Em uma forte demonstração de apoio ao resultado das eleições venezuelanas, a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) divulgou na madrugada desta sexta-feira (às 3h10, horário de Brasília) uma declaração em que reconhece o resultado do pleito do último domingo, que elegeu o chavista Nicolás Maduro por uma margem inferior a dois pontos percentuais. O posicionamento da Unasul é uma resposta dos países sul-americanos às manifestações do governo dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA), que defendem uma recontagem de votos.
A declaração felicita o povo venezuelano pela "massiva participação" nas eleições presidenciais de 14 de abril e "saúda o presidente Nicolás Maduro pelos resultados dos comícios e sua eleição como presidente da República Bolivariana da Venezuela". Também insta todos os "setores que participaram do processo eleitoral a respeitar os resultados oficiais da eleição presidencial emanados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), autoridade venezuelana competente na matéria".
"Todo (
) questionamento ou procedimento extraordinário solicitado por algum dos participantes do processo eleitoral deverá ser canalizado e resolvido dentro do ordenamento jurídico vigente e da vontade democrática das partes", sustenta a declaração.
A reunião extraordinária durou cerca de três horas e meia e foi convocada pelo presidente peruano, Ollanta Humala. A chanceleria peruana alega que a reunião atende à solicitação de alguns Estados-membro, mas não especificou qual deles que pediu a realização do encontro. O Peru ocupa a presidência temporária da Unasul.
O Brasil já havia reconhecido o resultado das urnas na Venezuela, mas acompanha com atenção os desdobramentos e teme os episódios de violência nas ruas, que já deixaram pelo menos sete mortos. Em Lima, houve protestos ao longo da quinta-feira à frente da embaixada venezuelana.
O resultado das eleições venezuelanas foi contestado pelo líder da oposição, Henrique Capriles - a diferença de voto entre ele e Maduro foi inferior a dois pontos percentuais, contrariando institutos de pesquisa que previam uma margem bem maior. A Casa Branca e OEA já se manifestaram a favor de uma recontagem de votos, negada pelo CNE.
"Viemos defender a democracia venezuelana, para expressar nosso apoio ao presidente Nicolás Maduro. A defesa da democracia é o mais importante", afirmou o presidente da Bolívia, Evo Morales, antes de participar da reunião.
"(O triunfo de Maduro) é produto da legitimidade, da legalidade, das eleições da Venezuela. A Unasul, depois da sua fundação, se constituiu uma instituição de Estados para defender a democracia frente à agressão do império, frente a provocações de Estados Unidos."
Um dos integrantes da extensa comitiva venezuelana foi flagrado por jornalistas carregando papéis com a compilação de tuítes de Capriles no microblog Twitter, mas o funcionário negou que o material fosse ser utilizado na reunião. "Espero que tudo saia bem", afirmou Maduro ao desembarcar em Lima.
Além de Maduro, Morales e Humala, participaram da reunião no Palácio de Governo do Peru os presidentes José Mujica (Uruguai), Cristina Kirchner (Argentina), Dilma Rousseff (Brasil), Sebastián Piñera (Chile) e Juan Manuel Santos (Colômbia) - o Paraguai foi suspenso após o impeachment relâmpago de Fernando Lugo; o Equador, por sua vez, enviou o vice-presidente Jorge Glass.
A declaração anunciada na madrugada desta sexta-feira também prevê a criação de uma comissão da Unasul para acompanhar a investigação dos atos violentos ocorridos na Venezuela um dia após a divulgação do resultado. Os países da Unasul, por meio da declaração, expressam "solidariedade com os feridos e as famílias das vítimas fatais", invocando que se preserve um "clima de tolerância em benefício de todo o povo venezuelano".
De Lima, a presidente Dilma Rousseff seguiria na madrugada para Caracas, onde deve acompanhar hoje a posse de Maduro, em mais um gesto de apoio ao chavista. "A vida é dura", afirmou a presidente ao sair do Palácio de Governo do Peru.
Questionado se estava satisfeito com a declaração, Maduro respondeu a jornalistas: "Muito satisfeito".
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