Pouco dinheiro e lei rígida “limpam” BH da sujeira e poluição visual da campanha eleitoral

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
21/09/2016 às 20:07.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:55
 (Flávio Tavares/ Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/ Hoje em Dia)

Não fossem os debates dos candidatos a prefeito na TV e as redes sociais, Belo Horizonte não pareceria palco da disputa por 41 cadeiras na Câmara e pela chefia do Executivo municipal. Sem santinhos, bandeiras, cavaletes e faixas por aí, a campanha está quase invisível.Frederico Haikal/ Arquivo Hoje em Dia

... situação bem diferente da registrada em 2014, quando o coração de BH foi vitrine para vários candidatos

A restrição do financiamento de campanha a pessoas físicas, o menor tempo de campanha e as limitações impostas pela legislação eleitoral às formas de comunicação dos candidatos com o eleitor fazem com que, a dez dias das eleições, as ruas da cidade se encontrem bem diferentes de quatro anos atrás.

Para o cientista político Felipe Lima, pesquisador do Departamento de Ciência Política da UFMG, esse quase silêncio é prejudicial à democracia. “Para a política é ruim. A informação é fundamental para a democracia, e o eleitor tende a tomar decisões menos informado, no atual contexto”, afirma. Ele defende que haja um meio termo entre o cuidado com a poluição visual e a informação.

Votos nulos

Ele avalia que a restrição de comunicação favorece os candidatos que já são conhecidos, o que pode levar a uma queda na renovação do quadro da Câmara. “As campanhas têm sido pouco efetivas. Além disso, os eleitores têm assistido pouco ao horário eleitoral, pelas pesquisas que temos feito”, diz. Em comparação aos candidatos a prefeito, quem quer a vaga de vereador precisa ainda mais de volume de campanha na rua, e há um risco de aumento de votos brancos e nulos para o cargo.

Sem Kombis

O ex-presidente da Câmara de BH e vereador pelo PSL, Léo Burguês, dá a dimensão da queda nas campanhas. “Em 2012, a grande maioria dos candidatos tinha equipes com vários motoristas e Kombis para distribuição de placas. Eu tinha oficina para a construção e manutenção de placas. Isso acabou”, diz.

Ele também pontua que a contratação de 90% do pessoal que atua na campanha dele caiu de dois meses para 30 dias. Em 2012, Burguês havia arrecadado e gasto R$ 512,4 mil (cerca de R$ 691 mil, em valores corrigidos pela inflação). Agora, ele prevê arrecadar 1/3 disso.Flávio Tavares/ Hoje em Dia

POLUIÇÃO - Dois momentos da Praça Tiradentes, no bairro Funcionários: hoje, livre dos cavaletes...Lucas Prates/ Arquivo Hoje em Dia

... às vésperas das eleições de 2012, tomada pela propaganda que ainda era regular

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Também buscando a reeleição, Adriano Ventura (PT), assim como outros vereadores, defende a redução da poluição visual na cidade. “Essa ausência de material é sinal de que o dinheiro sumiu. Até gente que gastava muita grana está reclamando. O reflexo não é só ausência de material de campanha, mas de cabo eleitoral também. Isso faz com que o candidato tenha que ter mais jogo de cintura”, diz.

Ele lembra que na campanha de 2012 havia feito investimento em pôsteres maiores e, neste ano, teve que cortar. “Quando fui candidato a deputado, em 2014, tinha 350 placas. Para vereador, em 2012, 200 lambe-lambes (pôsteres). Hoje, só santinho e cartazes. E olhe lá. E só 100 mil ‘colinhas’. É menos que 50% da última eleição”, esclareceu ele.
Adriano Ventura arrecadou cerca de R$ 350 mil na campanha em 2012, e tinha chegado aos R$ 56,5 mil em meados deste mês.

Redes sociais são principal estratégia para manter visibilidade

Sem dinheiro, candidatos buscam estratégias para manterem a visibilidade. A mais óbvia de todas é a internet, que vem crescendo em espaço nas campanhas desde 2012.

“Estamos usando redes sociais em geral. Facebook e grupos no Whatsapp ajudam muito a multiplicar a imagem do candidato”, diz Beto Goes (PHS), que tenta se eleger pela primeira vez, e tinha R$ 24 mil arrecadados até o dia 13 de setembro. A mesma opinião têm Leo Burguês (PSL) e Adriano Ventura (PT).Flávio Tavares/ Hoje em Dia

INVASÃO - Praça da Bandeira, no bairro Mangabeiras, hoje e durante a última campanha para governador e deputados estaduais, há dois anosFlávio Tavares/ Arquivo Hoje em Dia

Cavaletes ocupam espaços de trânsito e lazer

Tradição e cartório

Com um eixo de atuação mais tradicional, o pastor Henrique Braga (PSDB) busca focar a campanha nos evangélicos para conseguir mais quatro anos ao seu histórico de 27 como vereador em Belo Horizonte. “É um voto ideológico”, diz seu chefe de gabinete, Mauro Braga.

“A procura de material gráfico talvez tenha se reduzido. Está mais pulverizada, mas não está tão parada como esperávamos que fosse ocorrer”Vicente de PaulaAssociação Brasileira de Indústria Gráfica-MG

 Beto Goes, por outro lado, resolveu criar um fato político para chamar a atenção do eleitorado. O candidato registrou suas promessas de campanha em cartório. “Acredito que, com a descrença que a população tem com a política, é uma forma mais forte de a pessoa cobrar”, aponta ele

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