Estará nas Olimpíadas

‘Não consigo enxergar outra medalha que não seja a de ouro’, diz aluno da Kennedy

Vinícius Assis é atleta do Taekwondo

Bernardo Haddad*
@_bezao
Publicado em 19/02/2024 às 07:00.Atualizado em 19/02/2024 às 18:50.

O excelente desempenho nos tatames já seria suficiente para garantir o sucesso profissional do lutador de Taekwondo Vinícius Assis, classificado para as Olimpíadas de Paris 2024. No entanto, apesar do enorme talento, para garantir o feito o atleta de 21 anos teve que conciliar rotinas de treinos e competições com as aulas de Nutrição nas Faculdades Kennedy, no Prado, região Oeste de Belo Horizonte.

Morador do bairro Caiçara, também na capital mineira, Vinícius se classificou para os Jogos Olímpicos ao conquistar a medalha de bronze na Copa do Mundo de Taekwondo por equipes mistas, em dezembro passado. Além dele, os brasileiros Gabriel Campolina, Pedro Arthur, Sandy Macedo e Milena Titoneli irão brigar por medalha. 

Até 2022, a missão de conciliar vida de atleta e estudos era impossível. Faltavam tempo e condições financeiras. Já sem esperanças de realizar o sonho dos pais (ter um filho graduado), Vinícius viu as Faculdades Kennedy lhe abrirem as portas. Hoje, cursa o 3° período do curso escolhido e, com o apoio da instituição de ensino, lida com os treinos e competições sem deixar de lado a vida acadêmica. Confira o papo que batemos com ele.

Como o Taekwondo entrou na sua vida? 

A luta entrou na minha vida como uma maneira de desestressar e diminuir um pouco a ansiedade. Aos nove anos eu sofria bastante com ansiedade e um terapeuta infantil recomendou praticar algum esporte. Com isso, fui migrando de esporte em esporte até encontrar o Taekwondo. Em 2015, tive a oportunidade de disputar uma competição que valia vaga para o Campeonato Brasileiro em Londrina, no Paraná. Quando isso surgiu, eu só pensava na viagem e não na competição. Infelizmente, perdi na seletiva e fiquei angustiado por não ter conseguido a viagem, então comecei a levar o Taekwondo a sério. No ano seguinte venci a seletiva para o Brasileiro e fui campeão. Quando subi no pódio com a medalha no pescoço e com a bandeira de Minas Gerais, tive uma sensação inesquecível e vi que era aquilo que queria para a minha vida. Comecei a competir, e em 2019, entrei na Seleção Brasileira Júnior e disputei o Pan-Americano Júnior em Portland, nos Estados Unidos. Surpreendentemente, acabei vencendo a competição e foi uma grande virada de chave na minha carreira.
 
Qual o sentimento de se classificar para as Olimpíadas e poder representar o Brasil em Paris?

Em 2020, fui chamado para ser um sparring (auxiliar nos treinos) para ajudar os atletas do Comitê Olímpico do Brasil. Agora me ver no cenário dos poucos atletas classificados para a Olimpíada é algo maravilhoso. Não vou mentir. Minha ficha ainda não caiu, porque foi recentemente essa classificação. Então, é muito gratificante disputar esses jogos e sentir que todo meu trabalho desde os nove anos de idade, tudo que batalhei e sonhei felizmente está sendo recompensado.

Qual a expectativa para os jogos de Paris? 

A competição que vou disputar é por equipes, é como o futebol, não depende só de mim. Mas a nossa equipe está muito forte. Não vou prometer nada para ninguém, mas o pessoal da Faculdade (Kennedy), de Minas e do Brasil inteiro pode esperar grandes coisas. Estamos trabalhando muito duro junto com a Federação Brasileira de Taekwondo e o Comitê Olímpico. Com todo esse trabalho sendo feito, não consigo enxergar outra medalha que não seja a de ouro. 

Como você se sente realizando o sonho de muitos atletas? 

A ficha ainda está caindo. Mas hoje entendo o quão grande é o arco dos Jogos Olímpicos e o tamanho da responsabilidade que tenho nas minhas costas agora. Então é um momento crucial na minha vida. O sonho não é só estar no dia dos jogos, é o processo até chegar lá. Todo o processo envolve o sonho. Não é só no dia da competição, todos os outros dias envolvem essa conquista. 

Como foi o início da sua trajetória no ensino superior? 

Em 2022, eu estava muito focado nas competições e o Taekwondo era muito presente. Mas foi graças ao esporte que tive a oportunidade inesquecível de poder realizar um curso superior, que era um sonho meu. Por conta do foco total na luta, não tive tempo de estudar para ir para uma faculdade pública e nem tenho condições financeiras de fazer uma faculdade particular. Contudo, a Kennedy abriu as portas para mim com uma bolsa sensacional que fez muita diferença na minha vida, pra fazer o curso que sonhava em fazer, com excelentes professores e coordenadores que sempre me deram apoio. 

Como você faz para conciliar os treinos com a faculdade de Nutrição?

É complicado, exige muita perseverança. Infelizmente, com a rotina de viagem, de muitas competições e treinamentos pesados, não consigo dedicar 100% do meu tempo à faculdade. Mas só de conseguir cursar a faculdade já é algo muito importante para mim. Eu não vou desistir, mas vou ter um pouco menos de pressa. A faculdade é uma prioridade na minha vida, mas o Taekwondo é minha profissão, então preciso saber conciliar.

Você pretende trabalhar na área da Nutrição? 

Com certeza, a Nutrição vai para a vida inteira. O atleta, quando os chutes acabam, só fica o legado. Quero estar bem quando decidir parar de lutar para poder seguir uma carreira que sempre fui apaixonado, que é a Nutrição Esportiva. 

Você recebeu propostas para deixar o Estado e sair das Faculdades Kennedy. O que fez você ficar? 

Realmente muitos atletas saem dos seus estados e deixam as famílias para seguir os sonhos e isso não está errado. É um sacrifício. Um dos motivos que me fizeram ficar é a minha equipe, que é muito forte, admiro muito meu treinador e meus companheiros. Infelizmente, ainda falta estrutura para gente. Nós somos de uma academia simples de bairro. Apesar disso, temos uma grande alegria e felicidade e conseguimos refletir isso dentro do tatame. Se eu morasse em São Paulo, longe dos meus pais, talvez não conseguisse resultados tão bons. Confio muito no trabalho mental, enquanto nossa cabeça está boa, o corpo responde muito bem. Me sinto muito bem aqui. As Faculdades Kennedy também me apoiaram muito. Pelo fato de a gente se sentir acolhido e valorizado aqui, isso nos prende no nosso Estado. Quanto mais apoio aqui, menos os atletas terão que sair de Minas Gerais.

*Estagiário sob supervisão de Iracema Barreto

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