Os combates continuam nesta quarta-feira na cidade de Bor, no Sudão do Sul, disse um funcionário do governo do país, descrevendo o local como "uma zona de guerra", onde o exército e os rebeldes ainda se enfrentam mesmo depois de ambas as partes se comprometerem a negociações de paz na vizinha Etiópia.
Bor, capital do Estado de Jonglei, é o epicentro da violência étnica decorrente da rivalidade política entre o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e o vice-presidente deposto, Riek Machar, líder rebelde acusado de conceber uma tentativa de golpe fracassada. Mais de 1 mil pessoas já foram mortas no confronto, de acordo com as Nações Unidas.
"Há confrontos acontecendo em Bor. É uma zona de guerra", disse o ministro das Relações Exteriores do país, Barnaba Marial Benjamin. A disputa é pelo controle da cidade, que fica a apenas 120 quilômetros da capital Juba.
As tropas do governo se retiraram de partes de Bor, porque temiam matar "meninos" que enchem as fileiras dos rebeldes, disse o diretor-executivo do grupo Empoderamento Comunitário para o Progresso, com sede em Juba, citando relatos de contatos em Bor.
Delegados de ambos os lados devem chegar à Etiópia ainda nesta quarta-feira para o início das negociações de paz.
A escalada da violência em Bor tem sobrecarregado os trabalhadores humanitários. Há uma preocupação crescente de que a situação possa se deteriorar ainda mais se os dois lados não chegarem a um acordo de cessar-fogo em breve. "Mesmo com os tremendos esforços feitos por parceiros da saúde e saneamento, as condições ainda são inadequadas, em grande parte devido ao grande número de pessoas abrigadas em bases das Nações Unidas, que têm espaço insuficiente", disse Abdi Aden Mohammed, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Sudão do Sul. "Juntamente com condições inadequadas de água e saneamento, a superlotação nos acampamentos pode criar condições favoráveis para surtos de doenças."
Relatos nos últimos dias deram conta de que milhares de combatentes rebeldes leais ao "Exército Branco" de Machar estavam seguindo na direção da cidade perdida para as forças do governo em 24 de dezembro. A unidade humanitária da União Europeia relatou na terça-feira que ocorreram pesados combates perto do complexo das Nações Unidas em Bor.
A Casa Branca expressou profundas preocupações na terça-feira sobre a frágil situação no Sudão do Sul, pedindo a Kiir e Machar que tomem medidas imediatas para acabar com o conflito. "Continuamos pedindo uma cessação imediata das hostilidades para estabilizar a situação e permitir o acesso humanitário completo à população civil, que segue com extrema necessidade de ajuda", disse a porta-voz da Casa Branca Caitlin Hayden. "Os Estados Unidos vão negar apoio e trabalhar para aplicar pressão internacional contra todos os elementos que usam a força para tomar o poder."
Na terça-feira, o exército sudanês disse ter recapturado diversas áreas que fazem fronteira com o Sudão do Sul. Um porta-voz das forças armadas citado pela imprensa estatal disse que as tropas haviam entrado na área de Al-Ardiba, na parte leste das montanhas de Nuba. Apesar de vários mortos e feridos, as tropas apreenderam "mais de 30" veículos militares, segundo comunicado.
Os rebeldes negaram ter perdido qualquer posição no Estado. O Exército Popular de Libertação - Norte (SPLA -N), que tem lutado contra as tropas do governo em Estados fronteiriços desde 2011, negou a alegação do exército de avanços em Kordofan do Sul. "É verdade que há confrontos em curso na área, mas nenhum dos lados controla a região", acrescentou. Fonte: Associated Press e Dow Jones Newswires.