Entrevista com o ex-jogador Zé Elias, campeão brasileiro pelo Santos em 2004, atualmente comentarista dos canais ESPN:
Como foi observar de perto a performance da dupla Robinho e Deivid no título nacional de 2004?
Aquele time do Santos em 2004 tinha um ambiente muito legal. Todo mundo se dava bem, especialmente os dois. Eles tinham um entendimento entre eles, de olhar um para o outro e já saber o que o parceiro iria fazer, em termos de movimentação. Nunca houve vaidade entre os dois. Tanto o Deivid quanto o Robinho sempre foram pessoas sensacionais, muito simples. Esses foram fatores que ajudaram muito na convivência e ajudaram o Santos em campo. Um completava o outro naquela época.
Como era a relação entre o restante do grupo e os dois atacantes?
O Deivid sempre foi um cara mais fechado em relação ao Robinho. Até porque é impossível competir com o Robinho, que sempre foi o mais brincalhão. Eu nunca vi o Robinho triste. Tinha muita brincadeira e, quando se tem um grupo que se dá bem, é zoação o dia inteiro. Não pode vacilar. O Robinho era especial nisso. Ele não perdoava.
Aquele time do Santos em 2004 tinha um ambiente muito legal. Todo mundo se dava bem, especialmente os dois. Eles tinham um entendimento entre eles, de olhar um para o outro e já saber o que o parceiro iria fazer, em termos de movimentação. Nunca houve vaidade entre os dois"
Existe alguma história envolvendo os dois que você não se esquece?
O Robinho quase acabou com a carreira do William Batoré (atacante), que hoje está no Avaí e que era o reserva do Deivid naquela época. O Robinho tinha uma dieta especial para ganhar peso. Ele dormia tarde, 3h da madrugada, e pedia hambúrguer para comer. O William ia na onda e comia também. Na hora do jogo, entrava no segundo tempo e sentia cãibra, não aguentava correr, e a gente curtia com a cara dele, porque ia na ideia do Robinho. Com o Deivid, a gente brincava muito porque ele tinha problema com a gagueira, algo que ele superou.
Apesar do ambiente descontraído, houve o episódio do sequestro da mãe do Robinho, em novembro de 2004. Qual foi o impacto para o grupo?
Estávamos concentrados para o jogo contra o Criciúma, e a primeira impressão foi que a notícia era uma brincadeira. Depois, realmente, ficamos sabendo que era uma coisa séria. A partir daquele momento, todo mundo ‘se fechou’ e jogou pelo Robinho. Era algo que dava para sentir no elenco. Mesmo diante desse problema, ele nunca se mostrava abatido. Era um cara muito querido por todos do time.
Agora como comentarista, qual a sua projeção para o clássico de domingo?
Eu vejo uma disputa bem equilibrada. O Atlético está um pouco na frente por causa da base mantida, e trouxe alguns jogadores. Não terá o Cazares e outros titulares, mas há peças de reposição. O Cruzeiro vive um momento de mudança tática, de conceitos de futebol, formas de jogar, algo que é interessante. É um time leve, troca rápida de futebol. Vai ser um confronto muito legal, um duelo tático, e acho que o aspecto individual decidirá o clássico.