CINEMA

Filme de Marco Bellocchio aborda história real do mafioso Tommaso Buscetta, que viveu no Brasil

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
18/04/2022 às 09:13.
Atualizado em 18/04/2022 às 10:47
Filme tem a brasileira Maria Fernanda Cândido (a direita) no papel de esposa de Tommaso Buscetta (Pandora/Divulgação)

Filme tem a brasileira Maria Fernanda Cândido (a direita) no papel de esposa de Tommaso Buscetta (Pandora/Divulgação)

Há alguns ecos das tramas mafiosas de Martin Scorsese numa das mais recentes obras do diretor Marco Bellocchio, em cartaz nos cinemas. Em especial, na composição do protagonista Tommaso Buscetta, notório capo da Cosa Nostra que se refugiou no Brasil e foi extraditado, na década de 1990, como pilar do maior julgamento da história da Justiça italiana, responsável por colocar no banco dos réus mais de 300 nomes ligados à organização criminosa.

Buscetta acredita que a Máfia é boa, justa e familiar, mas que está se dilacerando devido à ampliação dos negócios, tema que percorre filmes como “Os Bons Companheiros” e “Cassino”, de Scorsese. A perda dessa beatitude, ainda que marcada por forte violência, é o motor do filme. Passado em grande parte num tribunal, a história aposta nessa régua histórica, com Buscetta representando a Cosa Nostra “ideal” e “nostálgica”.

Aos poucos, vamos compreendendo as intenções do personagem – ele não tem nada de ingênuo como parece, só aguardando o momento certo para surpreender o inimigo. Esse pensamento está evidenciado numa pequena história que percorre o filme, quando Buscetta recebe a tarefa de matar um homem e adia o seu cumprimento à espera do instante em que ele não estará ao lado do filho, o que acaba levando anos para acontecer.

Essa engenhosidade, porém, é absorvida de maneira frouxa por Bellocchio, que exibe uma direção mais tradicional, atentando-se em demasia aos fatos históricos, perdendo importantes deixas para uma aproximação maior com o personagem. O cineasta veterano toma uma decisão equivocada na sua relação com Buscetta: apesar de ocupar quase todas as cenas, mantém-se com ele um certo distanciamento.

Bellocchio talvez não queira glorificá-lo, mas essa falta de identificação é crucial para tornar “O Traidor” fastioso em vários instantes (o filme tem duração de 2h15). Outra escolha que contribui para a perda da força dramática é o tom, por vezes debochado, ao enfatizar as reações exageradas dos mafiosos presos. Como a violência promovida por eles não choca, tudo parece um grande circo midiático.

Se essa foi a crítica que Bellocchio embutiu no filme, ela surge mal desenvolvida. O Judiciário não é questionado em nenhum instante – a única exceção é o tratamento vip que Buscetta recebe do juiz Giovanni Falcone, visto como um grande paladino. O Traidor” se segura, no entanto, pelo ótimo trabalho do elenco – Pierfrancesco Favino está fascinante, com uma interpretação construída nas expressões faciais.

Leia mais

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por