No Dia Internacional do Orgulho LGBT, números apontam aumento de 30% na violência contra esse grupo

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
27/06/2017 às 20:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:17
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

A luta diária de gays, lésbicas, transexuais, bissexuais e travestis em busca de respeito está longe de chegar ao fim. No Dia Internacional do Orgulho LGBT, celebrado hoje, os números mostram que, em Minas, as vítimas de crimes ligados à homofobia, lesbofobia, bifobia ou transfobia cresceram 30% de janeiro a maio de 2017 na comparação com o mesmo período do ano passado.

Os dados são da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e têm como base a causa presumida de cada crime, informada nos boletins de ocorrência. Nos primeiros cinco meses de 2016, foram 128 registros. No mesmo período deste ano, o número já subiu para 167. 

“Apesar de tudo isso tenho muita fé em Deus. Se aconteceu, serviu para que eu aprendesse mais sobre respeito” (Héctor Pedro)

Quem já sentiu na pele o peso da intolerância garante que a resistência não está apenas no ambiente familiar e escolar, mas até mesmo no mercado de trabalho. O transexual Héctor Pedro Araújo, de 19 anos, relata que, no colégio em que estudava, não podia usar o banheiro das meninas, dos meninos e nem dos professores, o que o obrigava a passar todo período de aulas impedido de utilizar o sanitário. 

“Em outra ocasião, fui a um posto de saúde para tomar a injeção de hormônio e eles me chamaram pelo nome de registro. A recepcionista do local chamou todas as enfermeiras e ficou dizendo para todos ‘é uma menina!’. Todas começaram a rir de mim e foi um constrangimento horrível”, explica. 

Exclusão

No caso da transexual Josiane Pena, de 21 anos, o preconceito quase lhe custou a vida. Ela conta que já foi ameaçada com uma faca por um homem depois de ter o nome de registro revelado. 

“A gente sai de casa e nunca sabe se volta. Na semana passada, mataram uma colega nossa com três tiros na Pampulha. É tudo muito mais difícil. Eu, por exemplo, fiz entrevista de emprego em vários supermercados, passei no processo seletivo mas não me chamaram. Diante disso, o caminho que surge para muitas é o da prostituição”, ressalta. 

Inspetor do Núcleo do Atendimento e Cidadania LGBT da Polícia Civil, José Gonçalves Coelho Neto diz que esse grupo social está inserido em um ambiente de vulnerabilidade altamente hostil, alvo de violência de uma parcela intolerante da população.

“Desde que os registros de ocorrência passaram a contar com o campo de causa presumida, aumentaram os subsídios para orientar as investigações. Assim, além do policial que pode informar no boletim as possíveis causas do crime, o cidadão que é vítima também pode declarar se foi alvo de homofobia, por exemplo. Isso deve ajudar cada vez mais a evolução desse tipo de inquérito”, explica. 

Últimos casos

Os episódios de violência contra a população LGBT em Belo Horizonte têm sido recorrentes nos últimos meses. Em 19 de fevereiro, o corpo da ativista Mirella de Carlo, de 39 anos, foi encontrado dentro do apartamento onde morava no bairro Carlos Prates, região Noroeste da cidade, com uma toalha enrolada no pescoço. 

Já em 29 de abril, a travesti Sophia Castro, de 21 anos, foi encontrada morta dentro de casa, no bairro Eldorado, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo a Polícia Civil, o suspeito do crime seria um cliente da vítima. Ele foi preso no local. 

Uma travesti de 26 anos foi assassinada no bairro Santa Branca, na Pampulha, em 2 de junho. Uma testemunha contou aos policiais que ouviu tiros de dentro de um carro. Em seguida, a vítima saiu pela porta dianteira do passageiro e correu, mas acabou caindo ensanguentada. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas a jovem morreu no local. O suspeito do homicídio fugiu.

No último dia 19, o corpo de uma travesti foi encontrado boiando no rio Arrudas, próximo ao bairro Granja de Freitas, região Leste da capital mineira. Segundo a Polícia Militar, o corpo da vítima apresentava marcas de pedradas e tiros. 

No fim de abril, o Hoje em Dia mostrou que o Ministério da Justiça e Cidadania, via Disque 100, registrou 1.876 denúncias de violência contra LGTBs no país. Dos casos, 96 foram em Minas Gerais. 

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