objetivo for matar as siderúrgicas, parabéns

Publicado em 11/08/2016 às 11:47.Atualizado em 15/11/2021 às 20:18.

O resultado da Gerdau do segundo trimestre, divulgado ontem (veja matéria ao lado), espelha o esforço das siderúrgicas brasileiras para driblar a crise. Poderia sinalizar para um início de recuperação não fosse a política macroeconômica esquizofrênica.

Apesar do lucro da empresa ter caído em 30,6% no segundo trimestre, comparado ao mesmo período do ano passado, a geração de caixa (Ebitda) se estabilizou na mesma comparação e cresceu quase 30% quando comparado ao do primeiro trimestre deste ano. Trata-se de um desempenho bastante positivo para uma empresa de um setor mergulhado na crise até o pescoço.

Diante da brutal queda nas vendas domésticas, a Gerdau, assim como todas demais as siderúrgicas brasileiras, estão mirando estrategicamente a geração de caixa. O objetivo é preservar a saúde financeira nesta fase aguda para ter forças para crescer quando o cenário melhorar. É como o urso que hiberna no inverno para voltar a engordar no verão.

Gerdau, Usiminas, Vallourec, Companhia Siderúrgica Nacional, Companhia Siderúrgica de Tubarão, ArcelorMittal, Aperam, todas as siderúrgicas nacionais estão sendo geridas pelo caixa. E a fórmula, ao menos na teoria, é muito simples: cortar custos, aumentar escala e melhorar margens.

No campo dos custos, as siderúrgicas estão fazendo um incrível esforço de engenharia para adequar suas estruturas de produção à nova realidade de demanda. Nos últimos dois anos, dezenas de altos-fornos foram abafados e linhas de produção paralisadas no país. E milhares de metalúrgicos demitidos. 

Para ganhar escala (ou minimizar a queda nas vendas), voltaram suas baterias para a exportação. 

E para melhorar as margens já fizeram três reajustes de preços neste ano, totalizando uma recomposição entre 30% e 40%.



O problema é que as siderúrgicas não dependem apenas delas mesmas para vencer a crise. E o governo, que deveria estender a mão, parece ter prazer em empurrar a indústria para o fundo do poço.

O fato é que a siderurgia brasileira atravessa hoje a mais profunda crise de sua história. Isso porque seus clientes são basicamente fabricantes de bens de consumo duráveis que mergulharam de cabeça na recessão (as indústrias automotiva, de eletrodomésticos, de bens de capital e da construção civil). E para não perecerem, as siderúrgicas dependem, hoje, vitalmente do câmbio.

Com o real sobrevalorizado, todo o esforço de exportação vai por água abaixo. Atualmente, existe um excesso de oferta monstruoso de aço no mundo, os preços internacionais estão baixíssimos e a concorrência, acirradíssima. Para se fazer presente no mercado internacional é preciso, ao menos, contar com um câmbio favorável.

Assim como a cotação do dólar próximo de R$ 4 foi extremamente positiva para o esforço de exportação, hoje, ameaçando baixar à faixa de R$ 3, é desanimadora. Os reajustes dos preços internos também poderão ser revertidos sem a proteção natural do câmbio contra os importados.

O problema é que a atual diretoria do Banco Central acredita messianicamente no câmbio flutuante. Mas a verdade é que câmbio flutuante é uma entidade tão crível quanto Papai Noel. Simplesmente não existe, nem é praticado por nenhum país no mundo.

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