O papa Bento XVI pediu, na quinta-feira (15), em reunião com o clero romano, uma verdadeira renovação da Igreja Católica. Defendeu que sejam mantidas as metas do Concílio Vaticano II, aberto por João XXIII em 1962 e encerrado por Paulo VI três anos depois. Além de proclamar a opção preferencial pelos pobres, desse importante Concílio nasceu a Teologia da Libertação que no Brasil tinha entre seus principais teóricos o franciscano Leonardo Boff.

Durante os 27 anos de reinado de João Paulo II, o então cardeal Joseph Ratzinger comandou a Congregação para a Doutrina da Fé, sucessora da temível Santa Inquisição, e iniciou o desmonte das Comunidades Eclesiais de Base e da Teoria da Libertação. Uma de suas vítimas foi Leonardo Boff, que lamentou recentemente ter feito a Igreja Católica, de novo, opção pelos ricos. A ala conservadora assumiu o comando, mas não conseguiu a união da Igreja e nem pôde evitar a deserção de milhares de padres ou a perda de fiéis para outras religiões. Tendo em vista o que declarou ontem, o papa admite que João XXIII estava certo.

Nos últimos anos, ocorria no Vaticano surda disputa entre três grupos direitistas pelo domínio da Igreja. Durante o papado de Bento XVI, iniciado em abril de 2005, houve predomínio dos conservadores no comando da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Mas em 2011, o arcebispo de Aparecida, o mineiro Raymundo Damasceno, considerado um conciliador, foi eleito presidente da CNBB, seis meses após ter sido nomeado cardeal. Bento XVI vinha procurando afastar a religião das questões político-partidárias, como afirmou o presidente da CNBB, em setembro passado, após divulgação de nota da Arquidiocese de São Paulo com ataques ao PRB, partido de Celso Russomanno, o candidato a prefeito que vinha liderando as pesquisas.

Ao longo de sua existência, a Igreja Católica se envolveu em questões políticas. E continuou assim durante o longo reinado de Pio XII, que fez aliança com Hitler e Mussolini. Mais recentemente, João Paulo II se aliou com os Estados Unidos para destruir a União Soviética.

A Igreja Católica continua sendo uma instituição religiosa política e culturalmente importante, daí o interesse mundial pela sucessão de Bento XVI, que afirma não querer interferir na eleição marcada para março. Dos 118 cardeais em condições de votar, 67 foram nomeados por ele. Depois, Ratzinger pede para não ser esquecido nas orações, “apesar de eu estar escondido do mundo”.

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