Este 7 de Setembro deve ser diferente de todos os outros que o precederam, se as manifestações esperadas para hoje em 149 cidades de fato ocorrerem como o esperado pelo grupo de ativismo hacker Anonymous e pelos outros que fizeram mais de 5 milhões de convites nas redes sociais.
As motivações para sair às ruas são as mais diversas. Para protestar contra o voto obrigatório, contra os altos salários de deputados e senadores, contra a remoção de famílias em áreas invadidas, inclusive em parques públicos. Ou para exigir reforma política, prisão dos mensaleiros, apoio à juventude das periferias, melhorias na educação, na saúde e na segurança. E até para boicotar a Copa do Mundo.
Nessa lista divulgada ontem não consta, ironicamente, um assunto muito discutido durante a semana e que tem ligação direta com a data. Ou seja, com a independência do Brasil frente às potências econômicas mundiais.
O que motivou o grito da independência, às margens do Ipiranga, que as comemorações de hoje pretendem relembrar, foi exatamente isso. Na época, Portugal, pretenso dono do Brasil, se submetia a um poder maior, a Inglaterra. D. Pedro I pensou que poderia romper essas amarras. Enganou-se. A história tem demonstrado que o Brasil, apesar de todos os esforços, não se desvencilhou. Este “gigante pela própria natureza” e seu berço esplêndido sempre foram objetos da cobiça mundial.
Essa cobiça aflorou, mais uma vez, quando a presidente da República e seus assessores tiveram seus e-mails devassados por uma agência de espionagem dos Estados Unidos no momento em que o Brasil discutia como explorar e repartir as riquezas do pré-sal. Isso parece não motivar os jovens que vão sair hoje às ruas, mascarados ou não, para protestar. Talvez fosse melhor selecionar com mais cuidados os temas e mostrar com denodo o rosto, para defendê-los em praça pública.
A presidente Dilma Rousseff, que viajou à Rússia para a reunião das 20 nações mais ricas, provavelmente defendeu ali os interesses do Brasil. Pelo menos, arrancou do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a promessa de apurar a espionagem contra o governo brasileiro e enviar uma resposta até a próxima quarta-feira.
O episódio não pode ser minimizado. E os temas dos protestos de hoje, até os menos importantes, devem ser levados em consideração. Sobretudo, se forem manifestações pacíficas. Morrer não é, definitivamente, o melhor caminho para a independência.