Rinite ‘ataca’ comportamento

Hiperatividade e desatenção estão associadas a obstrução nasal em crianças

Publicado em 28/08/2023 às 11:20.

Estudo coletou dados de dois grupos de crianças de 6 a 14 anos (Centro de Comunicação Social/Faculdade Medicina UFMF)

Nariz entupido e escorrendo, diminuição da capacidade de sentir cheiro, roncos noturnos e respiração pela boca. Esses são alguns sintomas que as crianças com rinite alérgica ou hipertrofia adenotonsilar (aumento anormal das amígdalas e da adenoide na garganta) podem apresentar. Pesquisa promovida na Faculdade de Medicina da UFMG analisou os efeitos das doenças na infância. O resultado indica que a dispersão da atenção, desregulação emocional e hiperatividade estão associados aos problemas respiratórios. 

O estudo, defendido pela pesquisadora Maíra Torres, coletou dados de dois grupos de crianças de 6 a 14 anos: os respiradores orais e os respiradores nasais. O primeiro apresentou resistência nasal aumentada causada por rinite alérgica ou hipertrofia adenotonsilar, ou mesmo dos dois diagnósticos.

Para Maíra, “o sono agitado e de pior qualidade seria o principal fator causador das alterações cognitivas e comportamentais”. A médica explica que por gerarem obstrução das vias aéreas superiores, principalmente durante o sono, a rinite alérgica e a hipertrofia adenotonsilar levam à fragmentação do sono, com despertares frequentes, e à redução da saturação de oxigênio no sangue, por reduzir o fluxo de ar para os pulmões. 

A rinite alérgica é uma doença inflamatória da mucosa nasal desencadeada por uma resposta de hipersensibilidade a aeroalérgenos presentes no ar, como pelos, fungos, ácaros e outras moléculas. Pessoas com mais sensibilidade possuem predisposição para uma reação mais exacerbada, desencadeando os sintomas que mencionamos anteriormente, acarretando uma série de impactos que podem acentuar outros problemas de saúde.

Percepção das famílias
Um dos questionários investigou aspectos como hiperatividade, impulsividade e desatenção, sintomas cardinais do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Outra avaliação aplicada analisa o relacionamento das crianças com colegas, a família e outras esferas de convivência social. Ambos foram respondidos pelos pais. 

“A precisão das respostas dos pais e as impressões dos cuidadores foram determinantes para a pesquisa, pois as avaliações apresentaram correlação importante com o desempenho comportamental e cognitivo”, destaca a otorrinolaringologista.

A pesquisa aconteceu no fim da pandemia, em 2022, e um fator importante para os resultados obtidos foi a aproximação das famílias em casa, o que permitiu que os pais pudessem observar o comportamento, o padrão de sono e o desenvolvimento de seus filhos. Crianças ansiosas, emocionalmente instáveis e agitadas passaram a manifestar esse comportamento com frequência em casa, fator intensificado devido ao isolamento como medida de prevenção à Covid. 

O convívio permitiu a construção de uma percepção aguçada das famílias sobre as habilidades e dificuldades das crianças. “A visão dos pais sobre seus filhos foi mais precisa para detecção de alteração cognitivas e comportamentais, do que avaliações pontuais aplicadas na pesquisa”, aponta a pesquisadora.

Minimizar a disfunção
A rinite alérgica e a hipertrofia adenotonsilar são muito prevalentes nas crianças. Apesar de a hipertrofia adenotonsilar ser mais valorizada por ter tratamento cirúrgico, a rinite alérgica mostrou ser tão prejudicial quanto a hipertrofia adenotonsilar. Isso aponta que a rinite alérgica não deve ser subvalorizada na prática clínica e que seu tratamento deve ser bem conduzido.

Os resultados da pesquisa contribuem para confirmar a hipótese de que a obstrução nasal crônica está associada a disfunção cognitiva e comportamental, mas também lança novos questionamentos e desafios para a pesquisadora. “Os próximos passos do estudo serão no sentido de identificar o que pode ser feito para reverter ou minimizar a disfunção cognitiva e comportamental nesse perfil de paciente e como dar mais qualidade de vida para essas crianças”, aponta Maíra Torres.

Texto extraído da Faculdade de Medicina da UFMG

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