Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

A dor da traição

Publicado em 11/07/2024 às 06:00.

A dor da rejeição pode ser considerada uma dor universal - ninguém quer ser rejeitado, aliás, ao contrário, queremos ser aceitos e reconhecidos. 

Sentimos a dor da rejeição de maneiras diferentes e em várias situações da vida: quando não somos escolhidos, quando somos esquecidos, quando não somos incluídos, considerados ou em várias outras situações, mas uma em especial é talvez a maior delas: a traição. 

E não me refiro à definição clássica onde há a presença de uma terceira pessoa. A traição no amplo espectro da palavra vai muito além disso. Ocorre sempre que laços de confiança são quebrados, sejam eles em família, entre amigos ou na relação amorosa, afinal. Uma relação é um acordo de confiança, lealdade, respeito e ajuda mútua, portanto, tudo que viole este contrato pode constituir uma traição.

Descumprir um combinado pode ser um bom exemplo de quebra de confiança. Como diz o ditado: “o combinado não sai caro”. Sim, ninguém é obrigado a combinar, mas uma vez feito, é obrigado a cumprir e se nesse caminho houver mudança de plano, há sempre a necessidade de uma clara comunicação. Pessoas honestas quando percebem que não conseguirão cumprir o que prometeram tratam logo  de avisar isso a outra parte envolvida no intuito de causar menor dano possível. O combinado a dois não pode ser descombinado a um no intuito de atender um interesse individual. 

Outro tipo de traição e também de demonstração de um caráter duvidoso é quando usamos de uma informação confidenciada para manipular e levar vantagem com isso. Atacar a fragilidade de quem se abriu intimamente para fazê-lo se sentir culpado e com isso conseguir se favorecer de alguma forma, nem que seja tendo a sensação de superioridade. Quando convivemos com alguém abrimos nossa intimidade a ela e isso inclui mostrar nossos pontos fracos. Quando o par afetivo faz uso dessas informações para desqualificar e rebaixar o outro ele está usando da confiança íntima para agir em interesse próprio, uma forma perversa de trair. 

Não bastasse toda a vulnerabilidade de amar e confiar, os tempos modernos facilitaram as conexões entre as pessoas e nos trouxeram uma nova forma de trair: a virtual. Até algum tempo atrás não poderíamos sequer imaginar uma traição, de cunho sexual, sem a presença de uma terceira pessoa. Hoje isso é perfeitamente possível e tem destruído muitos casamentos. O sexo virtual pode ocorrer tanto entre pessoas que se conhecem quanto com aquelas que nunca se viram pessoalmente. O sexo virtual é uma prática cada vez mais comum, onde as pessoas se sentem menos culpadas uma vez que não estão tocando fisicamente na outra.

Mas, para configurar uma traição virtual, nem precisa chegar às vias de fato do sexo online. Basta existir o flerte, a paquera, a cantada que já pressupõe uma quebra de confiança além do desrespeito com o par afetivo, que nada sabe. Aliás, só de ser algo escondido já revela uma clandestinidade. 

E, por fim, a infidelidade clássica que ocorre de forma sexual e presencial, provocando uma das maiores dores. Quem descobre uma traição, além de degustar uma das piores dores, ainda tem sua autoestima completamente destruída. Essa traição pode ocorrer de duas maneiras: ocasional ou sentimental. A primeira é quando há um encontro fortuito, sem nenhum envolvimento afetivo. Estes casos, quando descobertos, geralmente são mais fáceis de perdoar.

Já na infidelidade sentimental, o dano é maior, pois há a presença de um vínculo afetivo, muitas vezes com pessoas conhecidas. A conduta da vida dupla, quando descoberta, faz um estrago, muitas vezes, irreversível, dificultando o resgate da confiança e da retomada da dinâmica familiar. 

O melhor é conseguir não fazer com o outro o que não gostaríamos que fizessem conosco, mas uma vez constatado o perdão é sempre possível. Contudo, vai depender muito mais da conduta comportamental daquele que traiu. Se este irá mudar ou não, não sabemos, somente o tempo dirá. 

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