Tensão no Egito antes de manifestações a favor e contra Mursi

Jailan Zayan - AFP
28/06/2013 às 15:36.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:34

CAIRO - Milhares de egípcios saíram às ruas nesta sexta-feira (28) para se manifestar, uns em apoio a Mohamed Mursi e outros para exigir a saída do presidente islamita, em um país profundamente dividido entre opositores e defensores do atual governo.

Temendo novos episódios de violência, o Exército reforçou sua presença nas grandes cidades para proteger os prédios públicos. Mas violentos confrontos já foram registrados entre prós e anti-Mursi em Alexandria, segunda maior cidade do Egito. De acordo com a agência de notícias oficial Mena, uma pessoa morreu e 70 ficaram feridas até o momento.

Os partidos islamitas convocaram uma manifestação de "duração indeterminada" a partir desta sexta-feira, com o objetivo de defender a "legitimidade" de Mursi, que a oposição acusa de monopolizar o poder.

Eles se reuniram em frente à mesquita Rabaa al-Adawiya de Nasr City, subúrbio do Cairo.

Na Praça Tahrir, no centro da capital, e em outros bairros, milhares de manifestantes anti-Mursi carregam em passeatas bandeiras egípcias aos gritos de "Fora!".

Os opositores ao regime também protestam no Delta do Nilo(norte) e em Port Said, às margens do Canal de Suez, segundo uma autoridade da Segurança.

Estas demonstrações de força aumentam o clima de tensão no país, onde quatro pessoas morreram e 30 ficaram feridas na noite de quinta-feira em confrontos entre partidários e opositores de Mursi em Ach Charqiya, norte.

O Egito está profundamente dividido entre os partidários, que afirmam que o presidente está limpando as instituições de décadas de corrupção, e seus opositores, que o acusam de concentrar o poder nas mãos de seu movimento, a Irmandade Muçulmana.

Em 21 de junho, dezenas de milhares de islamitas se reuniram em apoio a Mursi, primeiro presidente civil do Egito.

A oposição convocou uma manifestação em massa no domingo, data do aniversário de um ano de posse do presidente, para exigir eleições antecipadas.


===== Exército pronto para intervir =====


Prevendo esta mobilização, empresas e lojas anunciaram que não devem abrir suas portas no domingo, dia que marca o início da semana no Egito.

No Cairo, algumas pessoas sacaram dinheiro e fizeram estoques de comida, enquanto longas filas se formaram nos postos de combustível.

Neste contexto de incerteza, o ministro da Defesa, Abdel Fattah al-Sissi, declarou que o Exército está preparado para agir em caso de violência durante as manifestações.

As Forças Armadas já haviam assumido o poder Executivo após a queda do governo de Hosni Mubarak durante a revolta do início de 2011.

A legitimidade do presidente Mursi, que tomou posse em 30 de junho de 2012, é o centro das tensões entre seus partidários e seus opositores, mobilizados pelo movimento popular Tamarrod (rebelião, em árabe).

Criado em abril para exigir a saída de Mursi, o movimento afirma ter reunido 15 milhões de assinaturas cobrando a realização de eleições presidenciais antecipadas.

Os opositores de Mursi denunciam a intenção da Irmandade Muçulmana de controlar todas instâncias de poder e tentar impor sua ideologia islâmica à sociedade. Mursi também é acusado de não saber lidar com a grave crise econômica que aflige o país.

Seus partidários, no entanto, apontam que ele adquiriu legitimidade em uma votação democrática, e acusam a oposição de fazer o jogo da "contra-revolução", procurando destituí-lo nas ruas e impedindo a substituição de alguns funcionários acusados de serem da era Mubarak.

Na quarta-feira, o presidente Mohamed Mursi advertiu em um discurso televisionado que as divisões ameaçam "paralisar" o país.

Em seu discurso, o presidente egípcio prometeu reformas e fez um apelo ao diálogo.

"Para que a revolução alcance seus objetivos, são necessárias reformas profundas", disse Mursi, referindo-se à revolução que derrubou o presidente Hosni Mubarak em 2011.

O presidente reconheceu que havia cometido "erros" no primeiro ano de seu mandato. "Cometi muitos erros, é indiscutível. Erros podem ser cometidos, mas têm que ser corrigidos", reconheceu.

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