Tragédia em Mariana: MP critica acordo e diz que passivo ambiental fica para a sociedade

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
04/11/2016 às 10:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:31
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Às véspera de completar um ano da maior tragédia socioambiental ocorrida no país, promotores do Ministério Público Estadual (MPE) fizeram duras criticas sobre acordo firmado entre as mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton com a União e os governos de Minas Gerais e Espírito Santo. Na avaliação da instituição, o documento só serviu para brindar as empresas quanto às medidas de recuperação ambiental.

"Poderíamos ter assinado um acordo uma semana depois da tragédia com a Samarco/vale/BHP se concordássemos com a falta de efetividade para a recuperação ambiental. Mas estamos buscando ações objetivas", lamentou o promotor Mauro Ellovitch.

No entendimento do órgão, a Samarco já teria retirado toda a lama que vazou nas áreas de preservação ambiental, além de ter limpado os rios atingidos pelos rejeitos de minério, caso tivesse interesse. "Querem deixar o passivo ambiental para a sociedade", argumentou o também promotor Marcos Paulo de Souza Miranda.

O acordo firmado em março prevê o pagamento de R$ 20 bilhões pelos próximos 20 anos como compensação dos danos sociais, ambientais e econômicos provocados pelo rompimento da barragem Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas.

Danos e irregularidades

Já o representante do órgão em Ponte Nova, Bruno Guerra de Oliveira, pontua que a empresa responsável pela tragédia está omissa e quer fazer a reparação da forma e no tempo dela, excluíndo a população, o MPE e outros órgãos ambientais. Segundo ele, a Samarco se recusou a apresentar o cronograma de recuperação de Barra Longa, um dos distritos devastados pelo 'tsunami' de lama. 

O promotor denuncia ainda que a lama retirada da cidade é armazenada inadequadamente no Parque de Exposições, em área de preservação ambiental e às margens do rio do Carmo. Uma ação foi movida pela promotoria para corrigir a irregularidade.

Em Governador Valadares, conforme os promotores Leonardo Diniz e Evandro Ventura, o juizado de pequenas causas da cidade registrou 40 mil ações de pessoas que tiveram prejuízo com a contaminação do Rio Doce. No plano de reparação de danos que apresentou, a mineradora ofereceu R$ 1 mil por morador. "A Samarco não está oferecendo R$ 1 mil de reparação, e sim querendo se livrar de R$ 9 mil pleiteados por alguns moradores", diz Ventura.

A qualidade do rio, que na avaliação do MPE ainda apresenta grande concentração de alumínio, é imprópria para o consumo e pode causar doenças degenerativa. O órgão lamenta que a Samarco tenha conseguido levar para a Justiça Federal o mérito da questão, prejudicando, assim, a atuação da promotoria local para tentar resolver o problema.

Nesta sexta-feira (4), a força-tarefa criada pelo MPE fez um balanço das medidas tomadas pelo órgão na área de direitos humanos, em benefício das vítimas do rompimento da barragem Fundão. O material foi intitulado "Tragédia anunciada - a história por trás do maior desastre ambiental do mundo". O desastre, além de provocar a morte de 19 pessoas, foi o causador da maior tragédia da história para o patrimônio cultural de Minas. Diversas peças sacras e monumentos foram perdidos ou destruídos pela lama.

"Queria mandar um recado à Samarco, Vale, BHP e Fundação Renova. O Ministério Público de Minas não desiste e por muitos anos vai acompanhar cada parte do rio Doce até que toda a bacia seja recuperada. Não vamos desistir, vocês não vão conseguir nos calar", desabafou o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto ao encerrar a apresentação.

Desastre

Cerca de 35 bilhões de litros de rejeitos de minério vazaram do reservatório e mataram 19 pessoas, destruíram povoados e poluíram 650 km entre Mariana e o litoral do Espírito Santo. A barragem de Fundão já apresentava problemas meses após o início da sua operação, em 2008. O rompimento aconteceu em uma obra aberta pela Samarco no topo da estrutura para reparar problemas de drenagem. 

Em agosto, após uma apuração interna, os presidentes da Samarco, Vale e BHP admitiram que a obra provocou a tragédia, pediram desculpas e disseram sentir pelos familiares e amigos das vítimas e pelos danos causados ao meio ambiente.

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