VEÍCULOS

Elétrico, zero-quilômetro e por menos de R$ 54 mil: mas só na China!

Em 2023, chineses que adquirirem o novo Air EV gastarão 20 vezes menos, para rodar, do que o brasileiro que tem um Renault Kwid

Homero Gottardello*
Especial para o Hoje em Dia
Publicado em 04/01/2023 às 15:12.Atualizado em 04/01/2023 às 15:29.
Wuling Air EV é o primeiro modelo global da SAIC-GM-Wuling ou, simplesmente, SGMW (Divulgação)
Wuling Air EV é o primeiro modelo global da SAIC-GM-Wuling ou, simplesmente, SGMW (Divulgação)

Quem sonha em comprar seu primeiro zero-quilômetro, em 2023, já teve ter tomado ciência de que a opção mais “em conta” do mercado brasileiro, neste início de janeiro, é o Renault Kwid Zen, que não sai por menos de R$ 66.590 – há exatamente um ano, sua versão correspondente, Life, custava 36% menos. É um valor aviltante para um modelo tão desqualificado e um aumento injustificável diante do índice nacional de inflação, que fechou 2022 em 6%. 

Mas bem longe daqui existe um país onde, por R$ 53.700 (a partir de 67.800 yanes), é possível adquirir um microcarro que, se não ostenta os traços renascentistas de um Michelangelo, um Rafael ou da Vinci, tem estilo moderno e acomodações para duas pessoas mais as compras do supermercado. Trata-se do Wuling Air EV (a grafia original traz o “ev” em letras minúsculas), primeiro modelo global da SAIC-GM-Wuling ou, simplesmente, SGMW que, para quem não conhece, é a união de três titãs globais da indústria automotiva: a SAIC Motor, maior das quatro estatais chinesas do setor; a General Motors (GM), companhia norte-americana que dispensa apresentações, e a Liuzhou Motors, braço do Wuling Group.

O Air EV é uma espécie de Smart ForTwo chinês, só que 100% elétrico. Ou seja, uma alternativa prática e econômica para os grandes centros – na China, onde o salário mínimo é 30% maior que o novo piso brasileiro, de R$ 1.320, ele é uma alternativa ao transporte coletivo, uma opção para quem deseja trocar trens, metrôs e ônibus pelo transporte individual e nada mais do que isso.

Portanto e antes das críticas mais raivosas, é preciso ter em mente que este é um automóvel feito exclusivamente para regiões metropolitanas europeias e megalópoles asiáticas e, não, para cidades como Franca (SP), Novo Hamburgo (RS), Uberlândia (MG), Caruaru (PE) e Palmas (TO), só para citar cinco importantes centros regionais daqui.

Posto isso, o grande mote do Air EV não é nem seu preço bastante acessível, mas seu “custo operacional” na ponta do lápis, já que seu consumo é quase 20 vezes menor que o de um Kwid. É verdade que o motor de 30 quilowatts (kW), que equivalem a 40 cv de potência, não sobressai pela cavalaria, mas a recarga de 30% a 80% das suas baterias não leva mais do que 45 minutos, no modo rápido – numa tomada de energia convencional, o recarregamento completo do pacote leva oito horas e meia, uma eternidade. Nos países onde o microcarro já é vendido, ele está disponível em duas versões, com autonomias de 200 e 300 quilômetros, respectivamente, e a única diferença entre elas fica por conta da capacidade das baterias de fosfato de ferro-lítio (LFP), que é de 17,3 kWh na primeira e 26,7 kWh, na segunda.

Para o leitor que tem família, o lançamento da Wuling está fora de cogitação, já que o Air EV é um automóvel minimalista, com 2,59 metros de comprimento – 1,09 m menor que um Kwid, mas apenas 10 cm inferior ao ForTwo. A distância entreeixos de 1,63 m, a largura de 1,50 m e altura de 1,63 m completam suas medidas – há uma versão de quatro lugares (nas fotos há uma em que os modelos de dois e quatro lugares aparecem lado a lado) também bastante compacta, com 2,97 m de comprimento. “Magrinho”, o microcarro pesa apenas 760 kg.

Sistema operacional LING

Internamente, o Air EV dispõe de suas telas de 10,2 polegadas, com destaque para o sistema operacional próprio, denominado LING, uma interface de compartilhamento, intercomunicação e redes sociais, que ainda traz assistente 3D, comandos de voz, e funções dedicadas de navegação (com direito a WeChat), áudio, serviços de pós-venda e i-banking (pagamento de contas, por exemplo). Remotamente, é possível “iniciar” o veículo – lembrando que um EV não tem motor de arranque – e fazer a seleção do ar-condicionado. Como o leitor pode ver, para além das dimensões mínimas e das linhas que parecem saídas de um mangá, existe um novo conceito de mobilidade – repito, frise-se, sublinho – para as grandes metrópoles – e não para Monte Sião (MG).

Agora, pense no seu bolso e no suado dinheirinho que você tem que trabalhar muito para conquistar: os chineses que aderiram à pré-compra no início de dezembro, por meio de um depósito de R$ 800 (oitocentos reais!), ainda terão um desconto de R$ 3.170 na hora da retirada do seu Air EV.

E se o amigo não entrou em 2023 queimando dinheiro, tenha em mente que, para cada vez que o infeliz dono de um Renault Kwid enche o tanque na cidade de São Paulo, deixando algo em torno de R$ 200 no caixa do posto, um chinesinho vai desembolsar, lá do outro lado do mundo, o equivalente a R$ 22 para percorrer a mesma distância até o combustível zerar.

Jornalista e advogado na  MESARA Advocacia & Consultoria

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