Ao final das sessões de “Ponto a Ponto – 4.000 Milhas”, o ator Luiz Fernando Guimarães recebe os espectadores e, geralmente, ouve deles a necessidade de ligar para uma tia ou avó, despertada pela peça. “O público sai com essa motivação. A gente ficou numa pandemia em que todo mundo não se via, né? As pessoas perderam a memória do que foi ontem”, registra.

No espetáculo, que será apresentado neste sábado e domingo no Grande Teatro do Palácio das Artes, Guimarães interpreta uma senhorinha que vive sozinha na cidade grande, sem muito contato com o mundo exterior. Tudo muda quando o neto chega ao apartamento e vários temas e pontos de vista vêm à tona, transformando uma relação antes distanciada.

“Os cinco maridos se foram e ela tem uma experiência de vida que acha que é suficiente. Mas quando ela se dá conta, após a entrada daquele garoto sujando toda a casa, vai criando um afeto por ele. E ele vai criando um afeto por ela também. Aí a história vai se desenrolando para um outro caminho”, resume Guimarães, fazendo mistério sobre o desfecho.

Apesar de todas as discussões que “Ponto a Ponto” provoca, o trabalho do ator é um destaque à parte. Até porque é a primeira vez que um homem interpreta a nonagenária protagonista do texto de Amy Herzog, cuja primeira adaptação aconteceu em 2011, no circuito off-Broadway norte-americano, concorrendo ao prêmio Pulitzer dois anos depois. 

“Esse personagem até então só tinha sido feito por mulheres. E eu não me nego a nada, sabe? Eu acho que tudo pode ser uma descoberta, não digo que não sou capaz de fazer. Eu vou à luta e pronto, né? E busquei essa senhora nas minhas memórias afetivas, na minha mãe, na tia de um amigo e na minha avó”, destaca o ator, que já se vestiu de mulher em programas humorísticos.

Ele salienta que, ao mesmo tempo que não se trata de um homem vestido como mulher, não deixa de lado a sua personalidade. “Eu sou o filtro entre a velha e o público”, define Guimarães, que tem um carinho especial por Belo Horizonte, escolhida por ele para abrir a turnê após fazer temporada em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo,

“Todas as minhas peças passaram por Belo Horizonte. Eu considero que é um dos melhores públicos do Brasil. E não estou puxando o saco, não. Conheço BH como conheço o Rio de Janeiro. Você acha que as ruas são paralelas, mas acaba entrando em outro lugar, né? Elas têm nomes de índios e de estados, assim como em São Paulo”, compara.

SERVIÇO
”Ponto a Ponto - 4.000 Milhas” - Sábado, às 20h30, e domingo, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537). Ingressos entre R$ 75 e R$ 125, na bilheteria do teatro ou pela plataforma Eventim.

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