Livro infantil de Ziraldo é banido de escolas públicas após pais 'enxergarem' incitação à violência
Prefeitura suspendeu uso de clássico da literatura na rede municipal; Executivo diz que decisão é temporária, e especialista critica "providência"
A Prefeitura de Conselheiro Lafaiete, na região Central de Minas, suspendeu o uso em escolas municipais do livro ''O Menino Marrom’’, de Ziraldo. A polêmica decisão repercutiu em todo o país. Além de ser considerado um clássico da literatura infantil e de levar a assinatura de um dos maiores autores brasileiros, o título, de 1986, foi banido devido à preocupação de "alguns pais" que viram no conteúdo "incitação à violência". Especialista rebate esse entendimento e diz que há uma "difilculdade de interpretação" por parte dos críticos.
A alegação dos pais é a de que o texto tem trechos "agressivos" e que poderiam "incitar a violência". Em nota, a Secretaria Municipal de Educação alegou que a medida é temporária e visa a "melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas". O livro trata da amizade entre dois meninos, um branco e um negro, pano de fundo para abordar questões como respeito às diferenças e igualdade.
Idealizadora do Clube de Leitura Quindim, grupo independente que busca levar literatura infantil de qualidade para famílias de todo o Brasil, Renata Nakano classifica a situação como uma "censura horrorosa".
“Vemos uma dificuldade de interpretação de alguns pais, o que é compreensível, se considerarmos que somos um país com um terço de pessoas analfabetas”, diz.
Para a especialista, ainda hoje há famílias com uma visão "tradicional" da infância segundo a qual crianças não têm capacidade de interpretar textos ou pensar por si. "O que é um pensamento defasado”, afirma.
Outro problema, aponta, está na incapacidade desses pais para lidar com o simbólico, levando para o lado da compreensão literal do texto. “O livro representa toda uma ideia e forma de ensinar. O problema é as pessoas interpretarem de forma literal e ainda tirarem de contexto, levando para um debate muito raso”, completa Renata.
Para a especialista, a situação não teria sido bem analisada pela prefeitura. “Muito me espanta a prefeitura tomar essa decisão sem sequer ler o livro. O que me parece é que decidiram sem se preocupar em entender. Se tivessem lido, teriam visto que os argumentos dos pais são facilmente debatidos e anulados. Com certeza não foi embasado pela área técnica de educação e literatura”, acredita.
Veja a nota da Prefeitura de Conselheiro Lafaiete:
(Prefeitura / Divulgação)
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