Voluntário tenta convencer carioca a receber peregrino

Luciana Nunes Leal
09/05/2013 às 22:30.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:33

Pouco antes do fim da missa de domingo, o dentista Fábio Borges, de 30 anos, pede a palavra na hora dos avisos da paróquia. Lembra aos fiéis que, entre os dias 23 e 28 de julho, acontecerá no Rio a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com a presença do papa Francisco. E os estimula a abrirem suas casas para os peregrinos. "Ter hóspede em casa é bom: o suco vem na jarra que está guardada na cristaleira, tem Nescau quente e frio. É uma bênção", diz Fábio, para surpresa e diversão da plateia.

Quebrado o gelo, o voluntário da Jornada, que, antes de se engajar na organização do encontro católico já viajava o País com suas esquetes de humor católico, continua na missão de, como diz, "dar o estalo" para que os fiéis ajudem a aumentar o número de vagas oferecidas aos jovens brasileiros e estrangeiros que chegarão ao Rio.

A cena se repete todos os domingos, em várias igrejas da cidade. Acompanhado de um grupo de colaboradores da Jornada, Fábio dá seu recado em até quatro missas seguidas pela manhã e outras tantas à tarde. "Procuro tratar o assunto de forma tranquila com as pessoas que têm receio de abrir a casa para uma pessoa desconhecida. A seção de hospedagem da Jornada pensou em usar o humor e eu fiquei com as igrejas. Há um grupo que se apresenta em cinemas, teatros. Mostro que o peregrino não é um jovem qualquer que estava na internet de bobeira e resolveu: 'vou visitar o Brasil e ver o papa'. Tem que ter autorização do pároco, tem que se inscrever em grupo. A pessoa que hospeda não precisa se preocupar com alimentação, embora todos gostem de oferecer um bolinho. Só digo para não fazerem uma feijoada para um sueco, senão ele não sai de casa, nem vê o papa", brinca.

Segundo Fábio, o resultado tem sido positivo. Muita gente, depois da missa, procura os voluntários para se registrar e, mais tarde, receber novas instruções da organização da JMJ. "É bom para a dona de casa, que tira a capa do sofá. E o marido não fica na sala cortando a unha do pé", é outra tirada de sucesso na tática de convencimento de Fábio. "Eu digo que o idioma não é problema, a gente recorre ao mimiquês. Se curvar o corpo, quer ir ao banheiro. Se passar a mão na barriga, é fome. Se não for fome, é banheiro de novo!" A mensagem é bem humorada, mas também profunda. "Dizemos às pessoas que não tem ato mais bonito do que abrir a casa a uma pessoa que a gente não conhece", diz o voluntário.

Os dados mais recentes do Comitê Organizador Local (COL) da Jornada informam que há 214,5 mil peregrinos inscritos e 271 mil vagas disponíveis para hospedagem, em casas particulares, escolas, igrejas e ginásios. O secretário executivo do COL, monsenhor Joel Portella, disse que o número de inscrições - e também de vagas - deve aumentar em junho. O arcebispo do Rio de Janeiro e presidente do comitê, d. Orani Tempesta, chama atenção para o fato de que a previsão de 2 milhões de pessoas na Jornada não significa que todos serão inscritos. "Esse número inclui os cariocas que participarão, os de fora do Rio que virão por conta própria, sem se inscreverem, e os inscritos. É impossível fazer dois milhões de inscrições", diz d. Orani. Ele não arrisca uma previsão para o Rio, mas lembra que, na última Jornada, em Madri, onde o público total também foi de 2 milhões de católicos, houve 480 mil inscritos. Em Madri, segundo a organização da Jornada, 60% das inscrições foram feitas um mês antes do início do encontro católico.
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