CINEMA

Filme mineiro 'Enquanto Estamos Aqui' comenta incapacidade de lidar com as diferenças

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 10/10/2022 às 07:29.
Narrativa acompanha casal de imigrantes em Nova York (Embaúba/Divulgação)

Narrativa acompanha casal de imigrantes em Nova York (Embaúba/Divulgação)

Os protagonistas de “Enquanto Estamos Aqui”, filme de Clarissa Campolina e Luiz Pretti em cartaz nos cinemas, formam um casal de culturas muito diferentes. Vivendo os desafios de serem imigrantes em Nova York , Lannis é libanesa e Wilson, um brasileiro.

“Mesmo na diferença, (buscamos mostrar que) é possível existir ou nascer um amor ou uma admiração”, registra a cineasta mineira, que tem ascendência libanesa e, ao lado do marido carioca, compôs um híbrido de documentário e ficção.

“Chegamos à ideia do filme muito aos poucos. A gente queria falar sobre esse sentimento do não pertencimento, esse lugar da paisagem estrangeira e, ao mesmo tempo, dos muros que separam as pessoas e as possibilidades de encontro”, destaca.

Uma curiosidade do longa é o fato de vermos o casal em nenhum momento. “Essa ideia surgiu a partir do momento que a gente entendeu que esse lugar ficcional era muito importante para o filme, com o desejo de filmar de forma mais independente”.

A intenção da dupla era usar imagens e sons de arquivo, levando a narrativa a caminhar bem próxima à literatura. “Aproximamos dos personagens não pelo corpo deles, mas pela forma como olham para o mundo e pela voz”, explica Clarissa.

Os diretores construíram personagens que “não existem na tela em termos físicos, mas que a gente percebe as sensações e os sentimentos, entendendo a história a partir de cartas e conversas entre eles e com os familiares e de uma narradora”.

A narração, feita por Grace Passô, carrega um certo distanciamento ao abordar a história do casal, oferecendo um olhar que os personagens não alcançam. “Queríamos que se aproximasse de uma narradora de alguns estilos da literatura”, assinala Clarissa.

Uma referência para essa relação entre narradora e personagens foram os filmes de Marguerite Duras, cineasta francesa ligada à literatura e ao teatro. “O tom da voz é meditativo, algo que parece navegar junto com as palavras, sem muito sobressaltos, mas com adensamento”.

O longa conta com várias citações literárias, do filósofo Jonathan Crary à poeta Ana Martins Marques. “Elas trouxeram a possibilidade de ampliação da experiência particular dos personagens, através do entendimento sobre um mundo fora deles”, diz Pretti.

Ele não esconde a relação com o momento do país. “Uma das grandes dificuldades que a gente enfrenta nesse momento é a incapacidade de lidar com as diferenças. No filme, elas não impossibilitam uma relação de amor ou qualquer tipo de proximidade”.

Pretti destaca que os muros não são intransponíveis. “Apesar das divisões criadas artificialmente, para nos dividir, não só territórios, mas culturas, classes e raças, existe sempre a possibilidade de suplantar e encontrar o outro do outro lado do muro”.

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