Desrespeito à sinalização de trânsito, crescimento excessivo da frota de veículos, falta de verbas para obras complementares e desentendimento entre os órgãos responsáveis pela elaboração do projeto de melhoria da rodovia. Os entraves para a revitalização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte não são poucos e, ontem, motivaram mais um grave acidente. Na altura do bairro Betânia, Oeste da cidade, um dos trechos mais perigosos da via, uma carreta em alta velocidade atingiu 20 carros deixando feridas seis pessoas, duas delas em estado grave.
O episódio, que mais parece um filme já visto centenas de vezes pelos belo-horizontinos, reacende o debate sobre a urgência de uma intervenção definitiva no Anel. O trecho do último acidente – um declive seguido de estreitamento de pista – já foi apontado por especialistas como uma verdadeira armadilha para motoristas que não estão acostumados com a rodovia.
Quem presenciou o acontecimento conta que o susto foi grande. Com o impacto, os carros foram arrastados por vários metros. A psicóloga Neiva Costa Gonçalves, de 50 anos, viu de perto o que poderia ter sido um desastre.
“O trânsito estava parado, o que é bem normal no Anel Rodoviário, mas o caminhão veio na pista da direita, em alta velocidade, e saiu arrastando o que estava na frente. Abri para um Ônix entrar na pista, mas não deu tempo. O caminhão também o pegou. Foi carro voando por todo lado”.
Já o caminhoneiro Sérgio Henrique Veloso, que trabalha como motorista há 25 anos, disse que nunca viu acidente de tal proporção. “Eu estava parado. Mas um carro bateu forte na minha traseira e eu bati no carro da frente”, lamentou.
Para especialistas, uma solução permanente para o Anel Rodoviário está longe de ser encontrada. Engenheiro de transportes e professor da Fumec, Márcio Aguiar explica que fiscalizações pontuais podem minimizar o problema, mas não resolvem a situação.
“Todo esse problema ocorre porque temos um excesso de veículos em BH, e o Rodoanel (projeto de 66 quilômetros de extensão que tiraria o trânsito de caminhões do Anel e não tem previsão para sair do papel) não foi criado. Os acidentes, infelizmente, vão ser cada vez piores”, avalia Aguiar.
Imbróglio
Outro entrave é o impasse criado entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais (Setop-MG) a respeito do projeto de revitalização do Anel.
Em fevereiro, o Dnit informou que a proposta elaborada pelo órgão estadual não atendia aos parâmetros técnicos normativos para ser executada. A Setop classificou a ação como “intempestiva”, porque desconstruía o diálogo estabelecido entre os dois órgãos.
O prazo do convênio entre Dnit e Setop expirou e, hoje, um estudo de viabilidade técnica está sendo realizado pelo órgão federal para definir qual a melhor solução para o Anel Rodoviário. Não há previsão para conclusão do estudo.
Trecho do bairro Betânia coleciona acidentes graves
A tradição de acidentes com carretas no Anel Rodoviário já provocou verdadeiros desastres de trânsito que marcaram a história da rodovia. Na descida do bairro Betânia, região Oeste de Belo Horizonte, foram registradas tragédias que são relembradas a cada novo episódio envolvendo a imprudência de caminhoneiros que trafegam pelo trecho em uma velocidade superior ao permitido por lei.
Em janeiro de 2011, um acidente semelhante ao ocorrido na manhã de ontem deixou cinco mortos, dentre eles uma criança. Na ocasião, uma carreta que também seguia no sentido Vitória perdeu o controle na mesma descida, atingindo 14 veículos que ficaram completamente destruídos.
“Esse é um trecho com poucos acidentes. Mas, quando acontecem, envolvem veículos de carga e são mais graves. O problema é que existe um declive e logo depois um estreitamento de pista”, afirmou o tenente da Polícia Militar Rodoviária, responsável pelo trânsito no Anel, Pedro Henrique Barreiros.
Sufoco
Na manhã de ontem, a caminhonete do supervisor hidráulico Ivonésio Araújo foi atingida pelo caminhão desgovernado, rodou na pista e foi prensada por outros dois veículos. Logo após a batida, ele teve que correr para socorrer outro motorista, que estava em uma Hilux jogada para fora da pista principal e bateu forte na marginal.
Houve um princípio de incêndio e Ivonésio teve que agir rapidamente para tirar o condutor inconsciente da Hilux, que depois foi socorrido pelo Samu. O supervisor hidráulico reagiu com revolta à situação. “Falei para o motorista do caminhão que é uma grande irresponsabilidade andar por aqui em alta velocidade”, disse.Editoria de Arte