MOSCOU - Edward Snowden voltou neste sábado (6) a ter esperança de encontrar um país de acolhida, depois que Venezuela e Nicarágua se declararam dispostas a conceder asilo a este ex-consultor da Agência Nacional de Segurança (NSA) americana, bloqueado há 14 dias na zona de trânsito do aeroporto de Moscou. Os presidentes de Nicarágua e Venezuela ofereceram na sexta-feira (5) asilo a Edward Snowden, quando a situação do informático acusado por Washington de espionagem parecia estancada. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, herdeiro político do falecido Hugo Chávez, afirmou durante um ato de celebração da independência da Venezuela que ofereceria "asilo humanitário ao jovem Snowden (...) para proteger este jovem da perseguição desatada pelo império mais poderoso do mundo". E em Manágua o presidente Daniel Ortega também se pronunciou para conceder asilo, confirmando que a embaixada da Nicarágua em Moscou já recebeu um pedido neste sentido por parte de Snowden. Estes anúncios devolvem a esperança ao ex-consultor da NSA, que vazou importantes dados sobre um programa americano de vigilância das comunicações mundiais. Neste sábado foram divulgados através do Wikileaks, que forneceu proteção a Snowden, os pedidos de asilo para seis novos países, que se somam aos 21 apresentados dias atrás, mas não foram informados os países em questão. No entanto, as opções de Snowden se reduziram bastante, já que muitas nações se recusaram a conceder asilo a ele. As ofertas destes dois países latino-americanos são um alívio para as autoridades russas, que enfrentam uma situação cada vez mais delicada e que temem provocar com este caso um aumento de tensões ainda maior com os Estados Unidos. "Um asilo para Snowden na Venezuela seria a melhor solução. Este país tem um sério conflito com os Estados Unidos. As coisas não podem ser piores. (Snowden) não pode viver eternamente no (aeroporto moscovita de) Sheremetievo", disse neste sábado em sua conta no Twitter Alexei Pushkov, chefe da comissão de Assuntos Exteriores da Duma, a câmara baixa do Parlamento. "A Rússia não quer que (Snowden) esteja aqui. Se quisesse ter concedido asilo a ele, teria feito imediatamente", comentou Maria Lipman, representante em Moscou do Centro Carnegie. A analista ressaltou que o presidente russo, Vladimir Putin, um ex-espião do KGB, não deve ter muita simpatia em relação ao fugitivo, embora tenha descartado categoricamente extraditá-lo aos Estados Unidos. "Putin não vai ajudar alguém que revela segredos de Estado", explicou Lipman. "Não temos nenhum interesse por ele, gostaríamos que fosse para outro lugar", afirmou Alexandre Konvalov, especialista do Instituto de Avaliações Estratégicas. Ainda existem, no entanto, muitas incertezas sobre a maneira pela qual este jovem de 30 anos, cujo passaporte foi cancelado pelos Estados Unidos, possa viajar a um país de acolhida sem ser interceptado pelos americanos. Não pode teoricamente abandonar a zona de trânsito do aeroporto de Sheremetievo para ir a outro aeroporto, como, por exemplo, o de Vnukovo, onde chegam ou de onde partem as aeronaves de líderes estrangeiros. Também não existe voo comercial direto entre Moscou e Caracas, ou Moscou e Manágua, o que o obrigaria a fazer escala em outro país, que, por sua vez, deve dar autorização para que volte a decolar. Outro risco é que os países se recusem a abrir seu espaço aéreo ao avião que leva Snowden. Efetivamente, o caso de Snowden desencadeou uma crise diplomática entre o bloco da Unasul e os países europeus, entre eles Itália, Espanha, França e Portugal, depois de terem negado na terça-feira o uso de seu espaço aéreo à aeronave do presidente boliviano, Evo Morales, quando ele voltava de uma reunião na Rússia, por suspeitas - infundadas - de que o americano poderia estar a bordo da aeronave. Este incidente levou a uma reunião da Unasul na quinta-feira em Cochabamba, na qual os países europeus envolvidos foram chamados a dar explicações e a pedirem desculpas à Bolívia pelo incidente. Os Estados Unidos pediram que a Rússia entregue Snowden, embora não exista nenhum acordo de extradição entre os dois países. França e Itália declararam na quinta-feira que não concederão asilo ao americano, assim como Alemanha, Brasil, Noruega, Índia, Polônia, Islândia, Áustria, Finlândia, Holanda e Espanha.