Vamos falar claramente?

01/06/2016 às 07:42.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:41

As gravações que derrubaram os ministros Romero Jucá (que ocupou por apenas 12 dias a pasta do Planejamento) e Fabiano Silveira (19 dias na Transparência) não deixam dúvida de que o principal objetivo do governo interino comandado por Michel Temer é abafar a operação “Lava Jato”. E a central de desmonte das investigações será o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, independentemente de quem venha a ser escolhido para substituir Silveira. Ou melhor, a escolha do substituto será feita a partir de sua capacidade e concordância em operar esse desmonte.

Não é preciso ser vidente. A extinção da antiga Controladoria-Geral da União (CGU) e sua transformação em Ministério da Transparência visa contaminar politicamente um órgão absolutamente técnico. Trata-se de uma jogada cheia de malícia, mas muito mal disfarçada.

A questão é a seguinte: como a CGU era um órgão de assistência direta da Presidência da República, Michel Temer precisaria sujar as mãos para fazer as mudanças estruturais necessárias para brecar as investigações. Já como Ministério da Transparência, as mudanças nas estruturas, nos procedimentos, nas competências e nas equipes técnicas da antiga CGU ficarão a cargo do futuro ministro e de sua equipe de assessores.

Entenderam como se sufoca um órgão técnico incômodo? Colocando políticos para dirigi-lo.

E, só para lembrar, a antiga CGU respondia pelo sistema interno de controle do executivo federal. Era responsável por receber, checar e dar andamento às denúncias de corrupção. Formava, ao lado do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, o tripé de sustentação da “Lava Jato” e de todas as demais operações anticorrupção, na fase investigativa que antecede a Justiça.

Seis por meia dúzia
Para quem apostava em dias mais tranquilos na economia a partir da saída da presidente Dilma, maio foi uma grande frustração. No mês em que Temer governou por 20 dias, o Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas na Bovespa, fechou com queda de 10,1%. Trata-se do maior recuo em vinte meses, desde setembro de 2014. Já o dólar comercial, que fechou ontem cotado a R$ 3,614, encerrou o mês acumulando alta de 5,10%, maior valorização desde setembro de 2015, quando o país perdeu o grau de investimento.

O fato é que, em maio, não se passou um dia sem denúncias e pressão sobre o governo. Ontem, as novidades espelharam o que foi o nervosismo de todo o mês: o pedido de indiciamento do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, no âmbito da Operação Zelotes, e os novos acordos de delação premiada do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e do filho de Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro, responsável pelos grampos que derrubaram os ex-ministros Jucá e Silveira.

O temor do mercado é que o avanço da “Lava Jato” e da Zelotes sobre membros do governo e políticos da base aliada tire poder de ação de Temer na política e do ministro Henrique Meirelles na economia. Como as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal não dão sinais de perder força, cresce o receio de que um Congresso acuado e insatisfeito dificilmente aprovará o pacote de medidas estruturais para conter o déficit que será proposto por Meirelles.

E a desconfiança, também crescente, é a de que se trocou seis por meia dúzia com a saída de Dilma e a entrada de Temer.

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