Cãoterapia

Cachorrão Cantona leva 'doses de alegria' para crianças em tratamento contra o câncer na Santa Casa

Pedro Santos*
pedro.sousa@hojeemdia.com
24/09/2023 às 12:42.
Atualizado em 24/09/2023 às 13:27
Vinícius e Cantona visitam os pacientes da Santa Casa de BH uma vez por semana (Valéria Marques)

Vinícius e Cantona visitam os pacientes da Santa Casa de BH uma vez por semana (Valéria Marques)

Quem precisa ir a um hospital sabe que o ambiente costuma ser "carregado". Via de regra, unidades de saúde remetem à dor, tristeza e, não raro, solidão, sobretudo onde é feito o tratamento de pacientes com câncer. No entanto, a ação de um voluntário, com a preciosa ajuda do cão de estimação, tem levado doses de alegria e diversão ao ambulatório do Instituto de Oncologia da Santa Casa, em Belo Horizonte.

Jacó é o apelido do servidor público Vinícius Carvalho, de 40 anos, tutor do cachorro da raça chow-chow Cantona, de 2 aninhos. Eles visitam pelo menos uma vez por semana o complexo hospitalar para promover sessões de Terapia Assistida por Animais, conhecidas como “cãoterapia”. Reconhecida mundialmente por promover qualidade de vida, saúde física, social e emocional, a iniciativa faz sucesso entre as crianças que precisam realizar exames invasivos, como a quimioterapia.

A ação conta com todo o zelo exigido. O cão precisa estar bem limpo - o banho ocorre horas antes da visita. As unhas são cuidadosamente cortadas e patas, higienizadas. Dócil e com todas as vacinas em dia, Cantona ainda tem o pelo escovado para retirar qualquer excesso. Após o rigoroso ritual antes das sessões, ele é levado ao ambulatório. Lá, recebe o carinho das crianças que fazem fila para passear com ele pelos corredores. 

Vinicíus já era voluntário da Santa Casa, promovendo brincadeiras com um carrinho elétrico doado à instituição. Porém, ao assistir uma sessão de “cãoterapia” logo teve a ideia de realizar a ação no hospital. “Eu vi um rapaz que fazia isso com um cachorro Golden Retriever. Pesquisei e descobri que nos Estados Unidos é muito comum. Decidi testar para ver como seriam as reações e deu super certo! O Cantona interagiu muito com as crianças”, conta o servidor, de Santa Luzia, na Grande BH.

Emocionado, Jacó falou sobre o sentimento de levar alegria para crianças em uma situação tão delicada.

“Difícil mensurar, mas dá um calor no coração. É um bem-estar que me deixa sem palavras. Às vezes, os meninos estão tristes, acanhados e com dor. Mas esquecem tudo para ficar com o cachorro. A doença é colocada de lado e as crianças vivem um mundo de fantasia”, afirma Vinícius.

 A oncologista pediátrica Fernanda Tibúrcio dá mais detalhes da terapia. “O cachorro vai diretamente onde as crianças estão. Ele se desloca até a sala de espera do ambulatório, visita os pacientes no leito da quimioterapia e, às vezes, até entra no consultório. Já houve caso de criança que só entrou para a consulta com a presença do cão. Ele fica à disposição para percorrer todo o espaço, tem circulação livre”.

A médica também ressalta outros cuidados para evitar eventuais contaminações. Lambidas, por exemplo, são proibidas. “Assim que o animal chega, as patas dele são limpas novamente. A criança deve estar sempre com um acompanhante. Quando ela acaba de brincar, realizamos a higienização das mãos”, detalha.

Segundo a pediátrica, houve resistência à “cãoterapia” num primeiro momento, pelo receio de transmissão de doenças. Mas, após explicações, a ideia foi bem aceita. “Mostramos que já existem estudos que comprovam a eficácia e a segurança da terapia, e a partir do momento em que exemplificamos outros lugares que faziam de forma segura, houve boa aceitação”, conta.

“A felicidade que o cão traz supera tudo. Crianças que antes tinham medo de ir à consulta, agora, quando sabem que é o “dia do cachorro”, já ficam todas animadas. O Cantona tem ido às quartas-feiras e todas as crianças querem consultas às quartas”, acrescenta Fernanda Tiburcio.

A importância da ação também é destacada pela psicóloga Juliana Amorim. Segundo a especialista, a terapia ajuda na alteração do humor das crianças, reduzindo o estresse, a tristeza e a ansiedade da permanência no hospital. Além disso, estimula a socialização com outros pacientes.

Quer ajudar a Santa Casa?

A “cãoterapia” também é destacada pelas famílias das crianças. Mãe do paciente Enzo Gabriel, Flávia de Paula Santos avalia que a ação ajuda o filho a se sentir mais à vontade com funcionários e outros meninos. "Meu filho adora o cachorro e está respondendo muito bem ao tratamento".

Existem várias formas de ser um voluntário da Santa Casa BH, o maior hospital de Minas e 100% SUS. Interessados em ajudar podem fazer contato pelo telefone (31) 99723-8452 ou neste link.

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* Estagiário sob supervisão do editor Renato Fonseca

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