O governo federal continua subestimando a profunda gravidade da atual crise econômico-financeira do Brasil. É imenso o número de falências de micro, pequenas e médias empresas, comerciais e industriais. As taxas de desemprego vêm crescendo, sendo atualmente a maior já registrada desde o início de seu cálculo pelo IBGE, em janeiro de 2012. Essas taxas seriam ainda maiores se fosse computado o número dos desempregados desalentados, aqueles que desistiram de procurar emprego à medida que vai se prolongando a recessão da economia. E também aqueles que estariam em busca de emprego se o mercado de trabalho estivesse mais dinâmico e promissor.
A equipe econômica está totalmente concentrada na estratégia de aprovação da PEC que limita os gastos do governo federal e na discussão do projeto de reforma da Previdência Social. Uma estratégia correta quando se tem em vista a indispensável reestruturação das contas públicas para livrar o país da insolvência financeira que, lentamente, vai se aproximando se não houver uma reversão de expectativas entre as instituições e os agentes econômicos. Mas faltam medidas complementares e efetivas para a retomada do crescimento econômico, oriundas principalmente da política monetária.
Por outro lado, os resultados e os impactos dessas medidas e reformas aparecerão, gradualmente, apenas no médio prazo, talvez a partir de 2018. Não são suficientes para impulsionar, no curto prazo, o crescimento de uma economia fragilizada e anêmica. E é no curto prazo que os empresários têm de tomar decisões sobre encomendas, emprego e financiamento, as quais serão determinantes para a qualidade da conjuntura dos trimestres seguintes.
Ficarão atentos ao contexto do futuro imediato de duas variáveis: o poder de compra da massa salarial e a evolução das taxas de juros da economia. Segundo as estimativas do IBGE, com o desemprego em alta, o rendimento médio dos trabalhadores acabou caindo, bem como caiu a massa de rendimento real do trabalho. Tanto essa massa, como o rendimento médio atual voltaram aos patamares de 2013, descontada a inflação. Nesse contexto de queda do poder aquisitivo, somada ao receio do desemprego, não se pode esperar uma expansão de demanda de mercado vinda das classes C e D, indutoras do movimento maior dos negócios da economia.
Ademais, a decisão do Banco Central na semana passada de estabelecer um corte mínimo na taxa de juros básica sinalizou que pouco vai mudar na conjuntura econômica do último trimestre do ano, pois os juros a serem pagos pelos consumidores continuarão na estratosfera, o que deverá estimular mais cortes de despesas das famílias responsáveis e maior preferência pela liquidez como efeito-precaução.
Neste último trimestre do ano, as decisões a serem tomadas por empresários e consumidores deverão criar um efeito boomerang perverso sobre as atividades econômicas e os níveis de emprego no próximo ano.
Com uma expectativa desalentadora sobre o futuro imediato menos se emprega de mão de obra temporária e menores serão as encomendas à indústria e a formação de estoques. Decisões que irão rebater sobre a programação da produção industrial, sobre o emprego e sobre a renda no primeiro trimestre de 2017.
Serão de iniciativas endógenas das autoridades incumbentes que poderão surgir alternativas ao atual estado geral da nação. Não há como negar que a atual política tem uma sequência longa e árdua para entregar resultados significativos, uma agenda curta dos problemas que precisam ser confrontados, além de um intenso poder destrutivo de organizações, de sonhos e de esperanças dos brasileiros.