Venezuelanos nos EUA protestam contra pedido de poderes especiais de Maduro

AFP
10/10/2013 às 15:26.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:14

MIAMI - Duas grandes organizações de venezuelanos no exterior, com sede em Miami, expressaram nesta quinta-feira (10) sua indignação com o pedido de poderes especiais feito pelo presidente Nicolás Maduro à Assembleia Nacional. Ele solicitou na terça-feira (8) poderes especiais para combater a corrupção e uma suposta "guerra econômica", durante uma tumultuada sessão parlamentar.    "Solicito, em nome do povo venezuelano, poderes especiais durante doze meses para lançar um combate, com muita firmeza, muita entrega e muita decisão contra a corrupção, e para derrubar os corruptos e seus cúmplices", disse Maduro em um discurso de quase três horas no plenário da Assembleia.   Para a Organização de Venezuelanos Perseguidos Políticos no Exílio (Veppex), formada por alguns militares reformados que se opuseram ao ex-presidente Hugo Chávez, o atual presidente faz uso de um discurso falso e cínico. "É o máximo do cinismo e da desfaçatez pedir uma lei para combater a corrupção, quando os principais corruptos estão dentro do próprio regime que usurpa o poder", afirma um comunicado da Veppex, referindo-se a Maduro como um presidente ilegítimo.   Por sua parte, a organização Venezuela Awareness, dedicada a vigiar e defender violações de direitos humanos no país petroleiro, expressou sua preocupação "pela intenção que esconde a solicitação da lei habilitante ante a Assembleia Nacional por parte de Nicolás Maduro", disse em outro comunicado. Para a Venezuela Awareness, "Maduro, com uma lei habilitante, abertamente controlaria e dirigiria a perseguição política que levaria a mais processos viciados, manipulados e sem contar com garantias para conseguir justiça".   Alguns seguidores do líder opositor Henrique Capriles expressaram seu apoio a uma proposta opositora para que se realize um referendo para dar poderes especiais ao presidente venezuelano. "Se é tão popular, se o povo está tão contente com o processo revolucionário, então que ponham em prática a democracia participativa e que o povo decida por referendo conceder todos os poderes a este presidente", afirmou à AFP Yolanda Salazar, uma venezuelana de 40 anos que diz ser refugiada política nos Estados Unidos desde 2003.   Maduro qualificou o pedido como "um assunto crucial, de vida ou morte para a República Bolivariana da Venezuela (...). Se a corrupção continuar perpetuando sua lógica capitalista destrutiva aqui não haverá socialismo". O presidente considerou a chamada "Lei Habilitante" como uma "necessidade neste momento histórico para poder articular todas as forças institucionais, legais e sociais à nova etapa que nossa pátria enfrenta".   Em meados de agosto, quando anunciou que pediria os poderes especiais, Maduro passou a adotar a bandeira da luta contra a corrupção. Logo em seguida, seu discurso incluiu a necessidade de se combater o que ele considera uma "guerra econômica" por parte do setor privado para promover revoltas sociais.   Desde que Maduro assumiu o poder, em 19 de abril, a crise econômica se aprofundou, com uma inflação que ameaça romper recordes - somando 32,9% desde o início do ano - , escassez de divisas, resultado do rígido controle cambial, e uma maior escassez de alimentos e produtos.   A "Habilitante" foi solicitada por todos os presidentes venezuelanos desde a década de 1970. Falecido em 5 de março, Hugo Chávez emitiu mais de 200 leis com "habilitantes" em 2000, 2001, 2008 e 2010. Maduro faz seu pedido em meio às denúncias da oposição de que o presidente quer deflagrar uma perseguição. No papel, o Executivo não precisaria de uma "habilitante", porque tem maioria parlamentar e controla todos os setores estatais.   Ainda não está claro como a bancada governista conseguirá os votos que faltam para chegar aos 99 deputados - correspondentes a três quintos do Parlamento - exigidos pela Constituição para aprovar a chamada "Lei Habilitante".   A oposição acusa o governo de utilizar a Justiça para conseguir o "deputado 99", promovendo um processo por peculato contra Mercedes Aranguren, ex-chavista. A dissidente denuncia as pressões que tem sofrido para votar a "habilitante". "Tudo aponta para uma retaliação política", afirmou Arangueren, dias depois de a Procuradoria ter apresentado acusações contra ela.   Se for submetida a julgamento, ela terá de deixar o cargo para o suplente, Carlos Flores. Segundo Mercedes, ele também foi pressionado para ser o deputado 99.   Na Flórida, vive a maior comunidade venezuelana no exterior desde o início do governo do falecido presidente Chávez, em 1999. Mais de 200.000 venezuelanos vivem majoritariamente em Miami, e mais de 90% são opositores ao chavismo, comparando-se com o exílio cubano, que também fez dessa cidade da Flórida sua capital mundial.

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