BOGOTÁ - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nessa quarta-feira (17) que daqui a um ano a Missão Alimentação terá capacidade para atender a toda a população do país. “Hoje, vou aprovar os planos para multiplicar a missão”, informou em sua conta no Twitter. Atualmente, a população venezuelana enfrenta dificuldades para comprar alimentos da cesta básica.
A dificuldade atinge tanto produtos beneficiados pelo Programa Missão Alimentação – que consiste na venda estatal de alimentos com preços de 70% a 80% mais baratos que os comercializados na rede privada de supermercados – quanto os comercializados nos estabelecimentos particulares.
A Agência Brasil ouviu moradores de Caracas que falaram das dificuldades encontradas. A bioanalista Victoria Carmona, 27 anos, contou que tem sido muito difícil conseguir comprar frango, carne, farinha, arroz, leite e papel higiênico. “Está difícil em um supermercado normal e no mercado do governo. As filas são terríveis”, comentou.
Segundo ela, a maior dificuldade, no caso da rede privada, é que as pessoas estão comprando mais pelo medo de que faltem produtos. “O medo não é irreal, porque às vezes falta mesmo papel e leite. Por isso, quem pode compra e manda para os parentes que vivem no interior, onde o abastecimento tem sido mais difícil”, explicou.
Segundo Victoria, quando chega um produto no supermercado, as pessoas saem telefonando para os amigos e todos compram o máximo. “É comum a mãe, o marido e os filhos comprarem o mesmo produto para fazer estoque. Cada um entra, pega a quantidade limite de caixas de leite, por exemplo. Umas três pessoas da família vão comprar”, acrescentou.
Do mesmo modo, a diarista Dilia Ribero, 56 anos, tem dificuldades para conseguir comprar os produtos da cesta básica nos mercados estatais que vendem alimentos subsidiados pelo programa de alimentação.
Ela vive em um apartamento da Missão Vivenda, do governo venezuelano, em um bairro popular da capital. Dilia relata que tem sido muito complicado comprar farinha e frango.
“A gente fica quatro horas na fila, debaixo do sol, para conseguir comprar um frango e um pacote de farinha. Isso não dá para a semana”, contou à Agência Brasil.
Mãe de sete filhos e eleitora de Chávez e do presidente Maduro, Dilia disse que as condições no país estão muito delicadas. Ela acredita nas alegações do governo de que o país tem enfrentado problemas devido à “sabotagem da direita do país”.
“Temos que aguentar forte porque estão pressionando para que o governo não consiga resolver os problemas. O preço de tudo subiu muito”, informou, por telefone.
De acordo com estimativa de economistas, a inflação no país deve chegar a 50% até o final deste ano. O Banco Central da Venezuela registrou inflação de 4,4% em setembro e de 49,4% no acumulado dos últimos 12 meses.
Mesmo mantendo o apoio ao governo de Maduro, Dilia opina que a gestão poderia ser melhor. “Se Maduro arregaçar as mangas e trabalhar um pouco mas, acho que as coisas podem melhorar um pouco”.
Dona Dilia demonstra descontentamento quando compara os meses de governo Maduro com o período de Chávez. “Com nosso comandante era diferente. Não faltou comida e nem tinha tanta restrição de nada. Está muito difícil agora”, lamenta.
A venezuelana reclama também que houve queda na qualidade dos serviços prestados pelo governo. Há três meses, ela saiu do rancho (barraco) em um bairro popular para o apartamento que conseguiu subsidiado pelo governo.
“Cheguei aqui e as paredes estavam todas sujas, sem pintar e sem piso. Entregaram sem terminar direito e falam que foi culpa da construtora. Não dá para ficar só dando desculpa”.
Com os programas criados por Hugo Chávez, como a própria Missão Alimentação, milhares de venezuelanos saíram da linha de miséria e o país está entre os menos desiguais, segundo a Organização das Nações Unidas.
Apesar dos problemas levantados pela população, Maduro lembrou que o programa alimentar já alcança 82% da população. "Os últimos indicadores mostram que a Missão Alimentação aumentou em 18% o número de pessoas atendidas. Antes, o projeto chegava a 64% da população”, informou.
De acordo com o Ministério do Poder Popular, este ano já foram feitas 65 mil jornadas de vendas de alimentos.