Mais da metade das crianças e adolescentes que jogam online interagem com desconhecidos
Em levantamento, 17% dos pais declararam que os filhos possuem perfil em sites de apostas esportivas e de cassino online
Os jogos online se consolidaram como parte da rotina de crianças e adolescentes no Brasil. Uma pesquisa confirma que pais e educadores têm motivos de sobra para se preocupar com o cenário. Dados mostram que 86% dos jovens no país jogam ou acessam jogos online e 74% fazem isso semanalmente, sendo que 55% deles mantêm contato com pessoas desconhecidas durante as partidas, conversando e interagindo.
O levantamento feito pelo Instituto Locomotiva a uma empresa de tecnologia (Unico) apresenta um panorama preocupante sobre a segurança digital desse público e aponta a necessidade de ações de letramento e educação digital para pais, educadores, crianças e adolescentes. “Vemos um cenário de alta exposição digital e vulnerabilidade de menores de idade, o que indica a necessidade de melhor orientação parental no ambiente online", reflete Felipe Magrim, diretor de Políticas Públicas da Unico. “É um alerta para pais e educadores, visto que a interação com desconhecidos em ambientes virtuais expõe crianças e adolescentes a diversos riscos, incluindo cyberbullying, assédio, fraudes e golpes", acrescenta.
Risco alto de perdas financeiros e impactos emocionais
Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, tanto a falta de supervisão e quanto de controles eficazes expõem menores de idade a inúmeros riscos, como perdas financeiras e impactos emocionais que afetam toda a família. "Os ambientes digitais estão moldando as novas gerações, mas também trazendo à tona desafios importantes”, pontua.
Segundo Meirelles, o levantamento revelou também que muitos adultos estão mergulhados nesse universo dos jogos em plataformas digitais: 78% dos pais afirmam jogar ou acessar games, sendo que 58% fazem isso semanalmente e 17% diariamente, “evidenciando a necessidade urgente de diálogo e conscientização nas famílias”.
“É preciso garantir que essa geração — e seus pais — naveguem na internet de forma segura e saudável, transformando o digital em uma ferramenta de crescimento, e não de vulnerabilidade", afirma.
Sites de apostas: cenário preocupante
Quando a pesquisa entra no contexto de sites de apostas esportivas, o cenário é ainda mais preocupante, considerando que 17% dos pais declaram que seus filhos de 7 a 17 anos possuem perfil nesses sites ou em plataformas de cassinos online.
As operadoras de apostas online já somam mais de 300 empresas no Brasil, segundo pesquisa da PwC (empresa especializada em serviços de auditoria, asseguração e consultoria, o número aumentou em 500% desde 2020, quando havia apenas 51 bets. Dados do Banco Central mostram que os brasileiros já desembolsaram, até o fim de setembro deste ano, uma média de R$ 2 bilhões por mês nas loterias tradicionais e R$ 21 bilhões nas casas de apostas online, número que pode ser muito maior, uma vez que essa quantia contabiliza apenas transferências via Pix. A instituição estima que o país tenha 24 milhões de apostadores por mês, o que significa 11,3% da população brasileira.
A pesquisa da Unico mostra que os jovens estão apostando ativamente nesses sites, com os principais meios de pagamento utilizados pelos filhos sendo Pix (63%), cartão de crédito (48%), cartão de débito (38%) e boleto (14%). Cerca de 13% dos pais nem ao menos sabem qual é esse método de pagamento utilizado por seus filhos nessas plataformas.
“A presença de crianças e adolescentes em sites de apostas esportivas é preocupante, por isso é necessário termos medidas mais robustas para proteger esse público vulnerável”, afirma Felipe Magrim. o diretor de Políticas Públicas da empresa. “A facilidade de acesso e o uso de métodos de pagamento, muitas vezes sem supervisão ou conhecimento dos pais, expõem os jovens a riscos financeiros e emocionais graves, além de possíveis fraudes”.
A lei 14.790/2023, que regulamentou as apostas online, obriga as empresas do setor a cumprirem uma série de requisitos para manterem suas atividades de forma regular e segura. Uma delas é a utilização de biometria facial para autenticar a identidade dos usuários, que visa barrar o acesso de pessoas proibidas por lei de jogar – incluindo menores de idade.
“A regulamentação permitirá um maior controle sobre as operações das casas de apostas, tornando este mercado mais seguro e transparente”, conclui Magrim.
Metodologia
A pesquisa foi realizada em duas etapas: a qualitativa, que entrevistou nove especialistas na temática de proteção de dados de crianças e adolescentes em ambientes digitais, e a quantitativa, que contou com a participação de 2.006 responsáveis por crianças e adolescentes em todo o Brasil. O levantamento ocorreu de 9 e 24 de outubro de 2024, com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
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