LUTO

Fundadora do Conservatório Estadual de Música em Montes Claros morre aos 98 anos

Marina Lorenzo Fernandez deixa legado de amor às artes e ao município do Norte de Minas

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 27/01/2025 às 16:46.Atualizado em 27/01/2025 às 18:33.
 (Foto: Anastasia Dogval/divulgação)
(Foto: Anastasia Dogval/divulgação)

Mineira de coração, montes-clarense mais ainda, a professora Marina Helena Lorenzo Fernandez Silva era considerada uma mulher à frente do seu tempo. Fundadora do Conservatório Estadual de Música sediado no município, morreu aos 98 anos no fim de semana, deixando um legado importante ao ter sua trajetória de vida entrelaçada à história das artes no Norte do Estado. 

O corpo foi cremado em Montes Claros. A missa de 7º dia será realizada no Rio de Janeiro, segundo informações da família. 

Filha do maestro Oscar Lorenzo, Marina nasceu no Rio, em 1926. Cresceu em um casa costumeiramente frequentada por ícones como Mario de Andrade, Manuel Bandeira e Arthur Villa Lobos. O que aprendeu com eles ou com as obras que deixaram, passou adiante, na formação de inúmeros artistas. 

Casada com o mineiro Joaquim Silva, mudou-se em 1947 para Montes Claros, onde as Festas de Agosto (quando grupos de congado, como catopês, caboclinhos e marujada rendem homenagens a ossa Senhora do Rosário, São Benedito e ao Divino Espírito Santo) a encantavam. Mãe de quatro filhos, tinha imenso talento ao piano. Com apoio da sociedade à época e de lideranças políticas, fundou o Conservatório Municipal de Música, que leva o nome do pai dela, alguns anos depois. Em 1962 o local foi estadualizado. 

Pelo Conservatório, ela é descrita como uma mulher que "vê perspectivas de mudanças no ser humano através das realizações artísticas" e também como alguém que realizava  "trabalhos maravilhosos e de grande valor” para Montes Claros, “criando sempre propostas de inovação e motivação através da arte".

Amor mais que declarado à MOC

Em várias entrevistas, dona Marina não escondeu seu amor por Montes Claros.  “Nasci no rio de janeiro, me naturalizei Mineira e meu coração está totalmente em Montes Claros, que amo de paixão. É uma gente boa, uma gente que compartilha o afeto. Um pedaço de sertão, mas um sertão vivo, forte”.

Para a reitora da Funorte, maior centro universitário do Norte de Minas, Raquel Muniz, dona Marina está eternizada na história da cidade. “Uma pioneira, uma visionária. Há quase 64 anos, inaugurou o Conservatório dos mais respeitados de Minas. Ajudou a divulgar para o resto do país, por meio de festivais, a nossa alma sertaneja”, pontuou. “Graças a ela, milhares e milhares de talentos foram descobertos e outros tantos aprimorados. Uma herança que atravessa gerações”, destaca Raquel, cujas netas estudam no Conservatório. “Quantas crianças, jovens e adultos teriam a oportunidade, ao longo dos anos, de ter acesso a tantas atividades artísticas se não fosse a semente que Marina Lorenzo Fernández plantou lá atrás?”.

Raquel Ulhôa, ex-aluna diretora do conservatório na década de 2000, destaca que dona Marina mudou definitivamente os rumos da cultura da cidade. “Ao contrário do que parecia, de ser apenas a música erudita, ela trouxe o acordeon, o violino, a viola, o violão popular, as artes plásticas, as línguas e se liga a todas as instituições que poderiam, de alguma forma, desenvolver e criar as condições para que a cidade desse aos seus artistas o acesso ao mundo e Brasil”, observa, acrescentando que, por meio de intercâmbios, dona Marina colocou a cidade no mapa dos produtores de cultura.

Das muitas homenagens que recebeu ao longo da vida, destaca-se a “Medalha Antônio Lafetá Rebello”, instituída em 2015 pelo então prefeito Ruy Muniz, que a entregou pessoalmente a comenda.

“Ela é uma das personagens mais importantes que contribuiu com o desenvolvimento da cidade como um todo, mas especialmente na arte e cultura. Formou gerações e gerações de artistas. Sistematizou a nossa cultura e nós todos devemos muito a ela. Merece todas as homenagens e reconhecimento”, ressaltou Muniz

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