ESPECIAL FOME

Plantas não convencionais, como taioba e flor-do-ipê, são alternativas sustentáveis de alimentação

Rodrigo de Oliveira
rsilva@hojeemdia.com.br
24/07/2022 às 07:50.
Atualizado em 24/07/2022 às 15:46
A comida que vai à mesa, por incrível que pareça, pode vir do jardim de casa (Christoph Reher/Divulgação)

A comida que vai à mesa, por incrível que pareça, pode vir do jardim de casa (Christoph Reher/Divulgação)

Elas estão por aí em ruas e quintais das casas, mas nem sempre são percebidas como alimento. Geralmente consumidas mais no interior do Estado, as Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs) também podem ser encontradas nos grandes centros urbanos como uma ótima alternativa no combate à fome. 

Em relatório publicado nesta semana, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a agência especializada do Sistema ONU que trabalha no combate à fome e à pobreza, estima que 828 milhões de pessoas foram afetadas pela fome no ano passado, num aumento de 46 milhões em relação a 2020. 

Em Minas Gerais, mais de 233 mil famílias mineiras, o equivalente a 3,3% do Estado, passam fome. Os dados constam na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Um dos maiores entusiastas das Pancs em Belo Horizonte é Lucas Monteiro Mourão, formado em Relações Econômicas Internacionais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Desde 2016 ele mantém o projeto Jaca Verde Panc, no qual pesquisa e oferece cursos e workshops sobre as Pancs. “A mais conhecida provavelmente é o ora-pro-nóbis, mas também temos a taioba, a serralha e até alguns tipos de flores-de-ipê são comestíveis”, explica. 

Lucas Mourão é estudioso das Pancs e promove passeios na cidade para instruir outras pessoas (Arquivo Pessoal/Redes Sociais)

Lucas Mourão é estudioso das Pancs e promove passeios na cidade para instruir outras pessoas (Arquivo Pessoal/Redes Sociais)

De acordo com Lucas, além de muito nutritivas, elas vão muito além de "plantinhas" que são usadas apenas para saladas ou preparos refogados. “Também temos as frutas, como o articum, e as raízes, como a bardana e a batata yacon. Outro aspecto interessante é o seu uso em receitas. A fruta do jatobá, por exemplo, tem uma farinha que pode substituir a farinha de trigo para fazer bolos”, explica. 

Mas, apesar das vantagens, é preciso ter algum tipo de conhecimento para não acabar comendo algo tóxico ou danoso para a saúde. “Não existe uma regra específica para diferenciar quais são as comestíveis. O ideal é pesquisar e estar perto de grupos que consomem as Pancs, como as hortas urbanas e grupos de botânica no Facebook”, ensina. 

Segundo ele, é preciso treinar o olhar para identificar aquilo que pode ser consumido. “Há muitas árvores frutíferas em BH que as pessoas não aproveitam. No projeto, eu sempre ofereço passeios guiados pelo Parque Municipal mostrando o que é comestível. Não quer dizer que a pessoa vai colher o alimento no parque, mas pelo menos ela aprende e pode usar isso a seu favor depois”, afirma

Sustentabilidade

Para Laila Carline Gonçalves, nutricionista e professora da Faculdade Kennedy, as Pancs podem ser uma ótima forma de combate à fome devido ao seu aspecto sustentável. “São plantas fáceis de cultivar. O peixinho, por exemplo, é uma Panc que quase não precisa ser regada e que cresce rapidamente. Muito mais fácil de cultivar do que um alface”, diz. 

“A folha do brócolis e da couve-flor são comestíveis, mas quase todo mundo joga fora", aponta Laila (Divulgação)

“A folha do brócolis e da couve-flor são comestíveis, mas quase todo mundo joga fora", aponta Laila (Divulgação)

A especialista também orienta que outra forma de combater a fome é utilizar partes não convencionais de alimentos já conhecidos. “A folha do brócolis e da couve-flor são comestíveis, mas quase todo mundo joga fora. O umbigo da banana é outro alimento rico em nutrientes e que rende ótimas preparações”, enumera. 

Assim como Lucas, ela orienta a adquirir conhecimento para saber quais Pancs consumir e evitar plantas de alguns locais. “Principalmente plantas que cresçam no chão de vias públicas, não sabemos se houve algum tipo de contaminação ali. Então, o ideal é não consumir. Dê preferência a feiras familiares, quintais e locais que você saiba a procedência daquele alimento”, ressalta. 

Receita 

BOLO DE OITI COM NIBS DE CACAU

(Divulgação Jaca Verde Panc)

(Divulgação Jaca Verde Panc)

 Ingredientes:

- 2 xícaras de farinha de trigo
- 1 xícara de polpa de oitis
- Meia xícara de água
- Meia xícara de óleo de coco
- 3/4 xícara de açúcar
- 2 colheres de sopa de nibs de cacau
- pitada de sal / pitada de bicarbonato
- 2 colheres de chá de vinagre
- 1 colher de sobremesa de fermento em pó

Como fazer:

Misture a farinha com açúcar e o nibs. Depois junte o óleo, polpa de oiti e água, mexendo bem para a massa ficar homogênea.
Por fim, adicione bicarbonato, vinagre e fermento e coloque pra assar em forno pré-aquecido por cerca de 40 minutos.

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