Secretário de saúde diz que Minas está atenta a possível incidência de febre amarela

Jornal O Norte
10/01/2008 às 11:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:22

Da Agência Minas

Na tarde de ontem, quarta-feira, após audiência com o governador Aécio Neves, o secretário de estado da Saúde, Marcus Pestana, concedeu a seguinte entrevista à imprensa sobre a possibilidade de incidência da febre amarela em Minas Gerais:

O senhor repassou para o governador quais as medidas que foram tomadas até agora?

Em primeiro lugar, em todas as etapas de um processo como esse a gente é extremamente prudente para não alarmar desnecessariamente a população, não lançar nenhum tipo de clima de pânico. É preciso uma ação firme, serena em casos como esse. Então, vamos aos fatos. Não há nenhum caso de febre amarela em Minas Gerais. Há um caso humano importado do Acre. A pessoa veio do Acre, fez uma escala em Brasília, desceu no aeroporto (em Minas Gerais) e foi direto para o hospital (Felício Rocho, de Belo Horizonte). O caso está sendo investigado, mas não é um caso que nasceu internamente em Minas Gerais. Esse é o primeiro fato.

Segundo fato: boa parte, a maioria absoluta da população é imunizada, é vacinada contra a febre amarela. Ela tem uma duração, uma cobertura de dez anos e nós estamos fazendo um trabalho preventivo de mobilização muito circunscrito às regiões onde há um início de suspeita, a partir da morte de (19) macacos que ocorreram no Noroeste e no Norte e um caso isolado em Uberlândia, que estão sob investigação. Não há nenhuma comprovação, porque, por exemplo, os casos que foram agora notificados em Montes Claros, possivelmente, os macacos possam ter morrido pela seca, pela ocorrência da seca, por sede e fome.

Então, em primeiro lugar é preciso deixar claro que todo o sistema de saúde está mobilizado e eu estou falando diariamente com o Ministério da Saúde e com o nosso secretário de Vigilância em Saúde, que cuida do tema. E nós atualizamos informações.

Há a ocorrência de uma epidemia no Estado de Goiás e no Distrito Federal. Minas tem áreas limítrofes com esse Estado e com o Distrito Federal. Portanto, nós estamos fazendo uma série de ações preventivas. E quais são elas?

Em primeiro lugar, pessoal de campo já está na região. Já está no Norte, já está no Noroeste ajudando as prefeituras, mobilizando a comunidade para que haja a correta identificação desses casos e a investigação e para que possa ser dimensionada a extensão.

Amanhã, às 13 horas, em Unaí, ocorrerá uma grande e importante reunião do nosso subsecretário em Vigilância em Saúde, Felipe Caram, com todos secretários municipais da região afetada, que é praticamente o Noroeste mineiro, em que todos os esclarecimentos, todas as medidas serão planejadas e implementadas a partir dessa reunião.

Nós estamos disponibilizando 130 mil vacinas para reforço nessa área, para imunizar a população. Mais que isso, o nosso hospital de Patos de Minas (Hospital Antônio Carlos, da rede Fhemig), que é um hospital de grande porte, com densidade tecnológica e com pessoal, servirá de base para o treinamento de todos os hospitais da região. Nós estamos agendando para a semana que vem e levaremos um grande especialista clínico em diagnóstico, acompanhamento e tratamento da febre amarela para qualificar, porque a febre amarela tem uma particularidade: o tratamento é individualizado. Você age sobre o sintoma concreto, não há uma posição uniforme, um procedimento único, um tratamento único. Então, nós precisamos, inclusive, treinar os médicos da região, os profissionais de saúde para que eles saibam diagnosticar e fazer o tratamento. Então, nós estamos fazendo também ações de intensificação, que é uma ação comum que interessa também ao combate da dengue, de combate ao vetor, da proliferação do vetor, já que o vetor da den


gue também pode ser portador da transmissão da febre amarela.

Então, todas as ações estão sendo tomadas, mas volto a dizer: a situação está sob controle. O sistema de saúde, tanto o Ministério da Saúde, agindo em conjunto com a Secretaria estadual e com os municípios, estão atentos, tomando todas as providências. A febre amarela é um fenômeno silvestre e nós temos que evitar que haja contaminação, uma epidemia urbana, mas isso é mais um sintoma do nosso desajuste civilizatório na questão ambiental. Nós ficamos desmatando, desmatando, desmatando, os fenômenos silvestres acabam invadindo o ambiente urbano.

Nós estamos, então, disponibilizando 130 mil doses, estamos com as equipes lá, vamos fazer essa reunião amanhã em Unaí, vamos providencias esse treinamento para diagnóstico e tratamento da febre amarela, mas volto a dizer: não há nenhum caso de febre amarela ocorrida em pessoas. Temos essa questão das mortes dos macacos, que mesmo na questão dos macacos há uma investigação. O nosso laboratório central, que é muito qualificado aqui na Funed, faz o exame para tipificar qual é a doença e depois vai para um contra-teste. A palavra final do laboratório central nacional é em Belém, que é especializado nisso, para dar a palavra final e confirmar se é ou não febre amarela.

Quando sai o resultado desses exames e se for constatado que aqueles primatas estavam com febre amarela, qual o risco da febre silvestre se urbanizar?

A ação concreta neste momento é a ação preventiva e a qualificação do sistema para a assistência. Então nós temos que vacinar, imunizar a população, combater o vetor, a proliferação do vetor, e qualificar o sistema hospitalar ambulatorial para que aja rapidamente no caso da ocorrência da doença. Nós não gostamos de raciocinar sobre hipótese. São exames muito detalhados, nos próximos dias, no início da próxima semana, nós teremos os primeiros resultados. Ainda passa por uma verificação nesse laboratório que centraliza isso nacionalmente, que é em Belém, para validar o resultado. Mas nós estamos acompanhando de perto e a ação que cabe neste momento é todo mundo contribuir nestas regiões para a não proliferação do vetor e se vacinar quem não é vacinado.

Eu, por exemplo, sou vacinado. Muitos de vocês devem ser vacinados porque, exatamente, eu lembro que eu me vacinei em Brasília numa ida a um parque florestal, na Chapada dos Veadeiros, quando eu estava em Brasília e, por prevenção, há o aconselhamento, todo verão, quando é período de férias, a gente faz uma campanha preventiva para quem for para ambiente silvestre para que se vacine contra a febre amarela.

Realmente há uma preocupação com a situação de Goiás. Eu tenho conversado permanentemente com nosso secretário Gerson Penna, da Vigilância e Saúde, tenho atualizado as informações de Minas e tenho recebido informações de Brasília. Eles estão muito preocupados. A situação recomenda mobilização total, mas não há motivo para alarde, para pânico.


 


Posso haver algum esquema especial em aeroportos ou próximo às divisas com Goiás?

O próprio ministro Temporão teve uma reunião com o ministro das Relações Exteriores e com a ministra do Turismo para que essas providências adicionais, e neste período agora em que vai aproximar o Carnaval, muita gente vai para parque florestal, vai acampar, então é preciso muito cuidado e por isso temos que ter um nível de informação especializada para os profissionais de saúde, para que eles conheçam melhor o perfil da doença, da febre amarela, e os meios de comunicação de massa, os jornais, as rádios, as TVs têm um enorme papel na mobilização e na informação da população para que qualquer pessoa que viaje, não viaje sem se imunizar.


 


A febre amarela mudou a rota porque a última epidemia foi no Rio de Janeiro quando aconteceu um surto, com risco de contaminação em Minas. Agora foi para o Mato Grosso. O que está acontecendo? É questão do desequilíbrio ecológico?

Certamente tem uma razão nos desequilíbrios ambientais. Fenômenos claramente rurais estão invadindo o ambiente urbano. Eu lembro bem que o primeiro assunto quando o governador me convidou em 2003, quando eu sentei na cadeira, o meu primeiro dia de trabalho de 2003, o assunto foi epidemia de febre amarela no Serro. Lembro que fui lá e foi feito um trabalho de mobilização completa na zona rural, nas cidades ali da região e tivemos uma ação concentrada que procurou minimizar os efeitos. O sintoma primeiro é a morte de macacos que denota a possibilidade de presença da febre amarela e nós estamos atentos, mas realmente vez ou outra pipoca um fenômeno desse que é o Brasil do século XIX aparecendo de novo, mostrando sua face no século XXI.


 


Qual é a cobertura vacinal em Minas?

Mais de 100%. 123%. Então a cobertura é muito satisfatória. É preciso dizer que o sistema de imunização brasileiro é modelo para o mundo inteiro. Nós temos uma tradição em todas as áreas, como por exemplo, a vacina do idoso contra a gripe, aqui temos cobertura de 85% e os Estados Unidos, por exemplo, é 55%. A cobertura vacinal sobre as nossas crianças é extremamente representativa e parâmetro, exemplo para o mundo inteiro. Então, nós temos um bom sistema de vigilância em saúde. Se há alguma coisa que tem uma tradição positiva no Brasil no sistema de saúde é a vigilância epidemológica, é o controle de endemias. Nós temos todos os recursos, temos o maior programa PSF do Brasil, temos 3.650 equipes do Programa Saúde da Família, que são nossas antenas, nossas correias de transmissão lá na ponta, então Minas tem condição privilegiada de ter uma ação efetiva e eficaz para afastar qualquer risco de uma epidemia. São fenômenos muito complexos, nem todas as variáveis são de fácil controle.


 


Além dessas medidas que a secretaria já tomou, o governador determinou mais alguma?

Exatamente o governador vem acompanhando de perto, determinou uma ação incisiva que nossa equipe toda de controle epidemológico se deslocasse para a região, sugeriu essa reunião que foi convocada para amanhã em Unaí, amanhã às 13 horas estaremos lá, com a secretaria presente, o nosso sub-secretário de Vigilância em Saúde, Felipe Caran, presidindo essa reunião. Estaremos mobilizando o hospital Antônio Dias, em Patos de Minas, para servir de centro de referência de treinamento de profissionais no diagnóstico e tratamento da febre amarela. Estamos em contato permanente com o Ministério da Saúde para que a gente aja em conjunto. Neste momento, o SUS tem uma grande vantagem que é esse espírito de integração federativa, e os três entes federados agem em conjunto em uma só direção.


 


Esses 123% é a população mineira vacinada?

Há uma divergência de base. A população que a gente encontra não é a base do IBGE, então até vasa um pouco a cobertura e tem pessoas que tomam mais de uma dose e conta duas vezes. Tem também um problema de apuração de população e os dados de cobertura vacinal é superior a 100%. Parece absurdo, mas não é.


 


Minas Gerais tem cedido algumas doses da vacina para esses outros estados. Minas produz ou tem estoque?

A produção da vacina contra febre amarela é feita por Farmanguinhos, um laboratório do governo federal ligado ao Ministério da Saúde, que é quem tem a exclusividade da produção das vacinas. Já fizemos uma requisição ao longo do tempo de 2 milhões de doses. Nós já temos em estoque e já estamos disponibilizando 140 mil para o Noroeste e já estamos em negociação com o Ministério dentro de um cronograma de imunização frisando que grande parte da população já é imunizada.


 


Se houver necessidade, o governo tem estoque suficiente para atender a demanda?

Nós dependemos nisso do Ministério da Saúde e de Farmanguinhos. O Brasil inteiro depende porque ele que produz e distribui as vacinas. Estamos em negociações permanentes e em um trabalho conjunto com o ministério e da parte do Governo de Minas não faltarão recursos para o combate à febre amarela. Essa é a determinação do governador.


 


No caso já foi feito o requerimento para pedir 2 milhões de doses?

Ao longo dos meses. Isso dentro de um cronograma porque você vai cercando na medida em que se os sintomas se configurarem em uma epidemia você vai isolando as áreas. O alvo prioritário agora é o Noroeste que é quem tem contato em fronteira com Goiás.


 


Então podemos falar que já foi feito o requerimento de 2 milhões de doses para o Ministério da Saúde?

Exatamente.


 


Justamente por causa dessa suspeita de febre amarela?

É imaginando uma ação mais global em todo o estado se for necessário, mas essa é uma negociação, um refinamento permanente. As equipes diariamente estão conversando. A equipe do Ministério com a nossa equipe, refinando esses dados, acompanhando esses sintomas que surgem, a cada dia surge uma novidade, quer dizer, foram oito macacos em Montes Claros que tinha morrido e o Ibama enterrou. Antes tinham surgido sete no Noroeste, um em Uberlândia e três no Norte de Minas. Isso faziam onze macacos. Agora, são oito macacos que foram achados mortos e enterrados pelo Ibama. Agora se computou isso também, mas esses macacos podem, o próprio pessoal do Ibama e da vigilância, imagina que possa ser por causa da seca e fome.


 


São quantas equipes que foram para o Noroeste?

Toda a nossa equipe da área específica.


 


São quantas pessoas?

Isso envolve uma equipe de mais de 20 pessoas do Estado, que tem a função não da ação concreta porque a ação concreta é do município, que tem os agentes comunitários. A nossa ação é de coordenação, supervisão, treinamento e qualificação.

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