A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) encerrou o ano de 2014 com uma taxa de desemprego de 2,9%, a menor já apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde o início da série histórica, em março de 2002. O percentual, no entanto, pode iludir, de acordo com analistas.
Ocorre que a população em idade ativa (acima de 10 anos) fora do mercado de trabalho aumenta em velocidade superior à taxa de desemprego, o que diminui o universo pesquisado e permite estatisticamente que o indicador de desemprego apresente queda, mesmo com o fechamento de postos de trabalho sendo maior do que as vagas criadas.
Na RMBH, 2,052 milhões de pessoas em idade ativa não estão empregadas ou sequer procurando emprego, e 89,5% desse total são pessoas que declaram que não gostariam de trabalhar. Isso as retira do grupo de desempregados e as coloca no que o IBGE denomina População Não Economicamente Ativa. Esse contingente fora do mercado de trabalho representou em dezembro 44% da população em idade ativa, o maior percentual levantado pelo IBGE desde janeiro de 2006.
Em dezembro, o saldo do emprego na RMBH foi negativo em 68 mil vagas na comparação com igual mês do ano anterior. Nessa mesma base de comparação, as pessoas que deixaram o mercado de trabalho totalizaram 128 mil.
“A taxa de desemprego pode iludir. O mercado de trabalho está ruim desde 2013, piorou em 2014, mas a taxa de desemprego lembra a época do milagre econômico no Japão. O fato é que o mercado de trabalho está restrito, muita gente que havia voltado a trabalhar, agora está saindo de novo”, disse o analista do IBGE em Minas Gerais, Antonio Braz.
O professor de economia da UFMG Mário Rodarte observa que a esse fenômeno pode “mascarar o desemprego”. Da população que deixou o mercado de trabalho entre dezembro de 2013 e dezembro de 2014, as pessoas com 50 anos ou mais representam a maior parcela. Foram, nesse período, 81 mil pessoas. “São pessoas com a proteção dos direitos previdenciários que deixaram de fazer bicos ou não o encontraram mais para complementar a renda”, disse o professor.
Na faixa etária de 18 a 24 anos, 32 mil pessoas passaram a ser economicamente não ativas. “Grande parte disso são jovens, sem responsabilidade financeira para sustento da família, que optam por se qualificar mais”, disse Rodarte.
Economista considera o índice subdimensionado
A informalidade pode ser o caminho de quem deixou as estatísticas de emprego formal. Além do mercado mais enxuto e da falta de novas oportunidades, 0 professor de economia da Faculdade Ibmec, Felipe Leroy, chama a atenção para os dados que não são captados nas pesquisas.
“Quem deixou de procurar emprego e não é considerado desempregado, não necessariamente parou de trabalhar. A informalidade muitas vezes oferece ganhos que no mercado formal não se consegue. Como as pesquisas não identificam o contingente de trabalhadores informais, uma parcela da população chamada não economicamente ativa pode estar nesse tipo de ocupação”, afirmou.
Para ele, a taxa de desemprego na RMBH, de 2,9%, está subdimensionada. “O IBGE já mudou suas metodologias de pesquisa diversas vezes. Antes demorava seis meses para a pessoa ser considerada fora do mercado. No cenário atual, é complicado afirmar que as pessoas que não trabalham e não são desempregadas, tenham desistido de achar um emprego. O emprego simplesmente não existe, por isso não há procura”, afirmou.
Entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, o desemprego em Belo Horizonte é o mais baixo, em 2,9%. No Rio de Janeiro a taxa apurada foi de 3,5%, em São Paulo, de 4,4% e em Recife, de 5,5%. Salvador e Porto Alegre apresentaram desemprego de 5,5% e 3,6%, respectivamente. A média das regiões pesquisadas foi de 4,3%.
Assim como foi percebido na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na média do Brasil também foi apurada a redução do contingente de população economicamente ativa e aumento da população não economicamente ativa. De dezembro de 2013 até 2014, aumentou em 423 mil pessoas o grupo não economicamente ativo e, em paralelo, houve diminuição em 300 mil da população economicamente ativa.
Segundo o IBGE, 90% dos inativos são pessoas que não gostariam de trabalhar. “A Pnea (População Não Economicamente Ativa) são quase 19 milhões de pessoas e 90% delas não gostariam de trabalhar. Sempre foi esse grupo que cresceu, o que não gostaria de trabalhar. É um grupo formado principalmente por idosos ou pessoas muito jovens. Ou que não entraram ainda no mercado de trabalho, ou que já saíram. Com o envelhecimento da população, essa parte mais envelhecida da Pnea tem tendido a crescer”, apontou a técnica do IBGE Adriana Beringuy.
Em dezembro de 2014, 91,2% dos inativos estavam no grupo de pessoas que não gostariam de trabalhar.