Sobre a dívida da usiminas

Publicado em 20/04/2016 às 14:57.Atualizado em 16/11/2021 às 03:02.

A Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Usiminas, acontecida na última segunda-feira, marcou uma trégua na guerra entre os sócios controladores. Transcorreu na mais absoluta paz e tranquilidade. Durou menos de meia hora e, por unanimidade, foi aprovada a proposta da Nippon Steel de aumento de capital da siderúrgica em R$ 1 bilhão.

Agora, os acionistas terão 30 dias (contados a partir de ontem) para se pronunciar se acompanham ou não o aumento de capital. Ainda não se sabe se a ítalo-argentina Ternium/Techint exercerá plenamente seu direito de preferência. Mas a Nippon já se comprometeu a subscrever o equivalente à sua participação e ainda comprar todas as sobras.

O aumento de capital é o primeiro passo para a reestruturação financeira da Usiminas que evitaria sua insolvência e pedido de recuperação judicial. Abalada pela queda da demanda e dos preços do aço, a empresa apresentou prejuízo de R$ 3,685 bilhões no ano passado. Com geração de caixa negativa, parou de pagar seus compromissos com os bancos em meados do mês passado. A capitalização da empresa pelos sócios é uma exigência dos bancos credores para renegociar as dívidas, o que envolverá carência e alongamento dos prazos.

A divulgação do balanço do primeiro trimestre está marcada para a próxima segunda-feira. De posse dos novos números, saberemos mais claramente o tamanho do rombo e qual o esforço necessário para reerguer a empresa. Mas, baseado na evolução dos principais indicadores dos últimos trimestres, podemos fazer um exercício de projeção para termos pelo menos uma ideia do que está por vir. Pelo menos na relação entre geração de caixa e dívida líquida, que é vital.

Uma coisa é certa. O resultado dos doze meses acumulados até março serão os piores da história da empresa. Isso porque os do encerramento de 2015 já tinham sido os piores da história. E deste balanço, para contabilizarmos os resultados do acumulado de 12 meses até março, sairá o primeiro trimestre do ano passado, que foi razoavelmente bom, para entrar o primeiro trimestre deste ano, que virá muito ruim.

O ebitda da Usiminas (a geração de caixa, que mostra a capacidade da empresa de honrar os compromissos com os bancos) deverá, pela primeira vez, vir negativo no acumulado de 12 meses. No ano passado, o ebitda ainda foi positivo em R$ 290 milhões. Mas, agora, sairá o ebitda de R$ 380 milhões do primeiro trimestre do ano passado, para entrar um negativo que, se mantida a tendência, será maior que os R$ 250 milhões contabilizados no último trimestre de 2015.

Com o ebitda negativo, deixa de fazer sentido falar em alavancagem. No ano passado, essa alavancagem já era de estratosféricas 21 vezes, ou seja, a dívida líquida era 21 vezes maior que o ebitda. Agora, com ebitda negativo, essa alavancagem vai ao infinito.

Além disso, a dívida líquida deverá dar um salto bastante razoável. Não apenas porque os juros não pagos estão sendo incorporados ao estoque, mas principalmente porque o caixa da empresa deve apresentar uma redução muito significativa, já que está sendo usado para cobrir custos operacionais. Ao final do ano passado, esse caixa era de R$ 2,024 bilhões. Digamos que, numa projeção otimista, esse caixa tenha mantido o ritmo de queda dos últimos trimestres, de cerca de R$ 400 milhões. Então, a dívida líquida subiria para algo próximo a R$ 6,2 bilhões. Agora, se estiverem certas as informações de que a companhia estaria raspando o fundo do caixa já em meados de março, então a dívida líquida poderia ser guindada para algo próximo aos R$ 8 bilhões. Se o pior se confirmar, significará que a empresa ainda corre risco, mesmo com a injeção de R$ 1 bilhão.

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