O mercado brasileiro de automóveis é movido por fatores como: confiabilidade, liquidez, prestígio e mitos. Isso mesmo, os mitos.
No varejo, nas revendas de usados, nas oficinas, a linha que separa um carro de ser lançado aos píncaros da glória ou jogado ao limbo da difamação é muito tênue.
Muito da boa fama, ou a infâmia, se dá pela durabilidade de seus componentes, preços de peças de reposição ou complexidade de seus motores. Marcas como a Citröen e a Peugeot ainda sentem os impactos de seus antigos e frágeis modelos do passado. A confiabilidade só mudou quando eles passaram a vir equipados com motores Fiat.
E curiosamente os motores que equipam os modelos nacionais das francesas utilizam uma arquitetura que se tornou o alvo favorito dos detratores: o motor três cilindros.
O bloco três cilindros estreou no mercado brasileiro nos anos 2000. O Kia Picanto foi o primeiro modelo a contar com esse tipo de configuração. Mas eles começaram a se tornar populares a partir dos anos 2010, com as estreias de HB20 e Up. Depois se espalhou pelos segmentos de hatches, sedãs, SUVs e até picapes compactas.
E qual é o problema do motor com apenas um cilindro? Nenhum. Na verdade, o problema está em quem dirige o carro e no cuidado empregado ao automóvel. Esses motores podem rodar milhares de quilômetros, se seus proprietários forem criteriosos com o cronograma de manutenção.
Isso inclui troca de óleo nos prazos corretos. Uso do lubrificante especificado no manual do proprietário, assim como a substituição do líquido de arrefecimento dentro do prazo estipulado para troca.
São cuidados que muitos consumidores negligenciam, não dão conta, ou apenas empurram com a barriga por considerar o valor dos fluidos caros demais. No entanto, a distração e a economia de palito podem se converter em grandes prejuízos.
Uma das reclamações é que o motor três cilindros não aceita retífica, por diversas razões. No entanto, se o proprietário seguir rigorosamente o cronograma de manutenção, dificilmente o bloco irá fundir.
Campeão de vendas
Apesar das bravatas de porta de oficina, mesa de bar e discussões em redes sociais, hoje o bloco tricilíndrico é campeão de vendas. Quando olhamos para o ranking de emplacamentos de 2024, divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), dos 10 carros mais vendidos, oito utilizam motores três cilindros. Apenas os nono e décimo lugares contam exclusivamente com blocos quatro cilindros.
O Volkswagen Polo foi líder no segmento de carros de passeio com 140 mil unidades licenciadas em 2024, seguido do Onix com outras 97,5 mil e HB20, com 97 mil emplacamentos. Dos três, o Polo é o único que oferece uma versão com motor 1.4 de quatro cilindros, na versão esportiva GTS, que tem vendas ínfimas.