O dia era 19 de Junho. O ano era 1996.
A cidade era São Paulo.
O local era o saudoso Parque Antártica, antes um estádio modesto, mas que acomodava bem a torcida.
O jogo também era válido pela Copa do Brasil.
Em campo, nomes antológicos do futebol moderno: Cafu, Júnior, Djalminha, Rivaldo e Luizão treinados por nada mais, nada menos que Vanderlei Luxemburgo.
O clima era de festa para a imprensa paulista e os torcedores do Palmeiras.
Poucos acreditavam na conquista do Cruzeiro.
Quando a bola rolou, a confiança dos palmeirenses aumentou ainda mais, quando Luizão, logo aos cinco minutos, abriu o placar para os donos da casa.
Eu assistia a partida pela TV e ouvia, além do narrador Silvio Luiz gritar ensandecido sua peculiar fala: “foi, foi, foi, foi ele... o craque da camisa número 9”, também ouvia o comentarista Orlando Duarte afirmar por mais de uma vez:
“Amigos telespectadores do SBT, aqui hoje, só posso ver uma coisa em minha frente: a Sociedade Esportiva Palmeiras levantando a Taça de Campeã da Copa do Brasil”.
Na Tribuna do Parque Antártica, o presidente Zezé Perrela assistia à partida ao lado do presidente do Palmeiras, Mustafá Contursi e o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Consta no site Baú do Cruzeiro uma declaração do Perrela sobre o que teve que ouvir após aquele gol de Luizão:
“Quando o Palmeiras marcou o gol, os dois começaram a me consolar. Disseram que eu era jovem, que ainda conquistaria muitas coisas pelo Cruzeiro. Fiquei calado, não retruquei. Sabia que o time do Palmeiras era uma seleção, mas confiava na virada no placar e, principalmente, na grandeza do Cruzeiro. Além disso, já era vivido o suficiente para saber que futebol apronta das suas. Eles eram favoritos, porém tudo é possível nesse esporte”.
E ele não estava errado.
Ainda no primeiro tempo, aos 25 minutos, após cobrança de escanteio pela direita Palhinha se atrapalhou com a bola, mas, após uma furada incrível do volante Amaral, Roberto Gaúcho aproveitou e finalizou rasteiro, entre a trave e o goleiro Velloso empatando a partida e tirando um pouco a euforia da torcida e dos dirigentes do verdão.
Mas, o Palmeiras ainda teria a vantagem do empate, visto que havia ganhado do Cruzeiro em pleno Mineirão, na primeira partida.
Então, o que parecia impossível, aconteceu: aos 38min Marcelo Ramos recuperou uma bola no meio-campo e lançou Roberto Gaúcho na esquerda.
O ponta passou por Sandro, foi à linha de fundo e cruzou para a área. Velloso saltou, tentou segurar a bola no alto, mas a deixou escapar. Marcelo, oportunista, completou para o fundo da rede.
Era o gol do título e o início de festa no Parque Antárctica, mas para a minoria cruzeirense que estava no estádio.
Conheço muita gente que nem torcia para o Cruzeiro na ocasião vibrar com esse gol.
Pois, naquele dia que o Cruzeiro derrubou o Palmeiras em seus domínios, contra a imprensa brasileira, a Parmalat e o mundo, ficou claro que toda arrogância será castigada.