Provavelmente você já deve ter ouvido alguém falar que "90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados”. Este dado equivocado e comercial vem à tona especialmente durante o “Setembro Amarelo”, mês dedicado à campanha de prevenção ao suicídio.
A Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio, Abrases (@abrases_br), diz que “a frase, repetida sem o devido contexto, cria uma falsa expectativa de que o suicídio é sempre evitável, o que não reflete a complexidade do problema. Ela também carrega o risco de culpar os familiares sobreviventes e os próprios profissionais por algo que muitas vezes está além de seu controle”.
Outra questão importante para se atentar com relação ao Setembro Amarelo é que muita gente, até mesmo querendo ajudar a difundir a campanha, acaba falando coisas que não ajudam muito, como afirma a psicóloga mineira Luciana Rocha (@luciana.psicologia). Ela diz que aquelas frases como “venha conversar comigo” ou “se você está sofrendo, me mande uma mensagem” são perigosas, por mais que sejam bem-intencionadas. Para que se possa lidar com a questão do suicídio, é preciso que se tenha conhecimento, ferramentas adequadas e preparo para lidar com tais situações.
Luciana é autora do livro “Nem covarde, nem herói: amor e recomeço diante de uma perda por suicídio”, que relata um caso real, acontecido em sua família, e que aborda conceitos e reflexões sobre o suicídio.
- Ele não quer me ver sofrer assim, né? Perguntou-me aquela mãe, destroçada pela perda do seu filho, referindo-se a Deus.
- Eu falhei como mãe e isso eu vou carregar pelo resto da vida. Tomara que não tenha outras vidas, porque eu não suportarei, disse-me aquela mulher.
Eu não sou especialista em mortes por suicídio, nem mesmo em saúde mental, por isso pedi que ela buscasse conversar com uma profissional que entenda do assunto, que lide com casos de sobreviventes enlutados pela morte através de suicídio, porque o que o filho dela estava passando não dependia do tanto de amor que ela tinha e o tanto de cuidado que ela dava. É muito mais complexo que isto e só numa terapia esses assuntos podem ser tratados com a importância que merece.
Tal qual se pode ter uma doença relacionada ao coração, e isso não desperta vergonha em ninguém, ou pode-se ter uma dor intensa nos pés, e isso eu não preciso esconder das pessoas e evitar a ajuda para não me expor, acontece o mesmo com o cérebro, que pode adoecer e precisa de tratamento. A psiquiatria e a psicologia foram, por muito tempo, associadas ao tratamento da loucura, de uma forma mais direta de se dizer. Isso afastou muita gente desses profissionais. Ao passo que as redes sociais ficaram cada vez mais acessíveis, conteúdos tóxicos e mentirosos se espalham, pessoas que se dizem conhecedoras de um assunto amealham a atenção de milhares de seguidores, que muitas vezes, por desconhecimento, acreditam no que qualquer um que diga, recebendo a validação porque o outro afirmou que fez um curso em uma famosa universidade ou deu entrevistas em tal programa. E, pior, porque tem inúmeros seguidores.
Isso aconteceu comigo. Eu saí da médica com o resultado de alteração dos colesteróis. Fui para a internet tentar achar a fórmula mágica e encontrei diversas. Eu testei uma delas até ver o depoimento de especialistas e entender que aquele suco manipulado que eu mesmo fiz não tem comprovação científica alguma.
Ter um amigo que vai te ouvir, chorar com você e te consolar é muito bom, mas ele pode te olhar com a piedade que você não precisa naquele momento. Busque a ajuda de um profissional, saiba quais redes sociais são sérias e não se envergonhe em precisar de ajuda.
Obs.: CVV - Centro de Valorização da Vida, ligações gratuitas para o 188.