Violência em Mianmar leva milhares de pessoas a campos de refugiados

AFP
27/10/2012 às 10:20.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:36

(Soe Than WIN/AFP)

SITTWE - Milhares de pessoas que fogem da nova onda de violência entre budistas e muçulmanos no oeste de Mianmar se dirigem aos já superlotados campos de refugiados da capital do Estado de Rakhine, Sittwe, informaram neste sábado (27) as Nações Unidas.

Após várias semanas de tranquilidade relativa em uma região sob estado de emergência desde os primeiros confrontos de junho, a violência voltou a aparecer entre budistas da etnia rakhine e os rohingyas, uma minoria muçulmana apátrida considerada pela ONU uma das mais perseguidas do planeta.

Segundo os meios de comunicação estatais, desde o último domingo 67 pessoas perderam a vida e mais de cem ficaram feridas. Cerca de 3.000 casas foram incendiadas.

A organização não governamental Human Rights Watch teme que o balanço "seja muito maior", expressou a entidade em um comunicado, que se baseia em declarações de testemunhas.

Por sua vez, a Anistia Internacional pediu que as "autoridades intervenham para proteger toda a população e romper o ciclo de discriminação e violência".

A nova onda de confrontos levou milhares de pessoas a fugir novamente. "Até o momento, temos conhecimento de 3.200 novos deslocados que chegaram aos campos e arredores", que já acomodam outros desabrigados, em Sittwe, disse Vivian Tan, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

"Outros 2.500 estariam a caminho", acrescentou.

Na sexta-feira, o porta-voz do governo rakhine, Win Myaing, afirmou que 3.000 rohingyas chegaram de barco a Sittwe, mas foram proibidos de entrar nos campos de refugiados e foram expulsos para uma ilha próxima.

A violência intercomunitária deixou mais de 150 mortos desde junho no estado de Rakhine e mais de 75.000 desabrigados.

Fartos da atenção concedida à minoria muçulmana perseguida dos rohingyas, os budistas da etnia rakhine decidiram fazer com que suas vozes fossem ouvidas, com tons racistas.

"Não temos o direito de falar. Estamos marginalizados no cenário internacional", disse Oo Hla Saw, secretário-geral do Partido para o Desenvolvimento das Nacionalidades Rakhines (RNDP).

"Podemos viver com todo tipo de gente, mas não com os muçulmanos daqui (...), que são como animais", afirmou U Ohattama, superior do monastério Klak Kha Mout em Sittwe.

Muitos denunciam a presença em suas terras de 800.000 rohingyas, vistos como imigrantes procedentes da vizinha Bangladesh.

E se rebelam contra a atenção concedida pela ONU e por ONGs estrangeiras há anos a esta minoria.

Os rohingyas estão submetidos há décadas a restrições de deslocamento, têm acesso limitado à educação e à saúde e são condenados ao trabalho forçado.

A comunidade rakhine queria que o mundo se interessasse por sua situação, já que, com 44% da população abaixo da linha da pobreza, segundo um relatório da ONU publicado em 2011, o Estado Rakhine é o segundo mais pobre de Mianmar, que, por sua vez, é um dos países mais pobres do planeta.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por