O carro elétrico já viveu dois momentos: a novidade e, em seguida, a massificação. Quando era novidade, ele impressionou pelo silêncio, pelo torque imediato e pela tecnologia.
Mas logo em seguida, se tornou um carro comum. Ninguém gira o pescoço para contemplar um elétrico. Pior, há quem considere um produto inferior, muito em função da falta de infraestrutura de recarga, assim como a autonomia limitada.
Mas fato é que não há como fugir da eletrificação. As normas de emissões estão cada vez mais restritivas. Basta ver que em janeiro passa a vigorar o Proconve PL8, que torna ainda mais rigorosos os limites de poluentes expelidos pelo escapamento.
Mas a questão pode se tornar ainda mais dramática. Para marcas generalistas, um carro elétrico na gama até ajuda a valorizar a imagem da marca. Mas quando a marca é especializada em esportivos, a conversa muda de tom.
A Porsche iniciou seu processo de eletrificação há alguns anos. Começou com Panamera e Cayenne híbridos. Logo em seguida lançou o Taycan, seu primeiro cupê executivo elétrico. E há poucos meses o inédito 911 híbrido.
Mas ela precisava ampliar sua participação. E para isso, ela decidiu eletrificar totalmente seu modelo de maior volume, o Macan.
O Macan chegou em 2014 e acumulou mais de 840 mil unidades produzidas. Um carro que compartilhava base com modelos como VW Tiguan e Audi Q5, mas com preço de Porsche.
Ele era a porta de acesso da marca, pois não custava tanto quanto um 911 ou 718. No entanto, entregava comportamento dinâmico de um legítimo Porsche.
Conferimos o Macan 4, segundo modelo na hierarquia da linha. Com preço sugerido de R$ 580 mil e um pacote de opcionais e personalizações que podem fazê-lo chegar perto dos R$ 800 mil, o SUV é superlativo.
Seus dois motores síncronos entregam 408 cv (potência do Volvo XC40) e torque de 57 kgfm. A maior parte da potência e do torque estão disponíveis no motor traseiro.
A Porsche explica que mesmo que o Macan seja um elétrico, ele precisa entregar a performance de um esportivo de Stuttgart. Assim, o segundo motor entra em ação quando há necessidade de tração nas rodas dianteiras, como em pisos de pouca aderência.
A aceleração do Macan 4 é brutal: 0 a 100 km/h em apenas 5,7 segundos. Já a velocidade máxima é limitada a 220 km/h para não penalizar a autonomia.
E por falar em autonomia, as baterias de 100 kWh (sendo 95 kWh disponíveis para tração) permitem rodar 443 km. E olha que estamos falando do sistema de medição do Inmetro, que é um dos menos otimistas do mundo.
Num carregador Wallbox de 11 kW, as baterias precisam de 10 horas espetado na tomada. Numa fonte de 135 kW (400 V), são 33 minutos para "encher o tanque". Mas ele permite ser carregado até mesmo em estações de 270 kW (800 V), em que bastam 10 minutos para regenerar 250 km.
Visual do Macan
O novo Macan manteve a silhueta da primeira geração, com estilo arredondado da coluna C, como deve ser em um Porsche. Os faróis passaram a contar com conjunto de dois níveis e luz diurna com formato retilíneo, que tem sido utilizado na gama (exceto no 911).
Por dentro, muita tecnologia, com direito a cluster digital, multimídia com tela dupla, conexão para smartphones, assistentes de condução, climatização digital, bancos elétricos, vários modos de condução e teto solar panorâmico. Mas ele pode ir além.
O Macan pode receber eixo traseiro direcional, suspensão com ajuste de carga e altura e até mesmo um imenso Head-Up Display, que projeta no para-brisas velocidade, dados do GPS, velocidade da via e até ponto cego e até indica que o motorista está invadindo a faixa ao lado.
Ao volante
Ao dar a partida, ao contrário dos demais modelos da marca (com exceção do Taycan), nada acontece. O silêncio impera. ajustando a transmissão para drive, ele começa a se deslocar sem ruído algum. O isolamento acústico é absurdo.
O Macan trafega de forma suave e macia, como qualquer carro elétrico. Um tédio, pelas ruas paulistanas.
Mas é possível tornar a brincadeira mais arisca. Ao entrarmos na rodovia, ativamos o modo Sport Plus. A suspensão ficou mais firme, assim como a direção. Um ronco "sintético" invadiu a cabine.
Esse barulhinho de mentirinha te estimula a pisar mais forte, os 57 kgfm de torque se revelam. O Macan 4 dá um salto e começa a ganhar velocidade de forma estonteante.
Ao volante, sentimos a falta das trocas de marchas. Afinal, ele tem uma única marcha. O barulhinho, junto do estômago colado no banco, é o que indica que estamos num esportivo de verdade, mesmo sem fumaça pelo escapamento. Admirável mundo novo.